Acordamos com nossos pais nos sacudindo. Nós tínhamos que ir para casa e não havia discussão. Se bem que eu estava tão grogue que não tinha disposição nem para responder se queria água ou não. Levantamos da maca com certa dificuldade, Sara primeiro e depois eu. Nada como uma dor nas costas para fazer companhia a uma cabeça doendo.
Eles praticamente nos guiaram até o carro, minha mão segurando na de Sara, e disseram que nos levariam para minha casa. Iriam nos deixar lá e depois voltariam para resolver sei lá o que, eu não estava prestando atenção. Voltamos de mãos dadas durante o caminho inteiro, dava para sentir que Sara ia desmoronar a qualquer momento se eu a soltasse e também as coisas não estavam melhores comigo.
Imaginei que não nos fariam ir para a escola – até por que ainda era sábado – mas eu sabia que ainda naquela semana íamos ter que encarar os professores, nossos clubes e responsabilidades. É só nesses momentos que você percebe que o mundo funciona muito bem sem você.
As coisas não irão parar só por que deu merda na sua vida. Com um suspiro eu resolvi parar de pensar assim, Sara estava sem sombra de dúvida pior do que eu. Ela precisava de mim. Eu virei à cabeça para olhar para ela e pensei que naquele seu olhar perdido ela estava se culpando por coisas inexistentes. Provavelmente pensando que se tivesse interferido na discussão ou seguido Nicolas tudo teria sido diferente. Então vi seus olhos marejarem de novo. Era óbvio que estava pensando naquilo.
Eu me inclinei e beijei sua bochecha levemente atraindo sua atenção para mim.
– Já passou, Sara. Não tem mais volta – minha voz era baixa e suave, quase não a reconheci. – Tudo o que podemos fazer agora é esperar. Ele vai acordar.
Sara assentiu e eu a abracei. Sinceramente, eu não sabia o que mais me doía, ver Sara naquele estado ou Nicolas em coma. Eu depositei um longo beijo em sua testa e ela envolveu seus braços na minha cintura. É claro que eu sabia que as coisas não seriam fáceis, mas eu daria meu máximo para que Sara não sofresse mais do que já estava.
Enfim chegamos ao meu prédio e minha mãe se desculpou. Nem ela nem meu pai iam poder ficar com a gente, mas podíamos pedir o que quiséssemos. Assenti para ela e guiando Sara em praticamente transe, eu entrei no prédio sem falar com ninguém.
Já no apartamento, nenhuma das duas falou nada, só fomos direto para o meu quarto. Lá, ela tirou os sapatos e eu peguei uma roupa quentinha para ela. Uma calça de moletom vermelha, uma blusinha de frio branca e uma calcinha minha mesmo. Ela pegou e foi em direção ao banheiro.
Coloquei uma calça jeans e a mesma blusa de lã amarela que eu tinha usado quando fui levar o pen drive para Daniel. Suspirei pesadamente, fui para a cozinha buscar algo para preparar para nós e logo vi que não tinha absolutamente nada. Estava frio e tudo o que eu tinha era chá e - mesmo achando que isso nunca aconteceria - eu não estava no clima para tomar chá.
Bati na porta do banheiro e disse a Sara que eu estava indo na padaria, peguei a carteira quando ela concordou. Tudo o que eu fiz a partir daquele momento parecia distante e meio irreal para mim. Fui à padaria e comprei dois pedaços de bolo de coco com doce de leite para a gente além de achocolatado e leite.
Voltei para o apartamento e a encontrei no quarto abraçando os próprios joelhos e olhando para o nada. Aquilo estava me preocupando, mas eu não estava muito melhor. Como ela não tinha me notado, voltei para a cozinha e coloquei os pedaços de bolos num prato grande e em duas canecas, fiz leite com chocolate e os esquentei no microondas.
– Roxy...?
Virei-me e a vi de pé na entrada da cozinha, forcei um pequeno sorriso antes de tirar as canecas do microondas.
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Dilema
RomantikRoxy sempre teve um temperamento explosivo e quando se tratava de Sara, sua melhor amiga, nada a impedia de defendê-la. Mas quando o irmão de Sara aparece e a maior briga de suas vidas acontece, Roxy começa a enfrentar sentimentos que nunca havia i...