Capítulo 5

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O chão gelado contra os meus pés quentes é uma sensação familiar de toda vez que acontece isso na minha casa. Não consigo mais ficar ouvindo a minha mãe gritar enquanto o meu pai a bate, a vontade é de ir lá e espancar ele até a sua morte. Como ele fez com a minha mãe. Tampo os meus ouvidos e espremo os olhos para tentar esquecer onde estou, tentar esquecer dos gritos da minha mãe que dá cada vez que meu pai a bate. A imagem do seu sorriso quando terminava de fazer biscoitos para o lanche da tarde depois da escola preenche a minha mente, o cheiro de biscoito com leite me dá água na boca, mas vai embora quando sinto dois braços me rodearem no chão no qual estou sentada, sem conseguir dormir. Até que vejo suas esmeraldas.

Harry.

O que ele está fazendo aqui?

-Está tudo bem. - sua voz é doce e leve. Não escuto mais gritos e nem mais nada, apenas a voz doce de Harry e observando suas esmeraldas cativantes, ele me aperta nos seus braços e fica repetindo a mesma frase várias vezes.

...

Minha manhã é tranquila, passei as últimas horas pensando no sonho que tive. Por quê o Harry estaria nele? Só sei que me sinto bem agora, não sei, tenho tido pesadelos assim faz tempo, só não entendo o porquê do Harry estar lá. Talvez seja besteira.

-Elena. - ouço meu pai me chamar e ignoro. Ele aparece na porta do meu quarto. -De quem é aquele carro na garagem?

-De ninguém. - volto a minha atenção para o celular.

-Você roubou? Já disse que não quero ter que pagar outra finança pelas suas merdas, será que você não entende que eu cansei disso, cansei de você, ter que cuidar de você e do Niall é muito... - interrompo.

-Dá pra calar a porra da boca? - grito.

-Você não tem o direito de falar assim comigo garota. - ele caminha até mim e me encolho na cama. Sei que ele vai me bater. Sinto sua mão se conectar com a minha bochecha fortemente.
Cubro minha cabeça com os braços, sentindo ele me esmurrar.

Dói.

Por quê ainda ligo? Por quê eu ainda estou aqui? Depois de tudo que ele fez comigo, ainda estou dentro do meu quarto, esperando para ser espancada novamente, como aconteceu com a minha mãe, ele nunca desistia, até que um dia morreu, de tanto ser espancada pelo meu pai bêbado.

Ele sai do quarto batendo a porta, sinto meu rosto arder, principalmente o lábio inferior. Me levanto gemendo de dor e vou até o espelho. A aparência é horrível, sai um pouco de sangue no canto da boca. Ainda bem que não deixou nada roxo, não quero ficar explicando nada pra ninguém. Quero que ele morra, não importa quantas vezes ele me bate eu ainda venho no espelho como minha mãe fazia, e me olho desprezando o que vejo. Eu sei que o problema sou eu, eu que provoco tudo isso, mas quero que ele morra, mesmo sabendo que isso é a minha culpa.

-Elly. - meu irmão entra no quarto e caminha até mim, acariciando minha cabeça gentilmente. Ele sabe que meu pai me bate, mas não sabe dos abusos e é melhor que não saiba. -Eu sinto muito... - sussurra.

-Nunca vai mudar Niall, sempre vai ser assim enquanto eu viver, eu não sirvo para nada nessa vida, só pra apanhar. - cuspo as palavras.

-Não diz isso, se você só serve pra apanhar, eu também só sirvo pra isso. - sento na cama. -Aquele carro na garagem é do Harry? - ele se senta ao meu lado.

-É. - Niall me olha confuso. -Ele me emprestou pra voltar pra casa.

-Ele te emprestou um carro? - me pergunta não acreditando. Aceno com a cabeça. -O Harry deve ser louco de confiar em você. - bato-lhe no ombro rindo.

-Em falar nisso, preciso devolver. - digo levantando. Agarro no meu casaco e coturnos pretos, calço em segundos e vou para a garagem. Ouço algumas vozes altas e passos vindo para a garagem. Entram Louis, Zayn e Niall.

-Elena, cadê as balas? - Louis entra caminhando para mim dizendo rudemente.

-Por quê você quer agora? A polícia não estava atrás de você? - guardo as chaves do carro dentro do meu bolso da calça jeans.

-E o que te importa? As balas são minhas mesmo.

-Não era eu que estava dias atrás, desesperado para guardar as balas preciosas. - os meninos riem e Louis me olha bufando.

-Mas agora eu preciso delas. - atravesso o pequeno espaço e agarro nas caixas que guardei as balas. Coloco no colo de Louis e ele abre, analisando o conteúdo. Quando pego na chave no meu bolso, Louis dá alguns passos na minha direção.

-Cadê o resto Elly? - ele diz com a voz alterada. Resto?

-Conta direito. - faço sinal com a caixa e ele me entrega.

-Conta você, tinha mais de cinquenta balas ai. - pego a caixa e ponho-a no chão, contando as balas.

-Está tudo aqui Louis, todas as cin... - paro quando percebo que nem a metade das balas estão aqui. Mas que porra. -Eu... - sinto Louis me empurrar com força contra o chão e um gemido sai pelo meus lábios.

-Tá ficando louco? Ela é minha irmã. - Niall entra na frente dele para impedí-lo de me bater.

-Cala a boca Niall. - grita Louis.

-Você não vai tocar um dedo nela. - cospe meu irmão. Me levanto do chão rapidamente e entro no meio dos dois.

-Eu não peguei a merda das suas balas, pergunta pro seu amiguinho Zayn, deve estar no estômago dele agora. - digo seriamente para o Louis. Ele olha para o Zayn atrás dele e respira fundo.

-Vai acreditar nessa vadia Louis?- diz Zayn apontando o dedo na minha cara.

-Então vem otário, me bate, quero ver você me bater. - Louis dá alguns passos na minha direção e pega a caixa ao lado do meu pé.

-Isso não vai ficar assim. A gente ainda se vê Elena. - diz Louis. Ele atira a caixa contra o vidro do carro do Harry quebrando em pedacinhos, olho para ele como se aquilo não adiantasse nada, mas no fundo, não faço idéia como explicar aquilo para o Harry.

Droga.

Deixo um longo suspiro sair pelos meus lábios, quando ele sai da garagem. Não que eu tenha medo deles, já vi ele bater em mulher, mas não me impressionou, ele às vezes me assusta, seu jeito marrento e bruto de ser, nem sei porquê já fiquei com esse cara.

-Acho que o Zayn que pegou as balas.

-Você acha? Eu tenho certeza.

Droga. Agora tenho que consertar esse vidro, ou talvez só deixava o carro dele na calçada em frente a casa, isso seria divertido, queria ver a cara dele quando visse o carro sem a janela.

Não.

Não vou fazer isso, ele me emprestou o carro, seria chato da minha parte fazer isso, mas ele pode pagar outro, ele é rico. É, vou fazer isso.

ELENA | H.S fanfiction |Onde histórias criam vida. Descubra agora