Finalmente

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Sara ainda estava em meus braços quando eu acordei. Por algum motivo aquilo me deu uma sensação de alívio indescritível. Peguei meu celular com cuidado e o virei para baixo para que a luz não fosse ao rosto dela. Eram seis horas da manhã.

Suspirei e olhei para a caixa no chão pensando no rosto pálido e cheio de fios dele no hospital. Aquilo não estava certo. Mesmo que tudo isso tivesse acontecido, ele tinha mudado por conta própria não foi? O jeito irônico e idiota com o qual ele chegou aqui e provocou tudo aquilo era dele ainda, não era?

Pensei no cheque que Érica me mandou. Eu não podia ir para lá estas férias, eu não podia deixar Sara aqui e simplesmente ir para lá. Com isso, toquei o pingente com meus dedos. Ele estava frio, havia algo naquilo que eu não podia entender. Aquele bilhete... Eu realmente sou tudo aquilo?

Érica é uma ótima pessoa, mas talvez exagere demais em tudo. Eu queria sorrir ao pensar no jeito em que estava feliz por ter um gato, mas nada agora me deixava com a mínima vontade de sorrir. De estar feliz.

Como diabos tudo ficou daquele jeito?! Era simplesmente inacreditável a forma que eles esconderam de todo mundo o que aconteceu! Ou será que meus pais sabiam? Eles teriam falado se soubessem disso, não é possível que participaram disso junto dos pais de Sara.

Só de pensar que eles mentiram sobre isso me revira o estomago. Achei que não existissem mentiras entre nós, mas isso é impossível pelo visto.

Quando eu fiquei cansada de remoer todos os fatos estranhos, o fato de que até meus pais pudessem estar envolvidos nisso e também sobre o que era a discussão que Nicolas teve com Beto antes de sair correndo eu sai da cama com cuidado para não acordar Sara.

Hoje estava frio e uma luz cinza estava entrando pelas frestas da janela. Que perfeito. Caminhei até a janela e a abri um pouquinho para que eu pudesse ver lá fora.

O céu estava completamente cinza, tinha uma leve névoa que fazia as casas ao redor parecerem mais pálidas do que o normal. "Não é por que está um pouco nublada que não há um sol escondido ai dentro", certo? Essa frase na hora em que minha mãe disse pareceu tão inspirador, mas agora soava idiota.

Não consegui conter e suspirei alto. Senti o vento gelado bater em meu rosto e afastei minha franja sem sucesso, ela continuava caindo na minha testa. Desistindo, eu deixei a janela um pouco aberta e me sentei no chão vendo sob aquela luz fraca outros textos da impressa, relatórios de polícia e até mesmo de um médico.

Todos eles diziam a mesma coisa. Nicolas presenciou um assassinato e foi sequestrado para que se mantivesse calado. Provavelmente planejavam o matar, mas ele conseguiu fugir no cativeiro que era numa das extremidades da cidade e andou até achar um carro de patrulha.

Isso parecia tão absurdo. O relatório médico dizia que havia apenas levado socos e chutes, nenhum outro tipo de agressão havia sido cometida com ele. Meu estomago revirou com o pensamento de que tipo de outra agressão eles poderiam ter feito com Nicolas.

No depoimento dele, estava escrito que ele estava muito abalado e em choque, mas que relatou tudo com lucidez, mesmo que com dificuldade. Parece que ele conhecia as duas garotas, Rebeca e Mariana, e as duas sempre voltavam para casa juntas. Eram inseparáveis.

Olhei para Sara dormindo na cama e me levantei puxando o coberto para cobrir os ombros dela. Olhei para o rosto dela e parecia tão calmo. Não sei por que, mas minha mão foi lentamente e tocou a bochecha pálida dela. Sua pele estava fria e meus olhos arderam um pouco ao pensar que algum dia eu poderia perdê-la, não importa a forma só de pensar que estivesse realmente perto de nunca mais tê-la ao meu lado...

Suspirei e percebi que eu ainda tinha um papel na minha mão. Olhei para ele e era um recorte de jornal que tinha fotos das duas amigas.

Meu coração apertou e minha mente nos colocou ali. Aquilo mexeu comigo mais do que o necessário e eu pensei que talvez eu devesse parar. Ler aquelas coisas, ver aquelas imagens não estavam me ajudam em absolutamente nada.

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