Capítulo 4 (Revisado)

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Onde estamos? O que são todas essas pessoas? Acordem! Meu Deus, o que está acontecendo? Socorro! Me tirem daqui. Socorro!

– Calma! – foi em um tom alto, calmo e claro que Edmund tomou conta da situação. – Qual o seu nome?

– Robert. Meu nome é Robert.

– Certo, Robert, eu sou Edmund e precisamos manter a calma! Tudo vai dar certo. Achei uma saída.

O local era muito escuro, imbuído por um forte odor de sangue e suor. Robert e Edmund, os dois recém-acordados, retiraram um a um os garotos que se encontravam num sono profundo.

– Meu Deus, o que aconteceu? Está diferente! Muito diferente. – Repetia o enérgico Edmund.

– Diferente do quê? O que está acontecendo? Você sabe algo? Me diz. – Depois de incansavelmente tentar obter alguma resposta, Robert desiste.

Edmund tinha a mesma idade que Robert. Seus cabelos eram longos e negros. Sua pele, muito branca. Tão branca que o sangue do nariz de um dos garotos desacordados que esbarrara em seu ombro deixou a mostra um brilho remanescente. Um vermelho intenso.

Paraíso era bem diferente dos dias atuais. Pelo menos no começo. Antes não tinha nada. Exatamente nada. A não ser pelos muros altos que rodeavam o terreno, os pés da frutífera central e aquela sala escura de onde eles saíram. Neste dia, Robert e Edmund, os únicos dois acordados, passaram a noite em claro. Assustados.

– Robert...

– Que foi, Ed?

– Olhe para cima.

– Hã?

– O que seria aquilo?

– Aquilo o quê? Não estou vendo nada.

– Olhe para seu lado direito, homem! Não está vendo? É um meteoro passando. Ou seria asteroide? Ou cometa?

– Asteroide, cometa, meteoro... Pra mim não serve pra nada. Vai me tirar daqui? Não? Então, não quero nem saber! – Debochou Robert.

– Cruz credo! Que rancor! Bem, já que vi primeiro, eu digo que é um cometa e vai se chamar Edmund. Cometa Edmund. – Gargalhou o descobridor ao dar o seu nome ao objeto visto por eles. Foi o único momento de descontração da noite.

Desde o primeiro momento, Robert e Edmund ficaram amigos. Inseparáveis. Perceberam que não estavam em um lugar comum. Lá o tempo era diferente. Não só o tempo, mas tudo ao redor também. O Sol exibia sua monstruosa exuberância de tão próximo que estava, mas não queimava. Já à noite, não havia Lua e as poucas estrelas que davam o ar da graça pareciam aqueles pisca-piscas de natal: uma noite brilhavam que nem vagalumes relutantes, na outra estavam fracas e com pouco brilho; houve vez que chegaram até a desaparecer por completo, como se alguém apagasse com a borracha todo o conteúdo. O momento mais incrível ficava por conta do céu. O céu era um espetáculo à parte. A cada dia, os meninos eram brindados por uma coloração diferente. Havia manhãs onde a presença atmosférica se mostrava num tom roxo escuro e as noites eram amareladas. Já em outras, a panorâmica permanecia em um vermelho vivo.

Enquanto um vasculhava a sala escura, o outro cuidava do restante do grupo. Mesmo que estes permanecessem dormindo. Foram apelidados de Sonhadores, por nunca acordarem (Uma espécie de coma profundo). Foi num desses dias de patrulha pela sala escura que Robert encontrou o interruptor dando luz e vida ao local conhecido futuramente por Bucho. Na parede com a escotilha encontrava-se um pote de alumínio e, dentro, a famosa comida enlatada em forma de purê. Não ligaram para o gosto horrível. Estavam famintos. Porém, foi lá, naquele lugar, que perceberam que não estavam sozinhos. Alguém os vigiava. Os alimentava. Naquela salinha, Robert e Edmund passaram horas e horas gritando até seus pulmões doerem. Exaustos, clamaram por ajuda, por explicação. Tentativas e planos frustrados à procura de alguma forma abrir aquela escotilha. Aquela era a nova realidade. Além de perdidos, precisavam cuidar de garotos que aparentavam nunca mais acordar. Por sorte, tinham um ao outro.

– Robert, acorda! Meu Deus, Robert! Acorde logo, homem! Vamos, acorde!

– O que foi, Ed? O que foi? Que horas são? Se for cedo, eu te mato. Por que essa euforia toda?

– E você lá sabe o que é cedo ou tarde? Acorde logo que aconteceu algo muito estranho. A sala... ela... não é a única. Ela... – bufa – O senhor está prestando atenção no que estou dizendo? Olhe para lá que você não vai acreditar!

Robert, ainda sonolento, levanta, meio cambaleando, esfregando os olhos e se põe a olhar o motivo da algazarra e euforia. Demorou a acreditar no que via, afinal, não mais existia só a sala escura. Agora, surgira um enorme barracão cercado por um complexo de choupanas. – Mas... mas... mas... – Era só o que saía da boca dele.

– Eu te falei que você não iria acreditar! Essa sua cara de espanto está a mais engraçada.

Ed foi entrando casa por casa. Armários, camas, livros, roupas, espelhos, travesseiros, escovas de dente, pentes e, por fim, uma infinidade de quinquilharias foram encontradas. Enquanto isso, Robert partira direto ao barracão central, entrando sorrateiramente pela porta convidativa.

Ao entrar, logo de cara, notou um corredor estreito e linear. Estava muito escuro para ele enxergar qualquer coisa. Vagarosamente, foi de encontro a um painel eletrônico desligado. Logo abaixo, um botão vermelho. Robert apertou-o, lançando bactérias anaeróbicas que trataram de consumir os resíduos dentro do painel e dele percorreram todo o teto. A bioluminescência tomou contado recinto. Do painel, surgira a frase: "BEM-VINDOS".

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