Capítulo 26

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FAZIA ALGUMAS SEMANAS QUE TÍNHAMOS RECEBIDO A

misteriosa doação de penicilina e eu estava finalmente me sentindo eu

mesma. De certa maneira, parecia que eu estava aproveitando só mais um

verão. Polly e eu passávamos os dias juntas enquanto eu tentava recobrar

minhas forças. Caminhávamos pelas redondezas durante o dia e, à noite,

líamos perto da lareira. Mas meus pensamentos ao acordar voltavam

sempre para Mary e Jamie aprisionados na Torre. Eu esperava que eles

ainda estivessem vivos e sem dor.

Certa manhã, descemos para o café da manhã e encontramos Clara e

George à mesa, bebendo chá e comendo pedaços aquecidos de pão marrom

cobertos com framboesas amassadas. Clara estava cortando uma mistura de

cenouras e batatas de aparência envelhecida e jogando-as em uma panela

grande para fazer um ensopado.

— Como podemos esperar que as tropas sobrevivam com isso? —

ela perguntou desanimada.

George balançou a cabeça, concordando, sem sequer tirar os olhos

do rifle antigo que estava tentando consertar. Aquela arma costumava ficar

pendurada na parede do escritório do meu pai como decoração; vê-la agora

me enchia de uma tristeza profunda. Eu sentia muita falta dele.

Sentei-me perto da lareira enquanto Polly fervia água para fazer

chá. Olhei em volta, observando as pilhas de pratos, os sacos vazios de

farinha e de açúcar, os armários também vazios. A cozinha sempre tinha

sido a minha parte favorita do castelo. Era tão aconchegante; não importava

a época do ano, sempre tinha algo no fogo. Eu costumava pensar que, se o

castelo fosse um corpo, a cozinha seria o coração.

— Como você está se sentindo hoje? — Clara me perguntou com

cuidado.

— Melhor, eu acho — eu respondi. O fogo da lareira às minhas

costas dava uma sensação gostosa. Girei os ombros e alonguei o pescoço.

Meus músculos ainda estavam fracos, mas não doíam mais.

Clara ergueu os olhos, buscando o olhar do marido, e fez um gesto

com a cabeça para ele.

— Eliza — George falou, colocando na mesa as ferramentas que

estava usando para consertar o rifle. — Precisamos falar com você.

— Estávamos esperando você se sentir melhor — Clara

interrompeu. Ela olhava de forma hesitante ora para o marido, ora para

mim. — Parte meu coração dizer isso, mas não achamos que seja seguro

você ficar mais tempo conosco. Estivemos procurando uma família para

abrigá-la, pessoas com as quais achamos que você estará segura.

A Última PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora