Apresentações

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Eu dormi tranquilamente e tomei café com meus pais normalmente. Passei na casa de Sara, fomos juntas para a escola, encontramos algumas pessoas, tivemos as aulas e almoçamos. Tudo ocorreu como sempre e não tivemos nada realmente importante, mais apresentações e conversas. O grande evento foi depois do almoço.

A apresentação das turmas extracurriculares. Fomos todos os primeiros anos para o Anfiteatro da escola que abrigava facilmente 600 pessoas. Sentamos todos na parte de baixo e o primeiro a se apresentar foi o teatro mesmo. Eles explicaram o que faziam e os momentos em que Sara me cutucou com animação foram ao mesmo tempo irritantes e bonitinhos. Ela tinha esse sorriso aberto e fofo com um brilho nos olhos que me dava vontade ficar encarando e a apreciando.

– Roxy? – nem percebi que era isso o que eu estava fazendo até ela me chamar. – Está tudo bem?

Eu disse que sim e ela riu dizendo que o que eu tinha era nervosismo e eu rapidamente a contrariei. O grupo do teatro saiu e o grupo do jornal e empreendedorismo entrou e voltamos a prestar atenção. Eu olhei com o canto do olho a expressão dela ficar entediada e eu segurei minha risada.

O que eles apresentaram e faziam era bem interessante e eu estava até curtindo o que falaram sobre como eles realmente saíam para tirar fotos e entrevistar pessoas em parques e shoppings, parecia interessante. O professor orientador era o de Português e já tínhamos tido aula com ele. Era um homem de uns trinta e poucos anos e era bem irônico, bem diferente da orientadora de teatro que era a professora de Inglês, uma mulher de cinquenta anos, meiga e animada.

– Você está fazendo uma cara interessada ou é impressão minha, Rexy – ela cutucou minhas costelas e eu a mandei calar a boca. – É, eles ainda são bem mais sociáveis do que você. Tem certeza?

– Eu não disse que vou entrar ai, Sara – eu revirei os olhos. – Mas eu não teria tanto problema em um pouco de socialização.

Muitas pessoas ficariam ofendidas com o que Sara disse, mas eu não me importava por que era verdade. Eu não era das mais sociáveis, mas ainda sim me irritava pensar que eu não poderia conseguir algo apenas por causa disso.

Enfim, ela me olhou e sorriu enquanto eu suspirei e virei para frente. O grupo deles saiu e entrou o de música e dança. Amo música, mas minha voz é horrível e já deu para perceber o meu fôlego para a dança. Então permiti minha mente vagar durante os quinze minutos da apresentação deles. Quando estava acabando senti a mão de Sara na minha e meu corpo inteiro se arrepiou com os dedos gélidos dela, mas ela nem notou.

– Aí está o grupo de qual falei – eu notei que era a professora de Artes mesmo a orientadora de lá e dois alunos altos e que eu nunca tinha visto estavam com ela no palco. Trouxeram dois quadros, um abstrato e outro com um desenho a lápis simplesmente sensacional. – O da direita é Osvaldo, é do segundo ano e amigo da Luiza da nossa sala. Não conversei muito com ele, mas ela disse que é caladão e gente boa.

Olhei para ele e percebi que ele matinha os olhos perdidos, não olhava para a plateia em nenhum momento e eu percebi que estaria fazendo a mesma coisa se estivesse ali. Ele tinha a cabeça raspada e era mais alto que o outro, sua pele era bem clara e os olhos escuros.

– O da esquerda parece que é Nuno, de acordo com Luiza, veio de Portugal faz uns anos e é o que desenha. Ela disse que parece que ele é caladão demais para saber se é uma boa pessoa.

Isso me chamou atenção. 

A professora começou a explicar e eu me foquei nele. O cabelo dele tinha cachos grandes que cobriam suas orelhas e testa por inteiro. Parecia sinceramente incomodado com aquilo e sua pele era levemente morena e seus olhos escuros assim como seu cabelo. Mesmo sendo mais baixo que Osvaldo, ele ainda era alto.

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