Capítulo 18

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Aquelas palavras fizeram todo o ar dos meus pulmões desaparecerem e todos os meus sentidos se contorcerem, minha boca fica seca e sinto minhas mãos congelarem mesmo no calor dessa noite de Los Angeles. Aquele garoto que adorava puxar meu cabelo por diversão, quando chegávamos da escola, e pegávamos a bike do vizinho e íamos roubar balas, aquele garoto que sempre me acolhia depois que meu pai me batia, aquele garoto que deixei a uma hora trás, seus abraços, seus beijos na minha testa. Será que ele realmente morreu? Será que nunca mais vou sentir seus beijos acolhedores? Aqueles beijos que me faziam dormir, será que nunca mais vou sentí-los?

-O que? - repito a pergunta e escuto a respiração forte do Luke do outro lado da linha.

-Eu sinto muito Elly. Aconteceu faz poucos minutos. - diz e ouço-o soluçar.
-Onde você está? - finalmente consigo dizer outra coisa além de "o quê".

-No hospital San Diego. - desligo e respiro fundo. Não. Isso não pode estar acontecendo. É impossível. Corro para dentro do restaurante e quando chego na ponta da mesa das garotas, ganho a atenção de todas.

-O que aconteceu? - Thery pergunta e se levanta.

-Me dá as suas chaves. - estendo a mão mas ela não copera. Juro que se ela não me der, eu vou voar nos seus cabelos perfeitos e negros.

-Tudo bem. - ela simplesmente me joga as chaves e essa garota ganhou meu respeito. Agarro nas chaves e corro até o estacionamento procurando o Corolla prata da Thery. Dirijo rapidamente para o hospital, segurando as minhas lágrimas. Não, ele não morreu, o Luke deve ter inventado isso ou sei lá, mas eu sei que ele não está morto.

-Elly. - Luke me grita quando entro no hospital mas ignoro. Passo por uma porta e ouço pessoas falarem que não é permitida a entrada. Que se foda. Quero ver o meu irmão. Finalmente vejo uma porta com o nome Niall Horan na parede e abro rapidamente. O quarto está vazio. -Elena vamos sair daqui. - Luke agarra no meu braço mas puxo.

-Me solta. - grito e ele tenta me puxar de novo mas meto um murro no rosto dele. -Cadê o Niall? Huh? - grito mas ele só passa a mão no lugar onde dei um murro.

-Eu preciso que você fique calma.

-Calma o cacete. CADÊ O MEU IRMÃO? - dois seguranças altos entram na sala e cada um agarra-nos pelo braço. Tento fazer com que eles me soltem, dando murros e pontapés, mas é impossível. Acabamos por parar numa pequena sala branca e um homem entra pela porta, ele usa jaleco e tem os cabelos grisalhos.

-Hey Elena, bom te ver de novo aqui. - diz. Lembro-me da voz que ouvi da última vez que vim parar aqui, então foi esse o cara que salvou a vida, quando na verdade eu queria me matar. Percebo o olhar confuso de Luke. -Eu cuidei do caso do seu irmão, e eu sinto muito, não podemos fazer nada. Niall estava numa perseguição contra a polícia, mas acabou batendo num porte. Se ele tivesse usado o cinto de segurança, ele estava vivo agora, mas como não... - abafo meu soluço com as mãos.

Não. Isso não.

-Cadê meu irmão? Ele está bem não está? - dou alguns passos a frente do doutor. -Eu quero falar com ele.

-Elena, ele morreu. - diz com a toda calma do mundo. Quero pular nesse cara para ele me falar onde está o meu irmão.

-Cala a merda da boca e me fala onde está ele. - grito. Luke me segura para que eu não voe nesse filho da puta. Ele não pode ter morrido, não, é impossível. Eu não posso acreditar que isso aconteceu. É mentira.

-Fique calma... - pego pela gola dele e atiro-o contra a parede . Sinto as mãos dos seguranças nos meus braços e eles me tiram dali me levando até do lado de fora do hospital. Luke me abraça quando os seguranças vão embora e acabo por desmoronar.

Se fosse escrever algo sobre cada pessoa que perco nessa merda de vida, as folhas estariam em lágrimas, principalmente a do meu irmão, foram vinte anos com uma pessoa, sabe o que é isso? Não, as pessoas nunca vão saber como eu me sinto, vinte anos eu passei ao lado dele, mesmo nas brigas, eu nunca disse um "Eu te amo" porquê sou uma pessoa horrível, eu o matei, se eu tivesse ficado naquela merda de casa, ele estaria vivo agora, mas não. Como sempre eu fui a estúpida de sempre, agora ele deve estar com o seu corpo gelado dentro de uma gaveta feita de ferro, dentro desse hospital, mesmo ele não estar me ouvindo, eu queria ter uma chance de te dizer, que foi o meu parceiro nas piores horas, Niall foi o único que não me impedia de fazer as coisas que gosto, mesmo eu estando errada, ele deixava eu agir, para depois ir te pedir desculpa. Nunca ninguém vai entender como eu sou, nunca ninguém vai saber o que eu passei, apenas ele, ele era o único que me conhecia de verdade e agora ele está morto, por minha causa.

-Não faça nenhuma besteira Elly. - Luke sussurra no meu cabelo.

-Não me mande o que fazer. - afasto. Vejo o doutor caminhar até nós e mantenho um olhar frio pousado nele.

-Eu queria pedir desculpas. - o doutor diz. -Deixarei você ver o corpo de seu irmão, mas apenas você. -Luke manda um olhar simpático pra mim e sigo o homem de jaleco a minha frente.

A sala é gelada e cubro meus braços com as mãos, há várias gavetas de ferro, achei que ficaríamos naquela sala, mas entramos em outra, agora menos quente. Há uma cama de ferro, vejo um homem sentado de costas para nós, ele faz alguma coisa.

-Você não queria ver o seu irmão? Aqui está ele. - ele aponta para o homem e me aproximo. Seu corpo pálido está cobrido por um pano branco e fino, tento segurar as lágrimas, mas ali está ele, a horas atrás, ele estava me abraçando, agora, seu corpo pálido e gélido em cima de uma maca de ferro. Não sei se pulo em cima do seu corpo e abraço-o, mas não sei se devo. O homem estava limpando seu corpo com um pano, mas logo deixa a sala com o doutor.

Sento no banco onde o homem estava, e toco a sua pele.

-Oi. - digo simplesmente. Por um momento eu penso que ele vai me responder, mas não, seus olhos permanecem fechados e a boca seca. -Desculpa. - pego sua mão e posiciono-a no meu coração. -Eu queria que você soubesse, mas nunca que eu ia imaginar que você ia morrer. - choro em sua mão. -Lembra quando a mamãe morreu? É claro que lembra. - sorrio. -Eu não parava de chorar, mas você me abraçou e disse no meu ouvido que ia cuidar de mim, você tinha apenas cinco anos e disse isso. - trago a sua mão até a minha boca e beijo-a várias vezes. -Niall, desculpa por não ter ficado naquela casa, desculpa, mas eu queria te pedir obrigada por tudo que fez, sei que sou a irmã difícil de se lidar, mas saiba que eu não substituiria você por mais ninguém. Lembra quando você disse que queria ser o super man e subiu no telhado querendo voar? Você não é o super man, mas é um herói pra mim, sempre foi, o herói que cuidou de mim melhor do que ninguém, me ensinou a te amar.

Beijo-o na testa.

-Eu te amo Niall e obrigada por ser irmão.



ELENA | H.S fanfiction |Onde histórias criam vida. Descubra agora