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Marcados pela dor. Parte III

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A tarde transcorreu tranquila.

Mas o que me surpreendeu foi na hora do almoço, estava tão concentrado nas anotações da Clara que nem sequer lembrei de comer.

É impressionante o trabalho que ela fez, tudo está minuciosamente detalhado, é impressionante a precisão dos exames que ela exigiu, os detalhes que ela observou. Me atrevo a dizer que é um trabalho de mestre.

Enfim estava concentrado nas evoluções do Lucas, quando uma enfermeira entrou para deixar o meu almoço na sala. E o mais incrível foi ver que o prato era um dos meus favoritos, espaguete com almôndegas e molho especial. Mas o que me deixou mais surpreso e ao mesmo tempo muito contente, foi que a enfermeira me garantiu que a Clara havia mandado trazer o almoço até mim.

Ela ainda pensa em mim, ainda se preocupa comigo.

Um sorriso bobo brota em meus lábios.

Ela apareceu algum tempo depois do almoço, e aproveitei para agradecer, e junto com ela discuti algumas anotações feitas por ela mesma e de outros médicos, a respeito do caso.

Não toquei mais em assuntos pessoais e com o tempo notei que ela foi relaxando e conseguimos trabalhar como bons profissionais.

Mesmo assim posso dizer que meus olhos não desgrudaram dela, dos seus movimentos, de cada gesto seu que me parecia tão familiar e ao mesmo tempo tão único e singular. Suas expressões faciais, seu tom de voz, tão doce mesmo falando de coisas tão sérias.

Tio Viccenso apareceu logo mais a tarde para ver como andava o caso.

Conversou um pouco comigo e com a Clara, na verdade esse foi o momento que ela ficou mais tensa ao meu lado, porque titio estava contando as gracinhas que minha filha fez durante a hora do almoço, e acabou esclarecendo o que eu já tinha praticamente certeza.

A Clara e minha filha vivem com ele e titia. O que me deixou muito feliz e aliviado.

Agora estou indo em direção ao momento mais aguardado do meu dia.

Desde que tio Viccenso me deu a certeza de que minha filha estava na mesma casa que ele e titia, eu não pensava em outra coisa, a não ser ir vê-la.

Óbvio que sai algumas horas antes do plantão da Clara terminar, porque mais óbvio , que ela não me quer perto da minha filha, e por mais que eu odei isso, também entendo o lado dela.

Passar tudo que ela passou, enfrentar tudo o que enfrentou sem meu apoio. Em momento algum eu a ajudei, ou estive ao seu lado para prestar qualquer auxilio. Eu fui imprudente e irresponsável, e agora estou pagando por isso.

Eu deveria tê-la ouvido naquele dia infeliz, eu deveria ter ido atrás dela, deveria ter esperado a criança nascer para depois julga-la.

-Ahhhh tantos "deveria" e nada além disso! Droga!-soco o volante do carro com raiva de mim.

Sim, antes de sair do hospital eu pedi um carro de aluguel para me locomover aqui por enquanto. Não sei por quanto tempo vou ficar em Boston e não pretendo ficar andando de táxi para cima e para baixo.