Apesar do sono, nada me veio durante pelo menos vinte minutos, até que eu desisti e descer um pouco para o playground do prédio. Era um lugar tranquilo e ninguém nunca ia lá. Havia poucas crianças no prédio e geralmente quando desciam era bem mais cedo, então eu não corria o risco de encontrar ninguém lá.
Abri o armário, peguei um short jeans e uma camiseta larga para descer. Depois de trocada, calcei uma sapatilha preta e fui ao banheiro só para olhar meu cabelo. Fazer o que? Eu realmente tinha gostado e até que a franja não me incomodava tanto quanto eu imaginei.
Passei no quarto dos meus pais e a porta estava aberta. Os dois estavam sentados na cama, encostados na cabeceira mexendo em seus respectivos laptops.
– Mãe, pai? – eu os chamei e ambos me olharam ao mesmo tempo. – Vou descer um pouco.
– Vai sair? – meu pai franziu a testa e eu neguei com a cabeça.
– Só vou ao playground.
Minha mãe sorriu e disse para levar um sanduíche lá para baixo se eu fosse ficar muito tempo. Eu concordei e fui para a cozinha prepara meu sanduíche.
Enquanto pegava o pão e tirava a casca eu fiquei imaginando como as coisas ficariam depois das férias. Sinceramente, eu planejava ignorar Sara por todas as férias. Eu não queria vê-la e nem ao menos tocar no assunto de Nicolas. Ela estava tão chateada e o olhar dela estava tão triste comigo.
Suspirei e passei requeijão no pão colocando queijo e também presunto. Ao terminar resolvi fazer mais um e peguei uma garrafinha pequena e coloquei suco. Tinha uma casinha de plástico de brinquedo lá. Eu faria um piquenique lá dentro se continuasse naquele ritmo.
Levei os sanduíches num potinho de plástico e a garrafa tinha suco de uva. Gritei para meus pais que estava descendo, peguei meu celular e peguei o elevador. Ao entrar encontrei com William, um cara de vinte anos simpático que era amigo do meu pai. Ele sorriu e o cumprimentei com a cabeça de volta.
– Irá fazer um piquenique, Roxy?
– Não era a ideia inicial, mas não há nada que eu possa fazer - sorri um pouco e ele riu.
– Entendi, quer companhia?
– Não obrigada – eu sorri, mas achei a pergunta estranha. Ele apenas deu de ombros e desceu em seguida.
Foi quando percebi que ele estava descendo e não subindo. A partir disso fiquei me perguntando de qual apartamento ele estava vindo. Era de conhecimento público que ele era bem amiguinho da moça do último andar, mas ninguém sabia se havia algo a mais ali.
Entenda que meus pais são bem simpáticos e praticamente amigos de todo mundo no prédio, então, eles ficam sabendo de tudo o que acontece ali dos outros vizinhos e me contam. Não realmente ligo para fofocas ou coisas assim, mas é legal vê-los contar tão ansiosos sobre algo. E sim, meu pai está incluído.
Desci do elevador e me dirigi direto para o playground onde não havia realmente ninguém. Entrei na casinha e me sentei na grama sintética posicionando meu potinho e minha garrafa de suco. Peguei meu celular no bolso e agradeci que fosse verão, já que assim anoiteceria mais tarde.
Abri o player de música e coloquei, sem fones, uma playlist do Plain White T's. Sara tinha me feito gostar daquela banda, mesmo que eu preferisse músicas como as do Fall Out Boy. Eu queria algo que não lembrasse ela, mas isso era praticamente impossível, então simplesmente aceitei o meu fardo.
Sim, eu não ligo se estou sendo dramática.
Quando começou uma música chamada A Lonely September eu quis tacar meu celular naquela parede de plástico com todas as minhas forças. O pior é que a letra começou a fazer sentido. Suspirei e abri minha garrafa bebendo um pouco do suco e mordi o primeiro sanduíche.
Eu percebi que deveria ter pegado um caderno de desenho para passar o tempo melhor, mas talvez daquele jeito fosse melhor. Apenas eu, comida e músicas depressivas. Mais um suspiro.
– Érica esta certa. Você totalmente depende de Sara – a música foi passando e eu soltei um risinho sarcástico. – Não tenho tanta certeza de que ela me amou de volta.
Eu parei um pouco e balancei a cabeça. Aquela frase tinha soado um pouco errada e eu sabia que ela sempre me considerou sua melhor amiga assim como eu a considerei. Nós realmente erámos como irmãs e eu não podia deixar um irmão merda como aquele atrapalhar nossa amizade.
– Como se houvesse volta – eu disse em voz alta e a música mudou. – Eu nunca deveria ter explodido... mas ela também mereceu aquilo – eu franzi o cenho, voltando a estar irritada. – Ele a bateu e eu que sou a errada por ter explodido e quebrado aquele nariz reto da cara dele. Até meu pai acha que eu estou errada.
Eu me lembrei da briga dos meus pais e encostei minha cabeça tendo cuidado pra não bater no teto baixo da casinha, fechei meus olhos e levei o sanduíche a minha boca dando mais uma mordida nele. Ele estava gostoso e continuei comendo com meus olhos fechados até terminá-lo.
Minha mente, para falar a verdade, estava mais vazia do que imaginei. Talvez o momento da confusão, quando meus olhos ficaram embaçados e eu soquei a cara dele tenha passado e se acalmado na minha mente e tudo o que restava era o nada. Apenas uma grande folha branca.
Abri meus olhos, tomei um pouco mais de suco e peguei meu celular. Abri o player de novo e mudei a playlist para duas músicas de Syd Matters. Não era o meu estilo mesmo de música, mas ambas as músicas eram bonitas e calmas. Vi então duas mensagens de Érica no aplicativo do Skype. Eu achei que tínhamos acabado de conversar, mas abri as mensagens.
MAO LIN NEKO: Hey de novo Roxanne!
MAO LIN NEKO: Só vim te avisar que vou te mandar um presente daqui e vou por ele amanhã no correio! Deve chegar ai por volta de um mês, mas já fique avisada ;)
Eu sorri de lado e imaginei o que seria. Mesmo sabendo que ela não me diria eu resolvi tentar a sorte.
~Roxy~: o que é?!
MAO LIN NEKO: Sem spoiler cher :3
~Roxy~: :(
MAO LIN NEKO: Aguente um pouco! Bom, vou dormir.
~Roxy~: está bem :) boa noite Érica.
MAO LIN NEKO: bye!
Eu realmente tinha ficado curiosa, mas agora já era. Quando Érica ficava determinada a fazer algo, nada conseguia tirar aquilo da cabeça dela e, por mais que eu implorasse, ela não me contaria o que era. Minha única opção era esperar durante um mês para matar minha curiosidade.
Deixei meu celular tocando músicas no aleatório e me voltei para o segundo sanduíche.
Comi mais devagar que o outro e pelo menos cinco músicas se passaram. Terminei a garrafa de suco e limpei minhas mãos na camiseta mesmo. Olhei o horário e nem acreditei que mais de uma hora tinha se passado. Mesmo assim, eu não queria subir.
Abri um desses joguinhos virais para celular e passei mais um tempo lá, mas logo começou a escurecer. Isso significava que os insetos da região viriam me dar oi e eu realmente não estava afim disso. É, acho que tenho que voltar. Sai da casinha com um pouco de dificuldade, já que a porta era bem menor do que eu, levando o potinho e a garrafa na minha mão e o celular, com o player desligado, no bolso.
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Dilema
RomanceRoxy sempre teve um temperamento explosivo e quando se tratava de Sara, sua melhor amiga, nada a impedia de defendê-la. Mas quando o irmão de Sara aparece e a maior briga de suas vidas acontece, Roxy começa a enfrentar sentimentos que nunca havia i...