Nada

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Irei resumir a minha semana já que nada demais aconteceu no resto dela... Bem, até sexta.

Logo após todas as apresentações, nós passamos numa papelaria e eu comprei cadernos de desenho e lápis diferentes do 2B. Para falar a verdade, eu nem sabia a variedade de lápis de grafite preto que existia. Fui para a casa de Sara e ficamos lá resolvendo alguns assuntos sobre um ou dois trabalhos que já tinham sido passados.

Nicolas não estava lá ou estava trancado em seu quarto. De qualquer forma, não o vi e também não era como se eu esperasse vê-lo. Voltei para casa e foi tudo igual. Exceto pelo fato de que conversei mais com Nicolas sobre bandas. Passamos mais o menos o mesmo tempo de antes conversando e quando falei que fui na casa de Sara, ele disse que tinha saído com uns amigos.

Enfim, a aula de artes no dia seguinte foi tranquila e eu me senti tão melhor quando coloquei meus fones e comecei a rabiscar uma rosa no caderno que até perdi a noção do tempo e quando vi já era hora de ir embora.

Mostrei meu desenho para ela e a professora se mostrou até que surpresa e vi que Nuno observava de longe, mas não falei nada. Na aula de sexta, ela começou a dizer que faríamos um trabalho em conjunto com o teatro e que participaríamos da confecção do cenário.

Acho que fiquei visivelmente animada e uma das garotas me deu uma cotovelada de leve com um sorrisinho. Eu não consegui evitar e sorri de volta para ela.

Só de pensar que estaria trabalhando com Sara durante as próximas aulas durante o mês inteiro era impossível não ficar animada. Ela deu uma breve explicação sobre tudo e disse que durante o resto da aula deveríamos fazer algo, com nossos respectivos materiais, sobre as coisas que mais gostávamos. Poderíamos fazer em dupla se quiséssemos.

Pareceu-me óbvio que faria sozinha e me sentei numa mesa próxima ao fundo da sala.

No grupo não tinha tanta gente. Deveria ter cinco garotas do terceiro anos, três meninas e dois meninos do segundo e eu e mais quatro garotos do primeiro ano. Osvaldo disse em algum momento que a maioria das pessoas ia para a o grupo de artes para ficar escutando música, mas percebiam que não iam conseguir nada lá daquele jeito e então saíam. Parece que metade do colégio preferia teatro ou o jornal e a outra metade não estava nem ai para os grupos.

Aquilo somente me fazia mais feliz. Quanto menos gente melhor, mais calmo e tranquilo o ambiente fica.

Abri meu caderno de desenho e ao encostar o lápis no papel um desespero nunca sentido por mim apareceu. Eu não fazia ideia do que desenhar. Eu gostava de muitas coisas, mas nada – simplesmente nada – passava pela minha mente para desenhar ali. Era impossível e eu jurava que minha mão estava tremendo.

Assim que meu ataque de falta de criatividade começou, a cadeira a minha frente foi puxada e alguém sentou nela.

– Não consegue pensar em nada? – escutei a voz de Nuno e levantei a cabeça para vê-lo abrir seu próprio caderno e começar a esboçar algo. – Ela fez isso ano passado também, fiquei uma hora olhando para folha sem conseguir desenhar nada.

– O que você fez? – perguntei um pouco intrigada. Ele nunca fazia dupla ou falava com qualquer pessoa ali, além de Osvaldo quando pedia algo.

– Desenhei uma pessoa – ele deu de ombros.

– Alguém que você gosta... – eu pensei e suspirei. – É, mas não tenho habilidade nenhuma em fazer rostos.

– Desenha algo que te faz lembrar-se da pessoa – ele disse baixo e eu percebi que estava se debruçando tanto sobre o caderno parecia estar quase entrando no desenho.

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