FOI A DOR QUE ME ACORDOU.
Encolhendo-me diante da sensação de agulhas quentes furando a
pele embaixo do meu olho direito, pressionei a bochecha contra o chão frio
de mármore, mas isso não chegou a aliviar. Respirei profunda e
tremulamente, tentando reunir forças, os olhos ainda fechados. Tentando
me equilibrar, fiquei em pé e me segurei na pia.
Embaixo do meu olho direito a pele estava inchada, bolhas
formando uma imagem imperfeita de uma sevilhana e de uma espada
cruzadas.
Elas tinham me marcado com o símbolo da Nova Guarda.
Toquei na pele queimada e em carne viva, e mordi os lábios com
força para segurar um grito de dor.
Mesmo sozinha no banheiro, eu não podia deixar Portia ganhar.
Não iria mostrar a ela a fraqueza que ela queria ver em mim.
Arrumei-me como pude na pia. Eu precisava partir naquela mesma
noite. Se continuasse lá para tentar realizar aquela missão impossível,
acabaria morta. Alcancei a porta, mas ela não abria. Estava trancada.
Respirando fundo na tentativa de lutar contra meu pânico
crescente, olhei em volta para ver se havia como escapar. Eu não tinha
certeza de quanto tempo havia estado inconsciente, mas sabia que Portia
acabaria voltando. Havia uma pequena janela redonda na parede virada
para o sul que dava para o topo das árvores, mas era de vidro espesso
misturado com uma tela de metal. Estávamos no terceiro andar. Se eu
pulasse, teria muita sorte de sobreviver à queda.
Tirei desajeitadamente o caldeirão do fogo e bati com ele no vidro,
tremendo e segurando a respiração por conta do barulho que ecoou no
banheiro. Como ninguém apareceu, bati de novo, e de novo, até que o vidro
grosso se despedaçou e caiu no chão, restando apenas a tela de arame.
Então comecei a arrancar o arame até fazer um buraco grande o
bastante para eu passar. No parapeito, me segurando na esquadria de pedra
com as mãos nuas e machucadas, parei e olhei para baixo, calculando a
queda. O ar estava parado. A noite escura cobria todo o céu como uma
piscina de tinta: não havia nenhuma estrela à vista. A única luz visível
vinha de uma fileira de tochas cujas chamas balançavam sob a janela — os
soldados em patrulha. Recuei um pouco, me escondendo nas sombras,
sentindo-me tonta e enjoada de dor e de medo.
Notei um som de água pingando à minha esquerda. Olhei naquela
direção e vi o brilho de um cano de cobre escondido embaixo de uma
grande forração de videiras. Ele tinha sido instalado recentemente, a fim de
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A Última Princesa
Teen FictionUma série de desastres naturais dizimou a terra. Afastada do resto do mundo, a Inglaterra é um lugar sombrio. O sol raramente brilha, a comida é escassa e grupos de criminosos perambulam pelas florestas, buscando caça. As pessoas estão ficando indóc...