Conflitos internos não servem para nada

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Coloquei a mesma roupa do jantar, passei a toalha de qualquer jeito no cabelo e o penteei com os dedos mesmo. Abri a porta do banheiro e andei com passos pesados até a sala onde calcei uma sapatilha que estava pedida por ali.

– Filha? – Escutei meu pai chamar. – Está tudo bem? Onde você está indo?

– Eu sei que está tarde, pai. – Peguei minha bolsinha e procurei meu bilhete do ônibus. – Mas tenho que resolver essa história de uma vez por todas.

Minha mãe saiu do escritório escutando a conversa e sorriu para mim. Ela disse alguma coisa para o meu pai e Érica perguntou se queria que ela fosse junta, mas eu estava ocupada demais já entrando no elevador. Vou ter que ir a pé mesmo, pensei já que não achei meu bilhete.

Assim que cheguei à portaria e pisei para fora do prédio eu comecei a correr.

Não dava para andar calmamente com toda aquela situação. Imaginei se as pessoas iriam pensar que eu tinha acabado de assaltar alguém e isso quase me fez rir. Que merda de segurança nós temos nessa cidade, ou melhor, nesse país.

Eu estava suada e meu cabelo provavelmente estava um horrível, mas isso definitivamente não era a minha maior preocupação naquele momento. Agora, eu tinha era que decidir como eu faria isso.

– Sara! – Sim, eu gritei da rua. – Sara!

Não demorou muito para que ela abrisse a porta e saísse assustada. Quando me viu, seus olhos arregalaram e ela não conseguiu pronunciar nada. Nós duas apenas ficamos ali encarando uma a outra tentando balbuciar qualquer coisa.

Nicolas apareceu atrás dela e eu senti um puta medo fazer minhas pernas começarem a tremer. Tive vontade de me dar um tapa na cara e dizer para eu virar mulher ao invés de ficar de cu doce, mas como isso não é possível, eu apenas respirei fundo.

Abri minha boca e com os olhos dela com puro choque estampado eu tentei falar o que eu sentia e – para a minha felicidade – as primeiras palavras saíram claras como cristais.

– Eu não sei o que falar além de que eu sou uma idiota e eu sei que eu machuquei você. Eu provavelmente teria ficado trancada no meio quarto lamentando a minha estupidez se não fosse por minha mãe e Érica abrirem meus olhos.

A expressão de Nicolas foi do choque para a decepção em questão de milésimos e apenas suspirou e entrou de volta. Meu coração se apertou e eu quis puxar seu braço e dizer que eu sentia muito, que as coisas não eram tão simples e que nada daquilo era a minha intenção, mas eu não podia fazer aquilo.

Eu tinha que parar de sentir pena e olhar para aquilo da forma que eu faria meses atrás.

– Eu mudei – falei sem saber direito por onde começar. – Eu não sou mais aquela garota extremamente introvertida. Eu também quero falar com outras pessoas que gostam das mesmas coisas que eu, mas continuo não sabendo como lidar com você. Eu achei que eu sabia, após todos esses anos, mas a briga que tivemos no começo disso tudo provou para mim que eu definitivamente não sabia. – Pausei um pouco antes de continuar para ver se ela falaria qualquer coisa, mas tudo o que eu recebi foi um olhar confuso e, talvez, desesperado. – Eu achei que depois que fizéssemos as pazes, tudo ficaria bem, mas o acidente aconteceu e todo o tempo que passamos juntas...

Dei um passo em sua direção e o passo que ela deu para trás machucou meu coração. Tentei ignorar aquilo e balancei a cabeça levemente.

– Eu estaria mentindo para você se eu dissesse que eu sabia de tudo isso, mas eu também estaria mentindo se eu dissesse que eu não sentia. – Suspirei e pensei que eu só estava piorando as coisas. – Eu não menti quando disse que eu te amava, Sara. Quando naquela confusão toda, eu gritei dizendo que eu te amava... Eu não menti quando disse que não saberia o que eu faria sem você.

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