Capítulo 19

83 7 0
                                    


LEVANTEI ASSUSTADA E ME SENTEI NA CAMA, ARFANDO

DE falta de ar. O pesadelo já tinha passado, mas alguns fragmentos

perduravam, girando nos cantos da minha cabeça. Mary e Jamie presos em

uma cela de aço enquanto homens com casacos brancos vinham torturá-los.

Eu correndo loucamente por um labirinto, ouvindo os dois, mas sem

conseguir encontrá-los.

Era madrugada alta e Wesley ainda dormia ao meu lado. A cabeça

dele estava deitada no travesseiro que estávamos dividindo, o cabelo

ondulado caindo-lhe na testa, brilhando como prata fina sob a luz da lua.

Inclinei-me para beijá-lo na bochecha.

— Adeus — eu sussurrei.

Senti o ardor de súbitas lágrimas brotando enquanto me afastava da

cama, torcendo desesperadoramente para que ele não acordasse, para que

eu ficasse livre para me lembrar dele daquele jeito.

Algumas brasas ainda brilhavam na lareira. Tateei no escuro em

busca da vela, que acendi em uma brasa quase apagada. Com a luz da vela,

calcei apressadamente as botas e abotoei o casaco do uniforme. A arma

estava na mesa de centro redonda, onde eu a tinha deixado. Enfiei-a no

Olhei para trás, pela porta do quarto, uma última vez. Eu estava

colocando Wesley em perigo ao deixá-lo lá sem um cavalo. Mas ele tinha

uma arma para protegê-lo, além de conhecer bem a floresta. Quando

acordasse, o sol já teria nascido e ele estaria em suficiente segurança para

caminhar de volta para o acampamento.

O ar da madrugada estava frio e úmido. Antes de sair, beijei a

parede perto da porta. Era uma superstição que eu tinha herdado da minha

avó: ela sempre dizia que, se você beija a porta antes de sair, isso lhe

assegura um retorno seguro. E eu esperava, contra todas as probabilidades,

que um dia eu pudesse voltar àquela casa com Wesley.

Olhei para a noite fria e escura, procurando pelo menos uma estrela

para me guiar, mas não havia nenhuma. Calígula, ainda amarrada à estaca,

estava dormindo em pé: uma sombra escura contra um céu ainda mais

escuro. Olhei amedrontada para o corpo enorme daquele animal e

arranquei um punhado de grama do chão.

— Calígula? Tome, garota — eu murmurei, oferecendo-lhe a grama

e depois esticando a mão para fazer carinho no nariz dela. Ao sentir o toque

da minha mão, ela empinou, me deu um coice e bufou, mostrando os

dentes. Dei um pulo para o lado. Tentando se libertar, ela puxava

bruscamente as rédeas presas na estaca, e a corrente em volta do pescoço

dela começou a chacoalhar.

Respirei fundo. Eu andava a cavalo desde que aprendera a andar,

mas nunca tinha visto um animal assim, criado para a destruição.

A Última PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora