Capítulo 6 (Revisado)

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Por um instante, aqueles dois meninos apenas trocaram olhares, os olhos estreitos. I.N estava confuso com a situação. Admiração ou desconfiança? Ele não saberia diferenciar. Foi o sabichão que cortou o clima de suspense:

– Precisamos convocar uma grande reunião urgentemente. Irei conversar com L.V e discutir sobre o assunto.

– Mas o que está acontecendo? O que foi que eu disse? O que aconteceu comigo? Alguém, por favor, poderia me explicar alguma coisa? – I.N não compreendia o que estava acontecendo, muito menos a gravidade. Mas fora agraciado por A.E com os devidos esclarecimentos:

– Você não lembra? Você disse que o mundo acabaria no ano de 2060 e, até então, ninguém havia lembrado nada relacionado a datas. Lembrávamos uma coisa ou outra... Nada muito preciso ou de relevância. Uma comida predileta, um estilo de roupa, uma cor favorita, mas nada comparado a isso. Nada. E agora você diz algo desta magnitude. Então, recapitulando... – coçou a nuca – Você já se esqueceu do jornal do Robert? Não soa familiar a data do jornal e a data que você disse? Eu não sei o que você pensa, mas os anos de 2059 e 2060 não podem ser coincidência; o L.V até que tentou de alguma forma adivinhar o restante do título da notícia enquanto treinávamos você, mas ele desistiu. "É impossível! Muitas possibilidades", ele disse. Entende agora o quanto você é importante? Você é o único que pode saber o que aconteceu e por que estamos aqui.

– Mas eu não sei o porquê de eu ter dito aquilo! Também não lembro nada. Eu estava ouvindo a voz do S.F e, do nada, apaguei. Não lembro ter dito nada: meu passado continua apagado e agora estou com uma maldita dor de cabeça.

– Não se esforce demais I.N. E outra: pode até ser que você não se lembre de nada. De qualquer forma precisamos nos reunir hoje à noite. – Finalizou S.F.

Ao anoitecer, como de praxe, foram jantar no Bucho. Porém, especificamente neste dia, I.N notou algo de diferente. Não havia aquele espírito jovem, aquela algazarra como nos dias anteriores. Não estavam conversando mais sobre esconderijos no jogo "pé na bola". M.F e B.F não brigavam e A.E, o ininterrupto falador, calara-se. Eram sete garotos quietos. Mudos. Tom fúnebre. Entre uma colherada e outra, a gororoba ia sendo sorvida. Volte e meia, ouvia-se o ranger dos dentes se chocando um contra o outro, o único som ali presente. S.F saboreava sua maçã, sem prazer; sem deliciar-se de seu precioso fruto, como se estivesse com pressa, como se estivesse... atrasado. I.N até tentou descontrair e quebrar o clima taciturno dizendo que a "macarronada com almôndega" estava deliciosa... Fora cortado pelo magrinho antes mesmo de poder dizer "almôndega":

– Credo gente! Que silêncio chato! – Insistiu I.N.

A.E olhou para o amigo em silêncio. Pensou muito antes de responder. Não conseguiu. Desistiu. Calou-se. O gelo só fora quebrado por causa de Robert. Só que, desta vez, o falastrão estava mais nervoso que de costume. Vociferava e apontava o dedo para L.V:

– Quero um novo sorteio! – dizia. – Estou cansado de servi-los. – Completou.

L.V, calmo, foi categórico:

– Por que mudar algo que está dando certo?

Robert não gostou nem um pouco do que ouviu. Avermelhou-se de raiva. Antes de sair batendo portas (o silêncio generalizado que ali reinava fez o barulho ser ensurdecedor), virou-se, encarando ferozmente o novo companheiro. Pobre I.N.

– Fedelho, fedelho... – rosnou – Espero que resolva alguma coisa. Alguma maldita coisa! Afinal, estão dizendo que você é o nosso... nosso salvador. Salvador uma ova! Coitadinho, irá decepcionar a todos! – Riu sarcasticamente antes de ter sua voz abafada pela batida da porta.

PROJETO I.N - DESPERTAROnde histórias criam vida. Descubra agora