Naqueles tempos de subúrbio, 2005.
Todos estavam na festa de formatura.
E todos, sem exceções, estavam em ritmo de comemoração. Dos alunos mais populares até os mais reclusos da turma unidos, lindamente, fazendo um brinde ao futuro aos novos caminhos que iriam percorrer agora separados, longe da sala de aula que até então compartilharam a vida toda. Tudo muito comovente.
O estardalhaço de copos se chocando durou mais do que o normal e quando cessou, Oliver deu um longo gole na imitação de champanhe borbulhante. Esperava mais do que muita bebida daquela festa, esperava também uma noite com Heloísa. Aquilo sim seria uma celebração.
E uma em grande estilo, pois Heloísa sempre foi o alvo de desejo de toda a comunidade masculina da escola. Bem como de algumas da ala feminina também. Até porque, com aqueles cabelos longos, ruivos, que deveriam gastar pelo menos três tubos de tinta para cair luminoso em mechas onduladas até a cintura, não era difícil desvendar a razão pela qual ela tinha tanta gente aos seus pés.
Mas parecia que o alvo do desejo de todo mundo tinha hoje como alvo do seu próprio desejo, ele, Oliver Timber. Quem diria!
Ou pelo menos era isso que ela dava a entender, de um jeito bem descarado, olhando para ele enquanto virava outra taça de conteúdo extremamente alcoólico para tornar a encher a taça mais uma vez. Segundo a interpretação do próprio Oliver sobre linguagem das meninas, não haveria escapatória para ele. E a melhor parte aquilo era que ele não estava nem um pouco interessado em escapar.
***
Três horas se passaram naquela festa e muita coisa já tinha acontecido. Foi o tempo suficiente para Oliver constatar que uma noite com Heloísa era pedir demais. Não que ele estivesse enganado, ele realmente foi seu alvo do seu desejo, mas isso não significava que era o único. Foram lhe concedidos quarenta e cinco minutos no banheiro feminino, que apesar de rápidos, não tinha do que reclamar, todos muito bem aproveitados, até a última gota.
Ao fechar o zíper da calça e vê-la sair da cabine ajeitando o pouco tecido do vestido para voltar a cobrir partes das suas curvas, Oliver foi invadido por uma sensação de satisfação, quase de dever cumprido. Encostou-se à parede enquanto ainda desfrutava daquela sensação que corria de leve em suas veias.
Que pena que seu deleite não pode ser tão bem aproveitado quanto o esperado, havia uma conversa na porta do banheiro que desviou sua atenção.
- Perdão! Não quis esbarrar em você. Só estava muito ansiosa para chegar ao banheiro e... Bem, você sabe se está ocupado?
- O banheiro? – perguntou Heloísa se divertindo em ver uma menina tão controlada como aquela perdendo a compostura por uma simples vontade de ir ao banheiro, algo tão trivial.
- Sim, sim, por favor, me diga, está livre? – implorou a menina enquanto retorcia as mãos em numa tentativa vã de se conter.
- Sarah Atteli embriagada, esse é o tipo de coisa que só se vê na formatura! – disse Heloísa com um sorriso zombeteiro.
- N-não estou bêbada! Só tomei um pouco mais de espumante do que estou acostumada.
- Fala como se já tivesse tomado espumante na vida!
- Heloísa, por favor, me deixe passar, realmente estou precisando usar o banheiro, tipo, de verdade – disse Sarah enquanto afastava a menina com o braço numa atitude completamente fora de sua natureza.
Sarah Atteli entrou banheiro adentro. Oliver ainda continuava na cabine, podia ver a silhueta dela através da porta semitransparente, lavando as mãos e murmurando alguma espécie de autorepreensão.
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O mundo dá voltas
Chick-LitSarah Atteli está de bem com a vida. Dona do seu nariz, dona da sua pequena empresa, dona do seu corpo. E é assim que ela pretende permanecer. Não é nenhum Oliver Timber querendo uma vaga de emprego na Atteli Comunicações que vai mudar alguma coisa...