Capítulo 25 (Revisado)

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I.N permaneceu mudo. Calado. Ficou admirado quando sentiu a mão de Anne tocar a sua. Sutil. Mãos dadas. Entrelaçadas.

– Estou com medo. – Ela disse.

– Não tenha. Estou aqui.

Robert, ao ver a cena, fez cara de poucos amigos. Ridicularizou com trejeitos e micagens. – Você sabia que eu já fui todo apaixonadinho pela vagabunda ao seu lado? Sim! Eu gostava dela. Mas hoje eu a odeio. Ou melhor, vocês dois. Odeio ambos.

– Pelo visto, ela não te quis. E você está com ciúmes neste exato momento.

– Ria agora. No final, veremos quem rirá por último! Mas chega de ladainha. Quero contar uma história interessante. Aproveitem meu bom humor! – então, sem perder tempo, Robert discursou: – Há muito tempo atrás, houve um cientista que cuidou, educou e deu todo suporte familiar que um dia eu pude sonhar. Seu nome, Johannes Kepler. E o chefe desse doutor havia descoberto algo incrível. Inexplicável. Gostariam de saber o que ele descobriu? Eu sei...

– Não quero saber. – Interceptou I.N.

Cala a boca e me ouve! Certa vez, sabendo que a Anne iria levar uns relatórios para o dr. Kepler, eu me escondi atrás da escrivaninha de sua sala para assustá-la. Mas ela não apareceu. Em seu lugar, entrou um Kepler todo agitado. Aflito. Enérgico. Apressado. Com passos largos, andava para lá e para cá. Como se estivesse à procura de algo. Ou de alguém. Mas não havia nada a que procurar. Falava sozinho. Resmungava. Inquieto, suava como nunca. Suas mãos transpiravam. Por fim, na mesma velocidade que entrou, saiu. Deixou a sala num silencio mórbido. E eu? Sabem o que eu fiz? Vamos! Perguntem-me!

– Já disse que não quero saber.

– Bem, eu não via à hora de contar para o Edmund o ocorrido. Então, mais do que depressa, corri entre os corredores. Corri imaginando a cara de surpresa do meu amigo. Corri, com uma única frase na cabeça. Uma frase que causaria impacto: "O dr. Brahe descobriu um meio de viajar no tempo". Mas, como tudo que é bom na vida, um dia, pode mudar, eu ouvi essa desgraçada conversar com meu melhor amigo sobre o meu jeito de ser. Fiquei louco. Fui apunhalado nas costas pelo meu melhor amigo e da mulher que amava. É... mas iria me vingar. Daria um jeito... e dei! Esqueça tudo que você conhece sobre estar em Paraíso. Na primeira vez quando entrei, um pensamento me ocorreu: "O que irá acontecer?". Bem, talvez pelas falhas ditas pelo dr. Kepler quando o ouvi no escritório, ou realmente existam coisas que são inexplicáveis, o fato, foi que me perdi no tempo.

I.N esnobava a história do companheiro de Paraíso, afinal, o personagem principal era tão odiado quanto um Acordador. Superando o pior de todos os malditos. – O que será que Robert quis dizer com se perdeu no tempo? – Apenas pensou.

– Você sabe o que é acordar e não saber se está no futuro ou no passado? Uma comida podia estar boa e, menos de um minuto, estragada. Às vezes, até desaparecia. Passei por muitos apuros. Conheci o inicio e o fim. E, assim que consegui retornar, assustei-me ao ver que havia passado um mês desde o meu desaparecimento. Eu fiquei dentro de Paraíso nem se quer cinco minutos...

Mesmo a história sendo fantástica, I.N permaneceu calado. Fúria em seus devaneios. Fazendo apenas o papel de ouvinte. Já Robert, após poucos segundos em silêncio, retorna sua narrativa.

– E foram os cinco minutos mais longos da minha vida. O tempo não passava. Simplesmente parado. Por meses, nutri ódio ao ver o astro rei no centro do globo. Sempre ardente. Sempre vivo. Desejava morrer, mas... como? Se nem fome eu sentia! Depois de muitos anos, desiludido, e crente que já havia presenciado tudo na vida, fui pego pelo turbilhão do tempo. É nessa hora, quando tudo se estagnou, que algo me pegou de surpresa. Isso realmente me assustou. Conheci, mesmo que em uma época diferente, meu pai, minha mãe e acima de tudo, presenciei meu nascimento. Sabia que era eu, pois aquela marca de nascença não era comum. Era minha. Única. Especial. – Robert então levanta a camiseta e, próxima ao abdômen, mostra a marca de nascença em formato de mola. Sorri. – Dezoito de julho de mil seiscentos e trinta e cinco. Foi o ano que nasci.

