E a ansiedade do seu beijo

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Foi uma sensação estranha acordar no outro dia e a ver de bruços sobre a minha cama... percebendo que as coisas estavam certas. Quero dizer, elas estavam certas agora, não era? Eu olhei para baixo e tentei ignorar todos os membros do meu corpo que doíam.

Tudo o que eu conseguia ver era a massa de cabelos azuis e roxos, mas isso foi mais do que suficiente para me arrancar um sorriso leve. Olhei para a porta e vi o médico entrando com meus pais. Minha mãe já veio com um sorriso e assim que chegou perto da minha cama, passou a mão em meus cabelos.

– Você nos deu um baita susto, garota – disse meu pai sorrindo. – Fico feliz que não tenha sido nada sério.

Eu literalmente estava me sentindo como um pedaço de merda. Imagina se tivesse sido sério.

De qualquer forma, levantei minha mão e acariciei os cabelos de Sara que estava completamente apagada ali. Aos poucos ela foi se levantando e entendendo o que estava acontecendo a sua volta. Resmungou baixinho e piscou várias vezes. Ao levantar sua cabeça olhou para todos ali um pouco confusa e sonolenta.

Nicolas estava ao pé da cama e meu coração se apertou ao ver a bolsa debaixo de seus olhos levemente avermelhados. Eu não conseguia o imaginar chorando e eu queria fazer algo para melhorar o que quer que ele esteja sentindo.

Minha mãe falou mais algumas coisas sobre meu estado físico e parece que eu teria que ficar com a perna engessada por no mínimo duas semanas. Se minhas costelas não estivessem tão doloridas, eu teria soltado um suspiro pesado. Na verdade, meu corpo estava doendo mais agora do que no momento em que fui atingida. Talvez eu devesse pedir por algum tipo de analgésico ou algo assim.

Sara segurou minha mão levemente e o médico pediu para que saíssem. Érica que se manteve calada o tempo todo – o que eu estranhei um bocado –, mas beijou minha testa e sorriu. Ela parecia muito pior do que todo mundo. Eu conhecia aquele olhar dela, era óbvio que ela tinha ficado acordada a noite inteira e estava exausta. Senti-me ainda mais culpada por ter feito isso com ela.

Eles saíram e o médico checou meu soro e fez algumas perguntas rápidas sobre o que eu estava sentindo. Pediu para que uma enfermeira aplicasse uma dose leve de analgésicos para que eu me sentisse melhor e me informou que eu teria que tirar alguns Raios-X para ele ter certeza de que todos os meus outros ossos estavam no lugar. Deu-me também algumas recomendações e disse que se tudo estivesse bem, eu poderia ir para casa na tarde do dia seguinte, mas escola apenas dali a algumas semanas.

Claro que não questionei esta sábia decisão.

Uma enfermeira me trouxe um café da manhã e eu devo dizer que não estava tão ruim assim. Tinha chá de camomila, não é o meu preferido, mas ainda assim é chá. Quando eles saíram, passaram-se alguns minutos até que mais alguém entrasse ali.

Fiquei surpresa e um pouco receosa no momento em que vi o cabelo loiro curto de Nicolas aparecer na porta. Ele fechou a porta e olhou para a mulher que estava deitada adormecida na cama ao lado. Suspirou levemente e sentou-se ao pé da minha cama.

Não olhou nos meus olhos, apenas juntou suas mãos e fixou o olhar no chão por algum tempo.

Eu sabia o porquê ele estava ali e também sabia que precisávamos conversar já que tudo o que aconteceu foi uma pura confusão. É óbvio que eu estava com medo de tudo aquilo e também não queria expor tudo em palavras, mas era... Mas era o necessário.

– Seu nariz ainda me parece um pouco torto.

Ele riu e eu quis bater minha cabeça na parede por ter falado algo tão estúpido quanto isso. Com um sorriso pequeno, ele tirou o celular do bolso e desbloqueou e bloqueou a tela dele algumas vezes.

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