Capítulo 22

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AS ROUPAS MOLHADAS CONGELAVAM NO MEU CORPO E

EU tremia de frio. Minhas costas latejavam de dor. A rua à frente entrava e

saía de foco. Tentei visualizar um mapa para a Escócia que costumava ficar

no escritório do meu pai. Estive lá várias vezes na vida, mas tudo de que

conseguia me lembrar eram linhas sinuosas em uma moldura ornamentada

e de cor marrom.

Olhei para o céu procurando a Estrela Polar. E lá estava ela, onde

sempre estivera. Era reconfortante pensar que, mesmo com o mundo tendo

mudado tanto, as estrelas ainda eram as mesmas. Se eu usasse o céu como

guia, tinha esperanças de achar o caminho para a antiga via expressa — e

de lá para a Escócia.

— Vai ser uma longa viagem — eu disse para Calígula, alisando-lhe

o pescoço.

Enquanto seguíamos nosso caminho, o vento levantava pedaços de

lixo que voavam na nossa direção: um guarda-chuva quebrado girando

perigosamente; pedaços sujos de papel. As cinzas faziam meus olhos arder.

Calígula disparou pelas estradas esburacadas, levando-nos para fora da

cidade. Passamos por casas nos subúrbios de Londres, shoppings cinzentos

e abandonados, e por estacionamentos que mais pareciam cemitérios,

cheios de carros enferrujados que abrigavam os corpos de motoristas

mortos há muito tempo.

Uma placa desbotada de estrada dizia ESCÓCIA: 610

QUILÔMETROS. Rios de lágrimas quentes pingavam dos meus olhos. As

estrelas riscavam o céu e deixavam rastros borrados. Eu continuava

repassando mentalmente, várias e várias vezes, os eventos da noite. Não

podia acreditar que tinha encontrado Mary e Jamie só para fracassar com

eles. Não podia acreditar que o homem que eu vinha fantasiando matar era

o pai de Wesley. Minha cabeça girava pensando nisso. E eu piscava sem

parar na noite fria enquanto o vento me chicoteava.

O frio se instalou nos meus ossos e comecei a tremer de maneira tão

violenta que não conseguia ficar ereta. Cutuquei Calígula para que entrasse

na floresta que margeava a estrada. Eu precisava descansar.

Minhas pernas estavam tão trêmulas que, ao desmontar, acabei

caindo de joelhos no chão frio. Círculos luminosos dançavam diante dos

meus olhos. Eu não sabia quão longe estávamos da via expressa, mas rezei

em silêncio para que estivéssemos longe o suficiente. Encolhi-me sobre

uma pilha de gravetos e raízes de árvores, tentando tirar o casaco gelado da

Nova Guarda. Ele estava tão molhado que ia me fazer mais mal do que bem.

Tentei esquentar os dedos congelados com minha respiração, juntando as

A Última PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora