Capítulo 1

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CUIDADOSAMENTE, SOLTEI A CORRENTE DOURADA DO

PESCOÇO, deixando o peso do relicário de ouro galês cair na palma da

minha mão. Era fim de agosto, mas estava frio dentro das grossas paredes

de pedra do castelo. Mesmo no verão, uma brisa atravessava os quartos

como um fantasma solitário.

Eu abri o relicário e olhei para o retrato em miniatura da minha

mãe, depois para meu reflexo no vidro da janela, então de novo para o

relicário, até meus olhos ficarem embaçados. Nós duas tínhamos o mesmo

cabelo escuro e os mesmos olhos azuis-claros. Será que eu ficaria parecida

com ela quando crescesse? Fechei os olhos, tentando sentir os braços dela

em volta de mim, ouvir o som da voz dela nos meus ouvidos, e sentir o

cheiro do óleo de rosas que ela passava nos pulsos todas as manhãs. Mas

hoje as lembranças não estavam surgindo com muita clareza. Fechei o

relicário e enxuguei as lágrimas.

Cornelius Hollister, o homem que matou minha mãe, nunca foi

preso. Ele assombrava meus sonhos. Seu cabelo louro, seus olhos azuis

intensos e seus dentes brancos e brilhantes me seguiam por ruas escuras

quando eu dormia. Às vezes eu sonhava que o matava com várias facadas no

coração e acordava ensopada de suor, os punhos cerrados com força.

Depois me encolhia toda e chorava por tudo que tinha perdido, e pelo que

tinha descoberto haver dentro de mim nesses sonhos.

Do lado de fora do Castelo de Balmoral, um véu cinzento de chuva

caía sobre a paisagem árida. A cor da chuva tinha mudado depois dos

Dezessete Dias. Não era mais límpida e suave como lágrimas. Era cinza, às

vezes tão escura quanto fuligem. E extremamente fria.

Fiquei observando os soldados se movimentando no pátio, e gotas

pingavam dos casacos pretos, pesados de chuva, que estavam usando. Do

pescoço deles pendiam cintos de munição quase vazios, cuidadosamente

protegidos da chuva. Nem um cartucho podia ser desperdiçado, uma vez

que as munições estavam em falta. Assim como os sacos de farinha, os potes

de aveia, as cobras e os pombos salgados na nossa despensa — nada podia

ser desperdiçado. Tudo era escasso.

Uma poeira grossa rodopiava no ar, marcando o céu como uma

ferida. Há seis anos, tudo havia mudado. Por dezessete dias seguidos, o

mundo foi castigado por terremotos que partiram a terra, e por furacões,

tornados e tsunamis violentos. Vulcões entraram em erupção, enchendo o

céu com uma fumaça inflamável que bloqueou o sol e cobriu os campos

com estranhas cinzas arroxeadas que sufocaram as plantações.

A Última PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora