Capítulo 33

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NOSSOS OLHOS FORAM VENDADOS. NÃO CHEGUEI A VER

O rosto dos soldados que vieram nos buscar; apenas ouvi as vozes deles.

Enquanto nos preparavam para nossa execução, percebi que não eram

maus nem duros, apenas eficientes.

Um dos homens, com uma voz baixa e mãos que cheiravam a

cigarro, disse para ficarmos com as mãos atrás das costas. Quando me

amarrou os pulsos, a mão dele parecia uma lixa.

Ouvimos o barulho de chaves e da porta da cela se abrindo.

— Mary, Elizabeth, James — disse o homem, nos colocando em fila

por idade. Marchamos em seguida pelo corredor e descemos a escada em

espiral. O guarda segurava meus pulsos tão apertado que comecei a não

sentir mais os dedos.

— Cuidado, Jamie — eu sussurrei. Eu estava prestes a lembrá-lo de

sempre segurar no corrimão quando me lembrei de que as mãos dele

também estavam amarradas.

Como não podia ver nada, eu dava passos pequenos. Então me veio

a nítida lembrança de uma vez em que Bella, ainda filhote, saiu para buscar

um graveto em cima de uma poça congelada. Eu fui na ponta dos pés,

caminhando sobre o gelo, para pegá-la. E a maneira como eu andava agora,

como se estivesse com medo de que o chão se partisse embaixo de mim, me

lembrou da forma como caminhei sobre a água congelada naquele dia.

Ouvi Mary na minha frente. Mesmo agora, ela se movia com os

passos elegantes e firmes de uma rainha. De todos nós, ela tinha a visão

mais clara do próprio futuro e da vida que agora era forçada a abrir mão.

Lembrei-me de quantas vezes ela costumava dizer: "Quando eu casar";

"Quando eu for rainha"; "Quando eu tiver filhos". Ela tinha uma lista com os

nomes de menino de que mais gostava, e outra com nomes de menina. Hoje,

ela não iria gritar nem perder a compostura. Ela permaneceria forte. Morrer

de forma graciosa não foi exatamente algo que nos ensinaram nas nossas

aulas de etiqueta, mas Mary tinha vivido como uma rainha por dezoito

anos, e eu tinha certeza de que ela morreria como uma.

Perguntei-me o que diriam de nós um dia, quando as crianças

chegassem ao nosso capítulo dos livros de história. Seríamos mesmo os

últimos da linhagem da verdadeira monarquia britânica?

Ao pé da escada, o ar tinha cheiro de pedra e de chuva fria. As

portas se abriram e senti o alívio do ar fresco no rosto. Senti também uma

gota de chuva na bochecha, depois outra na testa.

Meu estômago se revirou com um medo repentino. Aquela era a

última vez que eu sentiria os cheiros e as sensações do começo da manhã,

ou a chuva no rosto. Depois de tudo o que tinha acontecido, tudo o que eu

A Última PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora