NUVENS ESCURAS DE FULIGEM ATRAVESSAVAM O CÉU DA
cidade. O dia virava noite. Um som de manivela vinha da parte de trás da
torre. A ponte levadiça estava sendo baixada e os guardas estavam
trocando de posições — bem no horário. Agachei-me, pronta para correr,
alongando, com um sorriso amargo, os músculos doloridos.
Eu tinha passado o dia examinando minuciosamente a Torre, e
agora conhecia cada centímetro do terreno, do fosso e do muro em volta da
construção. Tinha decorado os horários da ponte levadiça. Se eu me
apressasse, alcançaria os soldados que estavam prestes a entrar na Torre e
me juntaria a eles, entrando despercebida, em seguida, na cozinha. De lá eu
seguiria o jantar de Hollister até o quarto dele, cuja localização poderia ser
secreta mesmo para os súditos, mas os roncos do meu estômago me
lembravam que todo mundo precisa comer.
Disparei na direção do muro que circundava a Torre, me mantendo
abaixada e confiando na escuridão para me esconder. Parei por um
momento à sombra do muro para recuperar o fôlego e limpar o suor da
testa. Duas filas de guardas marchavam firmemente em direção à ponte
levadiça. Quando o último soldado passou, entrei na fila atrás dele,
mantendo a cabeça baixa e seguindo o ritmo dos pés dele.
Estremeci quando atravessamos a ponte levadiça que levava à
Torre. Desde que a visitara quando era pequena, sempre tivera muito medo
dela. A guilhotina, as marcas na pedra onde a lâmina tinha batido diversas
vezes, as manchas de sangue que ainda existiam depois de centenas de anos
de chuva. Eu pensava nas câmaras de tortura, onde prisioneiros inocentes
sofreram — e ainda sofriam. E me perguntava se eles gritavam, sem serem
ouvidos nem respondidos, como a mulher no parque. Eu sabia que os gritos
dela iriam assombrar meus sonhos e me dar pesadelos.
Já lá dentro, encontrar a cozinha foi fácil: só precisei seguir o cheiro
de comida e a fila de soldados famintos. Mantendo os olhos sempre baixos,
entrei no fim da fila, me misturando com os outros ao passar por uma
entrada de pedra. Apertei a arma escondida dentro do casaco. Nos
corredores escuros da Torre de Aço, um sino bateu e uma voz soou lá de
cima: — Hora de alimentar os prisioneiros.
A fila de soldados se encaminhou para uma cozinha úmida,
localizada em um calabouço. Panelas de ferro borbulhavam sobre o fogo. Lá
dentro, vários cozinheiros cortavam a cabeça e o rabo de ratos e ratazanas,
de cobras de esgoto e de sapos. Em seguida, tiravam a pele dos animais e
jogavam as carcaças nas panelas. Uma gaiola no chão, perto do fogo, estava
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A Última Princesa
Teen FictionUma série de desastres naturais dizimou a terra. Afastada do resto do mundo, a Inglaterra é um lugar sombrio. O sol raramente brilha, a comida é escassa e grupos de criminosos perambulam pelas florestas, buscando caça. As pessoas estão ficando indóc...