Jantamos tranquilamente e meus pais se despediram de mim. Eles viajariam de madrugada e já estavam indo para o aeroporto. Desculparam-se mais uma vez por estarem indo viajar e minha mãe me deu o cartão de crédito para fazer mercado e outras coisas que eu precisasse.
– Tem certeza de que ficará bem, filha? – minha mãe colocou as duas mãos de cada lado do meu rosto.
– Vou sim, mãe – sorri timidamente.
– Qualquer coisa nos ligue, Roxy – meu pai falou já levando as malas para o elevador. – Vamos, Rita, não quero me atrasar de novo.
Minha mãe revirou os olhos e eu ri com ela. Ela passou a mão em meus cabelos mais uma vez e sorriu orgulhosa.
– Não se esqueça de escovar os dentes antes de tomar café e comprei mais chá enquanto você estava no playground – ela riu quando eu a dirigi um olhar cansado. – Eu não teria que falar isso se você lembrasse mocinha.
– Ah, Roxy, não passe muito tempo naquele playground, parece que vai esfriar e não quero que fique doente, sim? – meu pai falou e me deu um beijo na testa. – Trate de fazer logo as pazes com Sara.
Ao escutar o nome dela eu devo ter fechado a cara, porque minha mãe o cutucou nas costelas e logo em seguida me deu um beijo.
– Faça as coisas no seu tempo, Roxy. Estaremos de volta uma ou duas semanas depois do inicio das aulas e faça-me o favor de entrar no Skype, assim poderemos conversar!
Eu concordei com tudo o que ela disse e pensei que eu realmente tinha os melhores pais do mundo. Ajudei-os a colocar o resto das malas no elevador e desci com eles indo até a portaria. Ao ver o antigo editor deles, um senhor gordo com sorriso simpático que atendia pelo nome de Daniel, eu acenei.
– Tudo em cima, Roxy? – ele gritou do carro e eu assenti com a cabeça. - Adorei o novo corte!
– Fui eu quem fiz! – minha mãe deu um gritinho animado e Daniel me olhou com pena.
– Ela te amarrou na cadeira?
– Daniel! – minha mãe deu um soco de leve no braço dele e entrou no carro.
– Bom, até mais, Roxy! – ele acenou e eu acenei de volta.
Entraram no carro e os observei sair. Com um suspiro voltei para o apartamento e dei uma "boa noite" para o porteiro. Já no caminho do elevador encontrei William e a garota do último andar subindo do subsolo. Não aguentei e dei um risinho enquanto ela ficava vermelha.
– Uh... Roxy? Esta aqui é Ana – ele apontou para ela e não pude deixar de achar seu nervosismo engraçado.
– Olá, Ana – eu sorri educadamente e ela sorriu de volta.
– É a filha dos escritores, então? – ela ainda estava vermelha, mas mais tranquila. – Já li um ou dois livros da sua mãe, são muito bons!
– Tenho certeza de que ela ficaria muito feliz se dissesse isso a ela – eu sorri e ela meio sem graça assentiu com a cabeça. Meu andar chegou e assim que pisei fora e vi que ele não desceu eu sorri abertamente acenando para eles. – Tenham uma ótima noite.
Ana ficou vermelha e William arregalou os olhos com surpresa. Era bom fazer isso de vez em quando, sabe? Deixar as pessoas sem graça ao perceberem que você nota as coisas que acontecem entre elas. Admito que eu acho divertido... eu e Sara fazíamos muito isso.
Suspirei.
Lá estava ela de novo em meus pensamentos. Disse a mim mesma que deixaria aquilo estar por enquanto. Não faria nenhuma diferença ficar me martirizando sobre tudo que lembra ela. Eu enlouqueceria daquele jeito. Com mais um suspiro adentrei o apartamento acenando com a cabeça quando a vizinha saiu de seu próprio.
Fiquei feliz que já tínhamos jantado e ponderei se deveria tomar outro banho e acabei decidindo que sim, mas sem lavar o cabelo. Estava tarde, afinal. Fui rápida no banho e quando sai meus olhos pesaram um pouco. Dirigi-me para a cozinha, preparei um chá de frutas vermelhas e o levei para o quarto.
Fechei a porta e liguei meu laptop o colocando sobre a escrivaninha. Abri no site em que assinávamos para assistir filmes e movi a escrivaninha um pouco para que eu pudesse assistir sentada da cama. Vi um filme e mais três episódios de uma série nova que era produção deles.
Ao ver que já passara da meia noite, resolvi dormir. Desliguei o laptop e a luz, colocando o celular para tocar música num volume baixo e sem fone mesmo. Acho que dormi sem demora e, por consequência de ter ido dormir àquela hora, eram dez da manhã quando acordei no dia seguinte.
Respirei cansada e bem na hora meu celular começou a tocar. O número era novamente desconhecido, mas resolvi atender esperando que fosse algo importante. Talvez meus pais.
– Alô – minha voz estava bem grogue de sono.
– Juliana?
- Quem? – franzi a testa. – Não tem nenhuma Juliana aqui não, senhor.
- Como assim?! Juliana me deu esse telefone.
– Sinto te decepcionar senhor, mas a tal da Juliana te enganou.
– Puta merda! – ele gritou tão alto que tive que afastar o telefone. – Mãe! A Juliana me deu o telefone errado!
Mãe? A voz era de um senhor muito velho. De qualquer jeito, ele pediu desculpas e desligou puto da vida. Suspirei e foi a minha vez de ficar puta da vida. São dez horas da manhã, o cara liga perguntando por tal de Juliana e ainda grita no meu ouvido!
Joguei o celular na gaveta da escrivaninha de frustração e por não poder jogá-lo no chão. Sinceramente, eu não queria dar ao meu pai mais um motivo para achar que é tudo culpa do meu temperamento.
Bom.
É tudo culpa do meu temperamento, mas não gostava de ouvir isso saindo da boca dele. Além de que admito que fiquei chateada com aquilo já que ele acabou brigando com a minha mãe. Levantei-me da cama pensando nisso e estralei minhas costas.
Abri a janela e no mesmo momento a fechei. Estava um frio de lascar lá fora e eu não estava preparada para aquilo. Odeio como o tempo muda tão repentinamente, mas amo quando está frio. Abri a porta do guarda-roupa e peguei uma calça jeans e uma blusa amarela de frio. Sorri ao pensar que era toda de lã e quentinha.
Fui para a cozinha, tomei meu chá e decidi tomar banho a noite. Parece que aquele dia eu não teria absolutamente nada para fazer.
Ri daquilo, quando meu celular tocou novamente.
Como sempre consigo estar errada?
– Alô – atendi o celular já sabendo de quem se tratava.
– Bom dia, Roxy! – era Daniel, o editor. – Escuta, poderia me fazer um favor?
Fiquei um pouco surpresa com aquilo, mas simplesmente disse que sim. Então, ele pediu-me desculpas e disse que meu pai havia deixado um pendrive com todas as informações sobre o livro tal como o livro em si e eu suspirei. Ele pediu desculpas novamente pelo incomodo.
– Não, Daniel, não é incomodo. É que é tão a cara do meu pai esquecer a coisa mais importante e levar todo o resto – ele riu. – Então, me diga onde está o pendrive.
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Dilema
RomanceRoxy sempre teve um temperamento explosivo e quando se tratava de Sara, sua melhor amiga, nada a impedia de defendê-la. Mas quando o irmão de Sara aparece e a maior briga de suas vidas acontece, Roxy começa a enfrentar sentimentos que nunca havia i...