Capítulo 17

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FOI A DOR QUE ME ACORDOU.

Encolhendo-me diante da sensação de agulhas quentes furando a

pele embaixo do meu olho direito, pressionei a bochecha contra o chão frio

de mármore, mas isso não chegou a aliviar. Respirei profunda e

tremulamente, tentando reunir forças, os olhos ainda fechados. Tentando

me equilibrar, fiquei em pé e me segurei na pia.

Embaixo do meu olho direito a pele estava inchada, bolhas

formando uma imagem imperfeita de uma sevilhana e de uma espada

cruzadas.

Elas tinham me marcado com o símbolo da Nova Guarda.

Toquei na pele queimada e em carne viva, e mordi os lábios com

força para segurar um grito de dor.

Mesmo sozinha no banheiro, eu não podia deixar Portia ganhar.

Não iria mostrar a ela a fraqueza que ela queria ver em mim.

Arrumei-me como pude na pia. Eu precisava partir naquela mesma

noite. Se continuasse lá para tentar realizar aquela missão impossível,

acabaria morta. Alcancei a porta, mas ela não abria. Estava trancada.

Respirando fundo na tentativa de lutar contra meu pânico

crescente, olhei em volta para ver se havia como escapar. Eu não tinha

certeza de quanto tempo havia estado inconsciente, mas sabia que Portia

acabaria voltando. Havia uma pequena janela redonda na parede virada

para o sul que dava para o topo das árvores, mas era de vidro espesso

misturado com uma tela de metal. Estávamos no terceiro andar. Se eu

pulasse, teria muita sorte de sobreviver à queda.

Tirei desajeitadamente o caldeirão do fogo e bati com ele no vidro,

tremendo e segurando a respiração por conta do barulho que ecoou no

banheiro. Como ninguém apareceu, bati de novo, e de novo, até que o vidro

grosso se despedaçou e caiu no chão, restando apenas a tela de arame.

Então comecei a arrancar o arame até fazer um buraco grande o

bastante para eu passar. No parapeito, me segurando na esquadria de pedra

com as mãos nuas e machucadas, parei e olhei para baixo, calculando a

queda. O ar estava parado. A noite escura cobria todo o céu como uma

piscina de tinta: não havia nenhuma estrela à vista. A única luz visível

vinha de uma fileira de tochas cujas chamas balançavam sob a janela — os

soldados em patrulha. Recuei um pouco, me escondendo nas sombras,

sentindo-me tonta e enjoada de dor e de medo.

Notei um som de água pingando à minha esquerda. Olhei naquela

direção e vi o brilho de um cano de cobre escondido embaixo de uma

grande forração de videiras. Ele tinha sido instalado recentemente, a fim de

A Última PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora