Para falar a verdade, nada interessante aconteceu depois. Sara me ligou dizendo que ia às compras e que Nicolas ia junto e quando tudo terminou disse que as coisas tinham ocorrido melhor que o esperado. Além disso, o restinho de férias que tínhamos passou num piscar de olhos e quando vi meus pais estavam em casa mais cedo. Tinham conseguido resolver as coisas antes.
Eu contei para eles que estava tudo bem entre nós e eles ficaram aliviados além de felizes. Talvez a reação deles tenha sido um pouco feliz demais para mim, mas não é como se eu fosse reclamar e assim chegou o tão esperado primeiro dia do colegial.
E porra nenhuma aconteceu.
A escola em que estávamos tinha 90% dos alunos do Fundamental da nossa antiga escola e praticamente conhecíamos todo mundo. Eu fui para a casa de Sara e fomos juntas para a escola, passamos na secretaria tirar algumas dúvidas.
Logo reconhecemos um monte de gente e os cumprimentamos. Sara começou a desenvolver uma conversa animada com a maioria deles e eu, como ainda sou eu, me afastei com um pequeno sorriso. Juntei-me a multidão de alunos do Ensino Médio para descobrir a sala em que caímos.
– Roxy! – senti uma mão no meu ombro e olhei para trás. Era uma das garotas da nossa sala do ano passado. Chamava-se Joana, mas todo mundo a chamava de Ana. – Acabamos na mesma escola de novo!
– Junto com praticamente o resto do colégio – suspirei e ela riu. – Você já viu a sua sala?
– Sim – ela sorriu e me deu um soco leve no ombro. – E boa notícia para você! Não me lembro em que sala caiu, mas o nome de Sara estava bem perto do seu!
– Sério? – eu sorri e ela concordou com a cabeça. – Valeu, Ana. Agora vou tentar descobrir onde caí.
– Ok, boa sorte. Mas olha direto nas últimas folhas, eu fiquei no primeiro ano C e não vi seu nome em nenhuma antes – eu agradeci de novo e ela acenou. – Te vejo por ai, garota.
Acenei de volta e com a sensação de estar sendo triturada alcancei a parede com as folhas. Demorei um pouco para achar onde estávamos com toda aquela confusão e me senti aliviada quando vi que realmente tínhamos ficado na mesma sala.
Retornei empurrando gente para todo o lado e encontrei Sara conversando no mesmo lugar com ainda mais gente. Algumas pessoas deveriam ser novas e outras eu já conhecia. Admito que senti um pouco de ciúmes dela com tanta gente em cima.
Não sou do tipo insegura, mas aquela briga me fez ficar com um pé atrás. Seria difícil fazer alguma amizade nova este ano e eu sabia disso, mas para Sara tudo parecia estar normal. Isso é bom, pensei me aproximando do grupo de pessoas lentamente e assim que o fiz Sara passou o braço no meu e me apresentou para os que eu ainda não conhecia.
Com um "oi" sem graça e alguns "legal", "ok" e "tudo bem" nós seguimos para a nossa sala.
Primeiro dia é sempre dia de apresentações e dessa vez nós não conhecíamos nenhum dos professores. Sentamos como sempre, eu atrás dela, na penúltima carteira. Gostávamos mais do fundo e a exibição acadêmica nunca foi o nosso forte. Era um perigo; sempre tememos sentar na frente e acabar sendo escolhidas para exemplos.
Não nos entenda mal, somos boas nas matérias, mas ser aluno exemplo não é confortável e acabamos sempre conversando nas aulas, portanto, a frente não é uma boa opção.
Para resumir, na minha sala tinha umas cinco pessoas que eu não conhecia e as que eu conhecia eu não falava muito. Ana, a garota que encontrei mais cedo, era um exemplo da minha mais próxima relação com alguém na escola. O resto era sempre colega para fazer trabalho em grupo.
Nossa carga horária era a mesma. Sempre odiei estudar em tempo integral, mas às vezes era bom por causa das atividades extracurriculares. Tivemos o lanche, o almoço e o último sinal bateu às cinco horas.
– Hoje foi divertido – Sara me disse quando já tínhamos arrumado o material e estávamos saindo. – Acho que tenho que me inscrever logo para as aulas de teatro. Vai entrar em algo?
– Tenho que – eu suspirei.
A minha maior decepção foi saber que as atividades extracurriculares dessa vez eram escolhidas. Você escolheria no que queria passar três tardes inteiras e não podia escolher mais que uma. Achei isso bem idiota, já que no Fundamental podíamos participar de todas sem problema. Eu sempre acabava seguindo Sara para onde fosse.
Eu sabia que ela iria pegar teatro, mas eu estava com dúvida se eu deveria pegar também. Sim, seria muito mais tempo que eu poderia passar com ela, mas eu iria sofrer um bocado lá.
– Não se sinta pressionada por mim, Roxy – ela disse como se lesse meus pensamentos. – Acho que deveria pegar artes.
– Eu não desenho porcaria nenhuma – eu franzi a testa e ela riu. – Talvez lutas seja mais o meu estilo – eu sorri e ela socou meu braço.
– Não tem isso!
– Uma pena, eu me daria bem – dei de ombros e ela suspirou. – Mas, sério. Por que acha que eu deveria pegar artes?
– Não sei, o pessoal de artes é mais calado e parecem ser bem mais na deles e eu vi também que não precisa saber desenhar para entrar. Arte abstrata é o que mais consta naquilo de acordo com o pessoal do segundo ano.
Quando diabos elas tinha falado com o pessoal do segundo ano?
– Hum – mas ela tinha razão se isso fosse verdade. Se o pessoal de artes fosse mesmo mais calado, talvez eu tivesse um momento de tranquilidade e com certeza mais paz do que teria no teatro.
– Amanhã vão fazer a apresentação de todos eles, não é? – ela perguntou.
– De acordo com a professora de história.
– Vamos ver, então – deu de ombros e eu assenti cansada. – Ah, vai ser divertido!
– Com certeza – ela revirou os olhos e eu sorri.
Como eu disse, o tão esperado dia do primeiro ano foi isso. Nada de realmente interessante, apenas as mesmas pessoas e apenas mais aulas e mais coisas chatas. Eu também não sei o que eu realmente estava esperando, mas eu ainda sim tinha uma expectativa.
Vai entender.
De frente à casa dela, nós nos despedimos e ela perguntou se eu queria entrar.
– Vou pra casa, minha mãe deve estar esperando as novidades do meu dia – eu franzi a testa e ela sorriu.
– Ok, te mando mensagem mais tarde – ela disse.
Então, como sempre fizemos, nós nos abraçamos. Minha mente, sendo a filha da mãe que é, assim que ela enlaçou os braços na minha cintura, me lembrou da cena logo após meu banho. Meu coração disparou e eu me afastei mais rápido do que o normal.
Sara notou isso e meio que me perguntou se tinha algo errado com o olhar, mas somente ri sem graça e disse que estava com pressa. Dei um beijo rápido no seu rosto nem esperando por um de volta. Eu sabia que estava sendo esquisita e que aquele tipo de comportamento não era meu, mas eu não queria que ela sentisse o quão rápido meu coração batia.
Quando passou o ônibus, eu rapidamente entrei e torci para que o calor que eu sentia nas minhas bochechas não era verdade e que se fosse, que ela não tivesse percebido. Com um suspiro, sentei no único lugar que tinha vago e abracei minha mochila.
– Eu sou tão idiota.
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Dilema
RomanceRoxy sempre teve um temperamento explosivo e quando se tratava de Sara, sua melhor amiga, nada a impedia de defendê-la. Mas quando o irmão de Sara aparece e a maior briga de suas vidas acontece, Roxy começa a enfrentar sentimentos que nunca havia i...