NA SEMIESCURIDÃO DAS PRIMEIRAS HORAS DA MANHÃ,
seguimos os guardas pela estação Paddington, desviando das gotas de
chuva gelada que jorravam pelo teto quebrado. Passando pelas bilheterias,
em que tábuas de madeira fechavam as janelas, pelos trabalhadores
descarregando carvão e madeira de vagões de carga, e pela mulher de cabelo
branco na deserta área das lanchonetes vendendo xícaras de chá de uma
chaleira de alumínio. A poeira que caía do teto pousava na nossa cabeça
como neve.
Fora da estação, o ar da manhã já estava espesso com a fuligem
cinza. As ruas pareciam assustadoramente desertas. Sem luz artificial, era
impossível para qualquer pessoa começar a trabalhar até o meio da manhã.
Nosso Aston Martin preto era o único carro na rua, apesar de haver vários
cavalos, a maioria amarrada a carruagens ou a carroças grosseiras. Alguns
poucos cidadãos mais ricos que podiam ter um par de cavalos os tinham
acorrentado pelas selas a caminhonetes de metal. Os animais tinham uma
aparência horrível: olhos arregalados e tristes, e corpos muito magros.
Pensei em Jasper, bem alimentado e livre para correr pelos campos da
Escócia, e me senti culpada.
— As galerias estão transbordando — Mary reclamou ao entrar no
Só pude balançar a cabeça enquanto partíamos em direção ao
palácio. Eu segurava a carta de Polly no bolso. Ruas alagadas eram o menor
dos nossos problemas.
Quando atravessamos os portões do Palácio de Buckingham, os
guardas estavam em alerta e nos saudaram. Eles ainda usavam os
tradicionais chapéus pretos e casacos vermelhos com botões brilhantes de
cobre. O palácio em si não havia mudado muito, apesar de a fachada de
tijolo e pedra calcária estar escurecida pelo ar sujo, e de a maior parte das
janelas ter sido fechada com tábuas para não deixar o frio entrar. Nós
morávamos em uma pequena área do palácio. O resto estava fechado para
conservar luz e calor, itens preciosos naqueles dias. Havia tão pouco óleo
sobrando nos nossos tanques que o guardávamos somente para os dias
mais frios.
Dentro do grande hall na Asa Leste, nosso pai estava nos esperando,
ladeado por dois soldados portando espadas. Por mais animada que eu
estivesse de encontrá-lo, fiquei imóvel ao ver os guardas. Eles nunca
ficavam lá dentro antes.
— Mary, Eliza, Jamie! — nosso pai nos chamou com sua voz grave e
os braços abertos. Corri até ele e enterrei o rosto no suéter macio que ele
estava usando, respirando aquele familiar cheiro de especiarias. Queria ficar
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A Última Princesa
Fiksi RemajaUma série de desastres naturais dizimou a terra. Afastada do resto do mundo, a Inglaterra é um lugar sombrio. O sol raramente brilha, a comida é escassa e grupos de criminosos perambulam pelas florestas, buscando caça. As pessoas estão ficando indóc...