Capítulo 11

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FOMOS ACORDADAS NO MEIO DA NOITE. DO LADO DE

FORA das janelas altas e retangulares o céu estava preto como carvão. Dei

um pulo na cama, em pânico e suando. Alarmes soavam por todo o palácio e

as pesadas passadas dos soldados ressoavam pelos corredores e escada

abaixo, ecoando nas paredes espessas de pedra. Ainda sonolenta, meus

olhos se adaptavam lentamente à escuridão, mas eu conseguia perceber a

silhueta das meninas do quartel vestindo os uniformes com rapidez.

— Rápido, vista-se — Vashti disse.

— O que está acontecendo? — eu perguntei, confusa.

— É a Noite da Morte — Vashti respondeu, apertando o cadarço

das botas. Enquanto dava os nós, pude ver que as mãos dela tremiam.

— Noite da Morte? — eu engasguei ao pronunciar essas palavras.

Ela se sentou ao meu lado.

— Eles pegam os prisioneiros capturados nos assaltos noturnos e

fazem pares com os soldados da Nova Guarda. Depois, lutamos com eles

até a morte. É um treinamento de guerra.

No escuro, tentei olhar para os olhos castanhos de Vashti,

absorvendo as palavras dela. Depois ouvi a voz de Portia nos chamando da

— Estejam no pátio em dez minutos para o Teste de Patente.

— Corra — Vashti disse de novo, tocando no meu ombro. — Você

precisa colocar seu uniforme.

A noite estava fria e escura. Fiquei perto de Vashti, seguindo as

longas filas de soldados do palácio para a área externa. Ao longe, as chamas

das tochas iluminavam o pátio murado, lançando sombras bruxuleantes e

fumaça. As chamas pulavam loucamente com o vento, e pedaços de fogo se

soltavam e morriam no ar.

— Para o pátio externo — um soldado chamou, e as tropas

marcharam em fila para o que antes foram fontes e gramados com arbustos

aparados. Sob a luz das tochas ardentes, olhei para os guardas patrulhando

os corredores entre as torres e a torre de observação que dava para os

pátios. Sob a fumaça que saía das lamparinas de carvão, guardas

caminhavam para cima e para baixo, vigiando a área.

A multidão de soldados reunida no pátio assistia a tudo com

ansiosa expectativa. Um caminhão a diesel roncou ao longe, e o brilho dos

faróis lançava uma luz no chão pavimentado de pedra. As palavras pintadas

em preto na lateral do caminhão, como um cartaz gigante, diziam: UMA

NOVA GUARDA PARA NOVOS TEMPOS.

Um silêncio se espalhou pela multidão quando um soldado se

aproximou da traseira do caminhão. Os guardas se afastaram enquanto ele

A Última PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora