Capítulo 2 (Revisado)

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ACORDA! O dia está maravilhoso lá fora pra você ficar deitado. Pare de ser preguiçoso. Seu folgadão. Vamos! Mexa-se... mexa-se que já passou da hora da criança aprender a andar e a falar.

E assim começara o dia de I.N. Assustado com tudo o que ocorria, se sentido um peso de papel e, pior, acordando com essa algazarra. Queria socá-lo. Queria chutá-lo. Mas ficou apenas na imaginação. No momento, era engolir o orgulho e aceitar as brincadeiras de M.F. Não por muito tempo. "– Quando eu estiver normal, farei tudo isso que ele está fazendo comigo. Ah se vou." Pensara. Mas, por enquanto, o jeito era pedir para alguém lavar seu rosto e escovar seus dentes. O dia seria longo. (Essas pastas de dentes foram inventadas há muito tempo por um químico metido a cozinheiro, que, por descuido, derrubou cravo-da-índia moído em um processo químico para agentes ativos do creme dental, dando origem a uma pasta de dente revolucionária. Só era necessário passá-la uma vez a cada 15 dias. Claro que a indústria higiênica interviera, afinal, acabaria com o gel dental convencional e toda máfia que lucrava pelo pequeno tubo. O inventor fora morto. Dizem que foi acidente de carro. Problemas com os imãs de levitação, mas vai saber. O importante foi que seu invento alastrou por todo mundo).

I.N é acostado todo desajeitado numa espécie de cadeira de rodas arcaica por M.F e B.F. Pedaços de bambu intercalavam um sobre o outro, formando uma cadeira dura e desconfortável. Duas rodas murchas mais tortas que bêbado andando em linha reta davam o toque final. Era feia, porém funcional.

Antes de sair do recinto, despretensioso, faz um pequeno sinal para que A.E o empurrasse até o espelho. De fato, ainda não havia se visto e, com a melhora da visão, estranhou-se, pois era mais alto que imaginara, cerca de 1,75 metros. Cabelos loiros, lisos e ralos. Seus olhos continham uma tonalidade bem diferente: um azul muito claro. Tão claro que refletia a quem olhasse. Enormes bolas de gude cintilantes. I.N não gostou muito de seu queixo. Nele, continha um leve furinho. Não era forte, gordo ou muito magro. Tinha um peso ideal para sua idade. Diferentemente do garoto ao seu lado. Aquele ser, chamado de S.F, era magérrimo e cansadamente alto para sua idade. "– Um palito ambulante." – Como dissera M.F em outra ocasião. Com cabelo castanho escuro estilo tigelinha, adorava penteá-lo para o lado direito. Já seus óculos bolinha entregavam seu lado nerd e o apelido de sabichão. O apelido pegou depois que perceberam o seu gosto por usar palavras difíceis em seu vocabulário. S.F era todo certinho, comportado, ereto. Em seu braço os números: Dois, três, zero, nove, um, nove, três, nove.

Pelo espelho, I.N analisou o garoto que se apoiava no encosto da cadeira de rodas. O garoto mais tagarela da turma. Seu nome? A.E. Totalmente adverso do sujeito de corpo franzino ao lado, A.E era baixinho, bem nutrido, com bochechas salientes e nariz formato de coxinha. Seus cabelos escuros passavam a maior parte do tempo despenteados, arrepiados para cima. Porém, nesta ocasião, A.E penteou-o para trás. Os oito números de seu braço estavam tampados por uma faixa, escondendo assim, seu conteúdo. Uma espécie de brincadeira que inventara com L.V, onde o mesmo teria que descobri-los. Até agora, apenas dois números foram acertados.

Próximos à saída, encontravam-se os melhores amigos, B.F e M.F. O primeiro, rechonchudo, baixinho e cabeludo, tinha tudo para ser um excluído, porém B.F era querido por todos. Um ótimo diplomata e amigo. Claro que na maioria das vezes apelava com as brincadeiras de seu melhor amigo. E quando se diz "na maioria das vezes", interprete como toda hora. Era só se juntarem que a briga logo começava. Gravados em seu braço direito os números: Um, sete, zero, quatro, um, sete, nove, zero. Já M.F, com seu sotaque britânico, não escondia a preferência em repartir seus cabelos negros ao meio. Preferência, não. Necessidade. O garoto fazia o impossível para esconder suas entradas para calvície. As únicas coisas que não conseguia esconder era o gosto em sacanear seu melhor amigo. Seus números eram: Dois, cinco, zero, oito, um, oito, seis, sete.

PROJETO I.N - DESPERTAROnde histórias criam vida. Descubra agora