Os sete dias haviam passado e I.N pôde se sentir vivo novamente. Andava pelos quatro cantos, cantarolava, corria... mas ainda faltava algo. Algo que desejava muito: uma suculenta maçã. O quanto esperou pelo fruto proibido. Pelo seu caviar. Claro que I.N não sabia o gosto do caviar, mas, aquela maçã, em Paraíso, era o único alimento diferente da gororoba. Portanto, era controlada por todos. Uma maçã por semana. E hoje era o seu dia. Sua graduação. Seu primeiro alimento sólido. – Deliciosa. – limitou-se a dizer.
– Não, S.F, não consigo. Não faz sentido. Nada disso faz sentido! Não vem nada em minha mente. Podemos dar uma paradinha pra descansar? Minha cabeça já está começando a doer.
– Fraco! – Soa uma voz ao lado.
– Tudo bem, I.N. Cinco minutos de descanso, porém, precisamos correr, já que à noite você precisa estar preparado para o que irá acontecer. E, A.E, você prometeu ficar calado e não interromper!
– Foi mal, foi mal. Questão do momento. Não podia deixar de gozar da cara dele.
– Eu tenho uma pergunta. – inicia I.N – Na verdade, é mais uma dúvida de quem esteve calado por todo esse tempo. Desde o dia que me foi apresentado Paraíso que eu estou intrigado com aquela cruz lá do portão. O que ela representa?
S.F sorri e, momentaneamente, diz:
– Aquele símbolo já estava lá quando acordamos e, muito provavelmente, também estava lá quando Robert chegou. Mas, pesquisando, eu descobri que aquele símbolo é chamado de Ankh. É uma cruz em que os egípcios usavam para indicar a vida após a morte, ressurreição. Entendeu?
– Entendi sim. Maneiro. E você acredita nisso?
– Nisso o quê?
– Em vida após a morte...
– Ah, I.N, creio que eu seja ateu. Sei lá... – pensou por um instante. Ofegou. – Não acredito muito em Deus. Eu O amo e tal, mas não acredito que haja um ser superior comandando tudo de cima. Eu... eu acredito em minha mente. Em minha capacidade de fazer o melhor. O bem. Porque sei, que no fim, a morte vai chegar para todos. E mesmo que eu esteja errado, que Ele realmente exista, eu teria que te perguntar o porquê d'Ele não tirar a gente daqui. Que mal fizemos para tal?
– Credo, S.F! Vira essa boca para lá. Espero que demore muito para chegar esse dia. Não fizemos mal a ninguém e, por isso, sei que sairemos daqui. – Respondeu, todo esperançoso.
– Isso se esse dia já não chegou. – Riu o sabichão, referindo-se ao nome que deram ao lugar (Paraíso).
– E hoje? O que vai acontecer hoje à noite? – Pergunta, sem ter a resposta que deseja. Alegaram que no final do dia ele saberia. Frustrante. Havia virado um hábito não responderem nada sobre Paraíso.
S.F dá as costas para I.N (que está deitado sobre a cama) e para A.E (depois de muita insistência para permanecer no local, o pequeno encontrava-se agachado ao pé da cama, estranhamente calado) e então, do armário, retira um surrado livro de couro negro. A rapidez do sabichão não dá chances para os garotos verem detalhes expressivos da capa. Apenas o título estampado: "Fausto - Von Goethe". Pelo olhar, S.F estava impressionado com o que lia. E, antes de fechá-lo, declama:
– "A idade não nos torna adultos. Não! Faz de nós verdadeiras crianças".
A.E olha para I.N e com o indicador ao lado da orelha faz círculos apontando para S.F (simbolizando "ele é maluco"). Foi o suficiente para cortar todo o barato do garoto de óculos bolinha.
– Ok. Ok. Vejamos... – o sabichão procura agora algo específico em meio a tantos livros. Ele procura suas anotações. As encontra. Folheia-as por alguns instantes. – Eu venho praticando um método, – começou S.F ajeitando seus óculos e dando um leve tapa na cabeleira – ou melhor, ainda está só na teoria, só que... eu gostaria de pô-lo em prática. Se você me permitir, posso tentar e, quem sabe...
– Vamos tentar! – cortara I.N, sem dar chance de S.F retrucar – Esses métodos utilizados até agora não me fizeram efeito nenhum. Vamos tentar algo novo e ver o que virá.
– Ótimo! Muito bom. Muito bom mesmo! Estou animado. É... vejamos... deite-se e procure relaxar, que eu explicarei o funcionamento da teoria do processo de pensamento. Eu que inventei esse nome. – Gabou-se.
– Mas o que quer dizer...
O sabichão ajeita seus óculos e como em um início de corrida, dispara a toda velocidade: – O processo de pensamento é a ativação ou inibição dos complexos de sensações associadas que torna possível o fenômeno representacional psíquico, que se dá através da energia que flui no sistema nervoso pelos sistemas de neurônios. Podemos distinguir, neste processamento, um primário e um secundário. Associado ao inconsciente, o processamento primário do pensamento é aquele que dirige ações imediatas ou reflexas. Já o processo de pensamento secundário, por outro lado, está associado ao pré-consciente. Nele, o escoamento de energia mental fica retido, só acontecendo após uma série de associações, as quais refletem no aparelho psíquico.
– Mas que porra é essa? – Interveio I.N, como um tiro desgovernado, assustando os presentes. A.E riu. Já S.F...
– O que quero dizer, engraçadinho, é que feche seus olhos.
– Fechar meus olhos? Por que não falou antes que era só isso?
A.E ri novamente. S.F continua compenetrado em suas palavras.
Já deitado, I.N vai relaxando. Os olhos começam a pesar. Sussurrando em seu ouvido calmamente entre uma pausa ou outra, S.F pede para que ele busque no íntimo do seu eu alguma lembrança do passado. Qualquer coisa. Um cheiro. Uma visão. O gosto da comida preferida.
– Lasanha. – vem à mente de I.N. – Uma farta travessa de lasanha. Três? Não! Quatro, ou seria melhor cinco? Sim! Cinco camadas de massa de lasanha intercaladas por presunto e mussarela e, para completar, molho vermelho com azeitonas. – Meu Senhor, como quero comê-la. – Salivou.
– Isso, I.N. Você está conseguindo. Concentre-se mais. Deixei seu corpo navegar na imensidão que é o subconsciente.
Com os olhos fechados, forçando o máximo possível sua memória, o garoto tenta desesperadamente encontrar aquela agulha no palheiro em forma de lembrança. Mas o que procurar se nem ao menos sabe por onde começar? Não. Não podia pensar. Deveria fazer como o S.F pediu. Esvaziar-se.
– Ele já está em transe, S.F?
– Psiu, A.E! Silêncio... silêncio. Agora, I.N, você está cada vez mais leve. Mais vazio. Sua alma acabou de deixar seu corpo frágil. Ela está viajando para longe, bem longe. Distante. Onde estaria ela agora?
Foi então que, subitamente, I.N,salta do divã. Completamente suado e com olhos arregalados, assustado, ele grita: – O MUNDO VAI ACABAR EM 2060!
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PROJETO I.N - DESPERTAR
Science Fiction*** Livro sem REVISÃO PROFISSIONAL. Contêm erros gramaticais e de digitação. Este foi minha primeira tentativa de escrever algo e, portanto, necessita de melhorias. O quanto antes passará por revisão profissional. Espero que entendam. *** Obra regis...