Aquela última frase de Robert ainda perpetuava na mente de I.N: "Foi o ano que nasci". – Como? Não! Isso é impossível. Ele... ele... – I.N estava incrédulo. Robert cortou os pensamentos do garoto do dom da Força com o retorno de sua história.

– Não conseguia acreditar no que havia descoberto. Como eu poderia ter nascido em 1635? Aquilo foi um tormento para mim. Um choque. Mais do que nunca, queria voltar. Queria entender o porquê! Seria esse, o tão falado Apocalipse? Será que a Terra fora destruída e eu morri? Gritava por dentro e nada adiantava. Anos se passaram. A fome finalmente surgira e eu, era castigado pela mesma. Miséria, banho, fedor. Ah! O fedor. Minhas narinas eram estupradas por enormes quantidades de mau cheiro. Pedia honrosamente para voltar para meu mundo. Meu tempo. Meu fim. Passados dez anos e cansado de sofrer, não aguentei e me suicidei. Sim! Você ouviu certo. Lancei-me de um penhasco com um único pensamento: "Finalmente livre. Paz". Sabe qual é a piada disso tudo? O tempo. Próximo ao me chocar com o chão, como em um passe de mágica, estava de volta. Milhares de anos passaram em um piscar de olhos. Não sei como ou porque, mas, minhas células, adquiriram uma imensa capacidade de se regenerar. Não mais adoecia. Não importava a gravidade, meus ferimentos se curavam. Minha força tornara de dez homens. Eu estava indestrutível. Poderoso. Corri mais do que depressa para fora do laboratório Ômega. Desleixado, não me importei com o estado de minha aparência. Havia passado tanto tempo solitário, que quando retornei, apenas uma pessoa eu desejava reencontrar. A pessoa pelo qual não me fez perder a lucidez nos meus momentos de maior fraqueza. Meu único amor. Precisava vê-la. Avisar que havia retornado. Vivi mais que qualquer homem da face da Terra sonhara viver e quando eu a vi... Ela... estava com você. Aquilo foi demais para mim... Eu, um ser poderoso. Um deus! Você acha realmente que esse seu dom da Força é páreo para o que eu me tornei?

Um pequeno sorriso atrevido surgira de canto de boca. Robert transbordava arrogância.

– Como está sendo prazeroso ver essa sua cara. Lembrei-me do Edmund. Vê-lo acreditar que eu havia mudado no início, foi muito hilário. É muito fácil fingir estar sem memória. – gargalhou insolentemente alto – Voltei, porque desejava mais poder. Apenas isso. Tornar-me mais poderoso e... Tudo bem. Tudo... bem. Eu direi a verdade. No início, eu acreditei que, de alguma forma, como aconteceu na primeira vez, eu poderia voltar ao passado. Só que, não no dia do meu nascimento. Não, não! Queria voltar, para quando a conheci. Com esses poderes, Anne me amaria. Mas, veja o acaso. Analise a minha sorte. Por algum erro, você e os outros, surgiram dentro do Ponto-X. Indefesos. Seria muito fácil matá-lo dentro daquele caixão. Dormindo. Sem dor. Não! Fácil demais. Você tinha que sofrer. Sentir tudo o que senti. Perder tudo que perdi. E, mesmo que todo meu planejamento saiu errado, no final, eu venci. Ganhei! Quem imaginaria que na minha frente estaria você e Anne. Os dois desgraçados que arruinaram minha vida. Sinto lhe dizer meu caro, mas você não sairá com vida. Seu verme!

Aquelas foram às últimas palavras profanadas, pois, em uma velocidade descomunal, Robert partiu em disparada.

–Fuja Anne! Se esconda. Assim que tiver alguma brecha, você... – Tarde demais. Não houve tempo para suas palavras sofrerem efeito. I.N sente seu abdômen contrair por aquilo que imaginara ser o braço inimigo. Meio segundo depois, outro golpe é transferido. Dessa vez, como um coice de cavalo, crê que seja um chute; é então instantaneamente arremessado para longe de seu afeto. De seu amor. A dor latejante o faz retorcer por completo. Mal dera tempo de se levantar, de se recompor e respirar, para que outro golpe é transferido. Este, muito mais potente que o primeiro. Ou seria esse o segundo? Ou o terceiro golpe? I.N já não sabe mais. Tudo gira. Sem forças, ajoelha. Seu corpo pesa. Dói. O gosto de sangue surge em sua boca. Robert, pode não ter o dom de controlar a gravidade,mas está muito forte e, para piorar, seus machucados realmente estão desaparecendo.Curando-se. Um único pensamento aflora em I.N: "Como vencerei?".

PROJETO I.N - DESPERTAROnde histórias criam vida. Descubra agora