Capítulo 23

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ALCANÇAMOS UMA CIDADE PEQUENA E QUIETA BEM

QUANDO o céu começou a mudar para um tom mais claro de cinza. Puxei

gentilmente a crina de Calígula, sinalizando que diminuísse o passo,

enquanto observava a fila de pequenas lojas: uma padaria, uma alfaiataria,

uma loja de departamentos. Uma igreja branca de madeira com a torre do

sino apontando para o céu como mãos em oração. A cidade era um oásis,

aparentemente intocada pela destruição de Cornelius Hollister.

As ruas estavam silenciosas. As janelas das casas com tetos de

palha, escuras. Com os habitantes do vilarejo ainda dormindo, me senti

segura para levar a égua até um poço em uma montanha, de onde era

possível ver o centro da cidade. Baixei o balde para enchê-lo de água fresca.

Eu estava com sede, mas deixei-a beber primeiro. Calígula estava correndo

há horas e o pelo dela estava úmido de suor.

Quando ela terminou, puxei um segundo balde de água para mim, e

bebi sofregamente. Tinha um gosto tão puro. Em seguida, me larguei no

chão, as pernas trêmulas pelo esforço de cavalgar por tanto tempo. As

feridas nas minhas costas latejavam e havia marcas vermelhas nos meus

braços. Virei-me de lado, puxando a camisa para cima para tentar ver a

fonte daquela dor, então engasguei: eu tinha um corte profundo por todo o

comprimento da minha coluna. Lembrando-me das instruções de Wesley

para limpar qualquer ferida antes que infectasse, mergulhei o balde mais

uma vez no poço e deixei a água fria lavar minhas feridas. Eu iria precisar

de mais cuidados, mas eu sabia que a mãe de Polly teria algum unguento em

casa se eu ao menos conseguisse chegar até Balmoral.

Lembrei-me da primeira vez que vi Polly. Mary e eu estávamos

caminhando na floresta, procurando amoras, quando vimos uma menina

magra, de aparência suja, vindo na nossa direção. Ela carregava duas cestas

cheias de frutinhas maduras.

— Onde você conseguiu isso? — Mary perguntou, e pude ver que

ela estava preocupada que a menina não tivesse deixado nada para nós.

— Eu achei — Polly respondeu com um sorriso contagiante,

mostrando um buraco entre os dois dentes da frente. Ela tinha cabelo liso,

castanho-avermelhado, olhos verdes e redondos, e sardas salpicadas por

todo o nariz.

— Bom, meu pai é dono de todas estas terras, então, tecnicamente,

elas nos pertencem — Mary disse, utilizando sua voz com entonação da

classe A.

O rosto da menina se anuviou enquanto ela olhava com tristeza

para as cestas cheias de frutas.

— Minha mãe ia fazer geleia.

— Não se preocupe — eu disse rapidamente, olhando duro para

A Última PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora