FIQUEI OLHANDO PARA O CAMPO QUANDO OS
CAMINHÕES nos levaram pela estrada suja que saía do palácio. Disseram-
nos que participaríamos de um assalto em uma cidade chamada Mulberry.
Não fiz nenhuma pergunta. Tinha aprendido a lição. Fazia três dias que
Portia colocara as raposas mortas na minha cama, e, desde então, eu vinha
tentado me manter fora do caminho dela a maior parte do tempo. O mantra
que eu tinha inventado para mim na minha primeira noite havia se tornado
mais importante do que nunca. Fique calma. Não faça perguntas. Seja paciente.
Mas eu sempre sentia os olhos dela sobre mim.
A lua estava clara, então pude ver edifícios sem janela rodeados por
cercas de arame farpado. Virei-me para o soldado ao meu lado. Ele tinha
olhos castanhos-claros e parecia ter por volta de 15 anos.
— Você sabe para que servem esses edifícios? — eu perguntei
baixinho para ele.
O menino deu uma espiada.
— Não sei — ele deu de ombros. — Nunca os tinha visto.
Ao lado de cada edifício, um fosso gigante havia sido cavado na
terra e preenchido com terra solta. Apertei o rosto contra o vidro. Saindo da
terra, pensei ter visto uma mão humana.
Apoiei a testa nos joelhos, me sentindo enjoada de pavor. Ali devia
ser onde enterravam os corpos dos prisioneiros. Será que os corpos dos
meus irmãos tinham sido jogados naquela pilha imunda? Será que aquela
mão era de Mary ou de Jamie?
Os caminhões seguiram por muitos quilômetros de autoestradas
destruídas, o motor roncando, e depois por ruas estreitas do interior
cercadas dos dois lados por sebes altas demais. De repente, os caminhões
pararam com um solavanco, nos jogando para a frente.
Lá fora havia uma pequena casa caiada com um telhado de palha
parecendo um chapéu marrom. A luz de velas bruxuleava nas janelas da
casa de campo. Um caminho de pedrinhas passava pela treliça do jardim da
frente e ia até uma porta abobadada. O jardim era perfeitamente aparado e
havia uma banheira de pássaros feita de pedra. Quando vi a caixa de
correios vermelha na porta, soube exatamente onde estávamos.
O Sargento Fax ordenou que saíssemos dos caminhões, depois
seguiu com pressa pelo caminho que cruzava o jardim. Ele abriu a porta da
casa com um chute, fazendo-a bater na parede, e ordenou às tropas que
marchassem lá para dentro.
Forcei-me a seguir em frente, esquerda, direita, esquerda, direita,
passando pela soleira da casa das mulheres que me criaram. A primeira
coisa que senti foi o cheiro de chá, torradas e pudim de tapioca. Lembrou-
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A Última Princesa
Подростковая литератураUma série de desastres naturais dizimou a terra. Afastada do resto do mundo, a Inglaterra é um lugar sombrio. O sol raramente brilha, a comida é escassa e grupos de criminosos perambulam pelas florestas, buscando caça. As pessoas estão ficando indóc...