Capítulo O5

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Alfonso resolveu aproveitar o tempo livre para checar seus e-mails e enfim assinar alguns prontuários que há tempos enrolava para terminar. Olhou na direção da porta ao escutar alguém abri-la, e viu a filha caminhar até a mesa pé ante pé.

Giovanna: Papai, o que "cê" tá fazendo aí? - já pronta para dormir e com uma pantufa de vaquinha andou até a cadeira do pai no enorme escritório.

Alfonso: Estou trabalhando meu amor - sem tirar os olhos do computador - E você? O que faz aqui? - olhou o relógio - Se não me engano é a hora do seu desenho preferido não? - continuou a digitar.

Giovanna: Uhum... - sem dar muita importância, deu a volta na mesa e se pôs nas pontas dos pés tentando ver algo de interessante nos afazeres de Poncho.

Alfonso: Gi, está me atrapalhando - irritando-se - Onde está sua mãe? - aumentou a voz para que a esposa pudesse escutá-lo - ANAHÍ!

Giovanna: Xiu! - disse com o dedinho em frente à boca - A mamãe deitou e bem dormiu, não quero ver desenho sozinha papai.

Alfonso respirou fundo, como queria um minuto de paz, não conseguia nunca. Se não era Anahí lhe fazendo cobranças e reclamações, era Giovanna querendo colo, querendo brincar, querendo atenção. Estava a ponto de explodir! Com Camila era tudo tão tranquilo, ela estava sempre de bom humor, sempre disposta a deixá-lo satisfeito, não havia cobranças e nem bonecas espalhadas por sua casa.

Alfonso: Não posso ver com você agora Giovanna, olhe isso - mostrou a montanha de papéis que estava em cima da mesa.

Giovanna: O que é isso aí? - perguntou curiosa, sem entender a grande importância que o pai dava para o papel semelhante ao dos desenhos que deixavam as tias tão felizes.

Alfonso: São prontuários, prontuários médicos. E eu preciso assinar todos, bem aqui - mostrou a linha pontilhada ao fim da folha - preciso pegar isso aqui - pegou seu carimbo e o carimbou em cima da linha - e isso - com a caneta fez sua assinatura - e preciso fazer em todos esses - olhou a filha - Viu como não posso ver desenho? Estou ocupado. Agora saia, vá chamar sua mãe.

Giovanna saiu do escritório pensativa. Se o pai precisava acabar com aquilo logo para brincar com ela, nada mais justo do que ela o ajudar. E sorrindo sapeca foi para seu quarto. Vendo a menina sair, Poncho pegou o celular e fez uma ligação. Estava estressado, exausto, precisava relaxar.

Alfonso: Oi amor - sorrio escutando a voz de Camila - Estou aqui trabalhando, mas não consigo me concentrar.

Camila: Não bebê? E o que está esperando para correr pra cá?

Alfonso: Estava pensando em passar aí no seu apartamento mesmo. Uma pizza, um vinho... Quem sabe...

Após desligar o telefone, tomou um banho e se trocou. Passaria a noite com Camila, e nem teria que dar explicações para Anahí, já que ela estava no mais profundo sono. Passou seu perfume e saiu do quarto, viu a filha deitada em seu delicado quarto rosa. Sabia que tinha sido frio com ela, e que lhe devia atenção nos últimos dias, mas andava sem paciência. Saiu as pressas de casa e seguiu rumo a casa da amante. Comeram, beberam vinho e namoraram. Até que o celular de Poncho começou a tocar insistentemente

Camila: É ela? - sentou na cama puxando o lençol para cobrir os seios.

Alfonso: É... Sai de casa sem avisar, preciso voltar - ignorou a ligação de Anahí e virou para selar os lábios com a loira - Amanhã te vejo no hospital, e precisamos conversar. Temos que ser mais discretos, Ucker ta sabendo de tudo - passou a mão pelo cabelo lembrando da conversa do amigo - Anahí voltará a trabalhar lá.

Camila: Ai bebê, você precisa logo pedir o divórcio! - olhava ele se arrumar para ir - Está ouvindo? Não vou ficar saindo escondido com você, pra depois voltar pra cama dela Poncho!

Alfonso: Mila, eu vou pedir. Só preciso de mais um tempo, tem minha filha. Eu não posso sair de casa assim - deu lhe um beijo na testa - Te amo linda, até amanhã - guardou o celular no bolso e saiu.

Durante o trajeto para casa, foi pensando no que estava fazendo. Apesar de não amar mais Anahí, não tinha coragem de abandoná-la, mas também não queria perder Camila. Estava confuso. Deu voltas com o carro até conseguir esfriar a cabeça, quando chegou em sua casa a mulher estava sentada no sofá da sala, mexendo no cabelo da filha que tinha a cabeça deitada em sua perna.

Alfonso: Não consegui atender, estava caminhando, o que queria? - seria ignorado completamente se não fosse a filha tirar os olhos da TV por um instante e sorrir meiga para ele, decidiu não insistir em uma resposta, foi direto pro quarto, precisava tirar o cheiro de Camila do seu corpo. Tomou banho, vestiu um shorts de dormir e resolveu terminar logo o que enrolava desde o início da semana.

Ao abrir a porta do escritório quase caiu pra trás, no enorme tapete persa haviam folhas esparramadas se misturando com canetinhas coloridas e lápis de cor, dezenas deles. Giovanna não aprendia, sabia que ali era o local que ele trabalhava quando estava longe do hospital, da primeira vez em que a menina fez do escritório a casa de sua boneca, ele resolveu quebrar a parede que dividia o quarto da filha, com outro que estava sem utilidade, ampliou o espaço fazendo um quarto apenas para brincar. E agora isso. Onde estava Anahí que não teria visto a menina levar tantas folhas para desenhar. Notou então que além de canetinhas e lápis, havia também carimbos. Não era possível, olhou desesperadamente para sua mesa e não encontrou sua pilha de papel.

Alfonso: Não... Não pode ser - deu passos largos até o meio do enorme tapete. E era. Droga - GIOVANNA! VENHA AQUI, VENHA AGORA! - a raiva o invadiu em cheio, pegava as folhas e olhava cada uma delas tentando encontrar pelo menos alguma salva. Mas nada disso, todas continham carimbos de estrelas e corações, de cores rosa e lilás, e por cima deles um rabisco, cada folha com um rabisco de cor diferente. Não estava acreditando no que via.

Anahí estranhou o modo que o marido chamou pela filha, e resolveu ir até lá ver o que estava acontecendo. Giovanna estava com os olhos bem abertos, se assustou com o grito do pai.

Anahí: Por que está gritando? - aproximou-se até o tapete e teve a mesma reação de susto quando viu toda aquela bagunça.

Alfonso: Anahí me diz, o que estava fazendo que não viu a Giovanna causar tudo isso? - a encarou.

Anahí: Peguei no sono, não sabia que você ia sair! - começou a se exaltar também, sabia que ele jogaria toda a culpa nela, sempre que a filha aprontava alguma coisa, ele jogava na cara dela que não tinha nada para fazer além de cuidar da filha, e a única coisa que fazia na vida, fazia mal.

Alfonso: Merda, sabe quanto trabalho deu para finalizar tudo isso? Só faltavam as assinaturas.

Anahí: Venha cá - disse ao ver a filha parada na porta, assustada ainda com a reação do pai. Annie se abaixou e estendeu uma mão para passar segurança a filha - Vem aqui Gi.

Alfonso: Você está de castigo ouviu? - olhou a filha se aproximar da mãe - Nada de desenho.

Anahí: Porque fez isso filha? Não pode pegar as coisas do trabalho do seu pai meu amor, tem seus brinquedos - ignorando o castigo que Poncho impunha na filha.

Giovanna: Desculpa papai - balbuciou de cabeça baixa com a voz em um sussurro de choro. Estava parada em frente a mãe - Eu só queria te ajudar, porque você não tem tempo para ficar comigo. E eu fiz do jeito que você me ensinou.

Depois de escutar a explicação da filha Poncho não conseguiu mais brigar, só pediu que não fizesse mais isso, e que só entrasse ali quando ele ou a mãe estivesse junto. Teria que passar agora o domingo em casa, mentiu para a esposa que faria plantão para poder pegar Camila assim que o plantão dela acabasse, e juntos ficariam. Mas com tudo isso, teria que refazer todos os prontuários e não teria tempo para mais nada. E foi assim, passou o domingo inteiro carimbando e assinando folhas. Anahí e Giovanna foram no shopping procurar o tênis que a menina tanto queria, voltaram com o tênis, chinelo, toalha e até um edredom das monstrinhas.

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