FAZIA ALGUMAS SEMANAS QUE TÍNHAMOS RECEBIDO A
misteriosa doação de penicilina e eu estava finalmente me sentindo eu
mesma. De certa maneira, parecia que eu estava aproveitando só mais um
verão. Polly e eu passávamos os dias juntas enquanto eu tentava recobrar
minhas forças. Caminhávamos pelas redondezas durante o dia e, à noite,
líamos perto da lareira. Mas meus pensamentos ao acordar voltavam
sempre para Mary e Jamie aprisionados na Torre. Eu esperava que eles
ainda estivessem vivos e sem dor.
Certa manhã, descemos para o café da manhã e encontramos Clara e
George à mesa, bebendo chá e comendo pedaços aquecidos de pão marrom
cobertos com framboesas amassadas. Clara estava cortando uma mistura de
cenouras e batatas de aparência envelhecida e jogando-as em uma panela
grande para fazer um ensopado.
— Como podemos esperar que as tropas sobrevivam com isso? —
ela perguntou desanimada.
George balançou a cabeça, concordando, sem sequer tirar os olhos
do rifle antigo que estava tentando consertar. Aquela arma costumava ficar
pendurada na parede do escritório do meu pai como decoração; vê-la agora
me enchia de uma tristeza profunda. Eu sentia muita falta dele.
Sentei-me perto da lareira enquanto Polly fervia água para fazer
chá. Olhei em volta, observando as pilhas de pratos, os sacos vazios de
farinha e de açúcar, os armários também vazios. A cozinha sempre tinha
sido a minha parte favorita do castelo. Era tão aconchegante; não importava
a época do ano, sempre tinha algo no fogo. Eu costumava pensar que, se o
castelo fosse um corpo, a cozinha seria o coração.
— Como você está se sentindo hoje? — Clara me perguntou com
cuidado.
— Melhor, eu acho — eu respondi. O fogo da lareira às minhas
costas dava uma sensação gostosa. Girei os ombros e alonguei o pescoço.
Meus músculos ainda estavam fracos, mas não doíam mais.
Clara ergueu os olhos, buscando o olhar do marido, e fez um gesto
com a cabeça para ele.
— Eliza — George falou, colocando na mesa as ferramentas que
estava usando para consertar o rifle. — Precisamos falar com você.
— Estávamos esperando você se sentir melhor — Clara
interrompeu. Ela olhava de forma hesitante ora para o marido, ora para
mim. — Parte meu coração dizer isso, mas não achamos que seja seguro
você ficar mais tempo conosco. Estivemos procurando uma família para
abrigá-la, pessoas com as quais achamos que você estará segura.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Última Princesa
Teen FictionUma série de desastres naturais dizimou a terra. Afastada do resto do mundo, a Inglaterra é um lugar sombrio. O sol raramente brilha, a comida é escassa e grupos de criminosos perambulam pelas florestas, buscando caça. As pessoas estão ficando indóc...