– Charles?
(Silêncio)
– Charles?
(Silêncio)
– Charles? – Gritava pela terceira vez um senhor de estatura baixa, cabelos rebeldes semi-brancos e um singelo bigode felpudo. Aquele senhor era sorridente. Amigável. Confiável. Trajava uma com a gola aberta por debaixo de um pulôver azul escuro, grosso e folgado.
– Charles? – Berrou novamente sobre o salão amplo. A tinta branca, recém pintada, nas paredes de alvenaria, escondia os arranhões e as imperfeições deixadas pelo tempo e pela violência que lá se sucedeu. O cheiro de mofo não mais existia. A vidraça, antes quebrada no canto direito da parede, e seus cacos de vidros espatifados pelo chão não mais existiam. Um singelo madeirite retangular ocupava o lugar daquela específica janela. Mas não era o bastante: aquele madeirite era fraco; então, foram soldadas barras de ferro sobre outras. Claro que as portas também não ficaram de fora e foram fortificadas. Blindadas.
Velhas e surradas cortinas cobriam as janelas a fim de ocultar o desconhecido e, percorrendo os três cantos restantes daquela sala, sobrepostos nas paredes, dezenas de retratos empoeirados de pessoas famosas. Ícones que fizeram história e mudaram a humanidade. Cada qual em sua época. Em seu tempo. Físicos, matemáticos, astrônomos... A cada pintura, um rosto diferente. Uma história diferente.
No centro do grande salão, o toque de requinte e luxo. Um tapete retangular de cor vinho e pelos altos. Fios brilhantes, delicados e macios. Sua cor refletia a apagada e amarelada luz do Sol com charme e elegância. Sobre aquela perfeita tapeçaria, havia uma poltrona e dois sofás velhos. Aconchegantes. Simples. Suficientes para acomodar os inquilinos.
– Caramba, Alb! Estamos protegidos. Isso aqui é uma mansão de dez salas e treze suítes, quer mais o quê? Tudo está selado. Protegido. E mesmo que algo saia errado ou fora do planejado, ainda teríamos o laboratório para se escondermos. Precisa gritar tanto assim? O que houve?
– Ben, você viu o Charles? – Ben aparentava ser o mais velho dos quatro. Na verdade, todos tinham a mesma idade, mas Ben era o que mais apresentava sinal do tempo. Tinha um olhar fundo, cansado. Olheiras. Um pouco acima, em sua cabeça, sentia falta de algo. Algo que amava muito: seus cabelos. A calvície chegou cedo para aquele ser. Não se sabe o porquê, mas uma enorme cabeleira nos extremos da cabeça permanecera. Uma cabeleira de cor caju, caída até os ombros, que deixava qualquer um com inveja. Aquele homem era vaidoso com suas remanescentes madeixas. Mas não foram apenas aqueles fios de cabelo que restara do tempo de adolescente. Algo evoluiu em seu abdômen. Cresceu. Ben era obeso. Não muito. Mas era.
– Ele deve estar trancado no laboratório com o Sig. Você conhece eles, se deixarem, passam o dia inteiro estudando aquelas coisas.
– O importante é conseguir! Já imaginou? Conseguirmos? Por um fim nisso tudo?
– Seria... – pigarreou enquanto gesticulava – Eu não teria palavras para descrever, mas – deu uma pausa, os olhos se moveram para os lados, pensativo. Após suspirar, prosseguiu: – Enfim, você sabe o quanto isso é complicado.
– É, eu sei. Mas pense pelo lado positivo: Somos diferentes! – Procurou animar o clima de depressão que dava-se início. – Falando em sermos diferentes, estou pensando em retirar esse bigode. Estou a cara dele, não estou?
– Está! Mas quem daqui não está?
– Mas deveríamos seguir nossos passos não os deles. Éramos para sermos diferentes, lembra?
– E somos! Anime-se, Alb. Faremos uma promessa, ok?
– Qual?
– Você ainda está aguardando?
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PROJETO I.N - DESPERTAR
Science Fiction*** Livro sem REVISÃO PROFISSIONAL. Contêm erros gramaticais e de digitação. Este foi minha primeira tentativa de escrever algo e, portanto, necessita de melhorias. O quanto antes passará por revisão profissional. Espero que entendam. *** Obra regis...