Capítulo 21

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CONCRETO OU FACA? ESSAS ERAM AS PALAVRAS QUE

piscavam na minha cabeça enquanto eu me aproximava rapidamente da

água. Quando eu e Mary ficamos mais velhas e mais ousadas em nossos

mergulhos, nos graduamos do galho da árvore perto do lago para

despenhadeiros mais altos. A intensidade da dor depende da maneira como

se mergulha: entrando como uma faca na água, sem problemas. Mas quando

se mergulha do jeito errado, a água pode ser tão dura quanto concreto.

Eu fui caindo, girando no ar, por todo o comprimento da Torre. A

água estava a cerca de três metros de distância quando me ajeitei,

estendendo os braços à frente do corpo, esticando-o, e encostando bem o

queixo no pescoço. Mas a velocidade da queda me fez girar mais uma vez, e

meus pés acabaram atingindo a água primeiro, o que me levou direto para o

fundo lamacento do fosso.

A água era completamente escura. Eu não conseguia ver a

superfície. Entrei em pânico e meus pulmões começaram a queimar por

causa da falta de ar. Alguma coisa parecida com uma mão molhada

encostou na minha bochecha e eu gritei — ou tentei gritar, porque minha

boca se encheu de água. Cobras de esgoto! Comecei a chutar

freneticamente, batendo os braços na água para chegar à superfície.

Eu estava ofegante ao chegar à superfície, sorvendo o ar como uma

pessoa faminta devora um prato de comida. Nadei até a beirada do fosso,

apertando as mãos contra as pedras do muro, procurando alguma coisa,

qualquer coisa, em que me segurar, mas o muro era todo coberto com um

musgo verde-claro que fazia meus dedos escorregarem.

Atravessei a água, chutando e batendo freneticamente nas cobras de

esgoto. Uma delas se aproximou rápido e me mordeu no pescoço. Cobras

de esgoto eram como sanguessugas: para se alimentar, agarravam-se à pele

da vítima e lhe sugavam o sangue. Meu grito ecoou pelo fosso enquanto eu

atirava a cobra para longe de mim.

A ponte levadiça baixou sobre o fosso e soldados correram para

atravessá-la, as armas apontadas para mim. Olhei em volta em pânico,

ainda lutando contra as cobras de esgoto. O único lugar em que eu podia

me esconder era embaixo da ponte, mas seria só uma questão de tempo até

eles perceberem.

Eu precisava lhes dar o que eles queriam. Assim, balancei os braços,

batendo-os acima da cabeça, e afundei. Depois, apareci na superfície de

novo, sem fôlego, e afundei novamente. Então fechei os olhos com força,

segurei a respiração, mergulhei no fundo escuro do fosso e esperei. Meus

A Última PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora