Culpa

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Eu suspirei pesadamente, tentando controlar minha raiva e xingando mentalmente a minha falta de sorte. Como pude ficar presa na bosta do elevador com o cara que mais odeio no mundo? Eu encostei minhas costas na parede e escorreguei lentamente até o chão. Aquilo não podia ser verdade.

– Você está bem? – ele perguntou com a voz baixa.

– Cala a boca – eu disse. – Tudo isso aqui é culpa sua.

– Pelo menos consigo fazer você me ouvir agora – ele suspirou.

– Me fazer ouvir? – eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. – Você bate na própria irmã, destrói tudo o que eu tinha com ela e agora quer conversar? Ah vai se foder, Nicolas. Eu não aguento caras iguais a você.

– Dá pra você calar a boca?! Eu estou tentando me desculpar!

– Desculpar? Como se eu fosse em algum dia da minha vida desculpá-lo por ter feito minha melhor amiga me odiar!

– Pode parar! – ele parecia pronto para me dar um soco. – Foi você quem quebrou o meu nariz!

Eu me levantei de supetão e agarrei a gola da jaqueta dele o jogando contra a parede.

– Eu teria quebrado muito mais se você tivesse encostado mais um dedo na Sara, seu imbecil – mantive minha voz baixa, apesar de querer arrebentar aquela cara bonita dele. – Não o quebro mais uma vez...

– Por quê? – ele deu um sorrisinho irônico. – Sabe que Sara ficará ainda mais puta com você se fizer isso e eu sei que não quer piorar as coisas.

Ele estava certo e eu odiava isso. Suspirei e soltei a sua jaqueta lentamente me encostando na parede de novo, evitando olhar para ele. Um silêncio se seguiu e eu fiquei pensando que era estranho ele querer se desculpar. Admito que isso me deixou curiosa, mas nenhum de nós se pronunciou.

Ainda bem que pouco tempo depois arrumaram o elevador e nós saímos. Daniel veio correndo preocupado e eu disse que estava tudo bem. Entreguei o pendrive para ele e quando olhei para os lados, notei que Nicolas não estava perto. Respirei com alívio pensando que ele teria se tocado e indo embora, mas assim que sai da editora, dei de cara com ele. Pensei em ignorá-lo, mas na hora em que comecei a andar, ele veio atrás de mim.

– Espera – ele segurou meu braço e meu coração por algum motivo parou por um segundo.

O toque dele não era em nada parecido com o de Sara.

A mão dela era macia com dedos longos e magros, já a mão dele era grande e sua palma um pouco áspera. E mesmo assim eu senti como se estivesse sendo tocada por ela. Quero dizer, eu senti a mesma coisa que sentia quando ela me tocava.

Em pouco tempo me recuperei e puxei meu braço com força não o deixando perceber que fiquei um pouco abalada com aquilo. Quando me virei para olhá-lo encontrei um olhar cansado e aquele sorriso irônico de sempre.

– Vem comigo tomar um café pelo menos – ele suspirou. – Eu realmente tenho que conversar com você.

– Por quê? – arqueei uma sobrancelha e ele revirou os olhos. – Eu não vou a lugar nenhum sem saber o motivo, idiota.

– Eu preciso conversar com você – ele revirou os olhos de novo. – Eu fiz merda, mas acredite que não foi de propósito.

– Não foi de propósito? Ah, você não bateu nela de propósito? – um riso escapou de meus lábios e ele pareceu ficar mais impaciente.

– Por favor, Roxy – ele tinha um olhar parecido com o de Sara naquela hora e aquilo estava me irritando. Era impossível os dois terem tantas semelhanças.

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