Capítulo 25

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Tris

Os seis da LDEAT nos levaram por um corredor branco até um outro onde tinham alguns quartos. Cada um de nós ficou em um quarto. O meu tinha um tamanho normal de um quarto e nele havia uma cama, um armário e uma mesa de escritório no canto. Era simples, mas bem moderno e tecnológico.
Agora estava fazendo algo que não fazia há muito tempo e que me trouxe uma sensação maravilhosa: tomar um banho.
Aquela água fria batendo em meu corpo me fazia esquecer todo aquele calor horrível que já havia sentido e parecia levar tudo de ruim embora pelo ralo. Era fantástico.
Quando saí do chuveiro, me sentia outra pessoa. A Tris de Chicago era diferente da Tris de agora. E isso, de certa forma, era bom.
Em cima da pia, havia um pote e um bilhete. Abri o bilhete:

Para as queimaduras e ferimentos. Única aplicação.
LDEAT.

Havia me esquecido completamente das minhas queimaduras. Abri o pote e nele havia um creme branco. Passei a pomada nos locais onde as queimaduras estavam piores, o que fez arder um pouco, mas a dor não era não comparada com a das chamas em contato com minha pele. Agora, eu tinha arrepios só de lembrar daquilo, mas tudo já estava bem longe de mim. Passei um pouco de pomada também nas dobras dos meus dedos, onde ainda doía e havia um pouco de sangue seco. Aquela pomada de Katniss havia ajudado muito, e os cuidados de Thomas também, mas ainda não havia me recuperado totalmente.
Fui até o quarto e abri o armário. Não pude deixar de sorrir quando vi todas aquelas roupas pretas no estilo da Audácia dentro dele. Escolhi uma idêntica a que eu estava usando desde que havia saído de Chicago, o que chegou a ser engraçado. Com tantas opções, eu havia selecionado uma igual. Acho que, apesar de tudo o que aconteceu, eu não queria deixar tudo para trás, e aquela roupa me fazia lembrar disso.
Antes de vesti-la, olhei para onde havia passado a pomada e não havia mais pomada. E nem queimaduras! Olhei para as dobras das minhas mãos também: não havia mais nenhum rastro de sangue ou dor naquela região, nem cicatrizes. Aquela pomada era milagrosa!
Vesti a roupa, prendi meu cabelo loiro num rabo de cavalo e coloquei a faca devolta na bota. Me analisei no espelho por completo. Eu estava igual a quando saí de Chicago naquela manhã, mas eu não parecia a mesma. Haviam se passado quantos dias? Talvez semanas? Quanto eu havia mudado nesse período? Por fora, eu não parecia diferente, mas eu me sentia diferente. Eu me sentia melhor do que antes, eu me sentia mais... feliz.
Saí do meu quarto provisório e fiquei observando o corredor em que estava. Haviam outras portas de outros quartos, onde os outros haviam entrado, estendendidas ao longo da parede da esquerda. As portas eram de madeira rústica. Parecia um corredor de um hotel antigo, nada a ver com a aparência do interior do quarto. Se alguém tivesse medo de ficar sozinho num lugar escuro eu assustador, aquele era um otimo lugar para se estar na Simulação do Medo. O papel de parede era bege e tinha uma estampa floral em tons pastéis. A parede da esquerda estava vazia, marcada apenas com alguns quadros de flores e frutas e paisagens espalhados nela. O carpete era verde musgo e se estendia por todo corredor, parecia que não era limpado há muito tempo. O corredor não era iluminado por completo, havia uma lâmpada no teto em frente à cada porta e haviam seis delas ligadas no corredor inteiro. E, por enquanto, eu estava sozinha ali.
Depois de mais um tempo, America saiu de uma das portas, a do quarto ao lado do meu, e estava vestida assim como a vi da primeira vez: um vestido verde água curto, sapatilhas e os cabelos ruivos presos em um coque.
- Oi.
- Oi.
- Me diga que agora tudo acabou mesmo.
- Eu acho que sim.
Ela se aproximou e me abraçou com força.
- Fico feliz que esteja viva, Tris.
- Eu também, America. Por nós duas.
- Pode me chamar de Ames - ela disse, se desvincilhando de mim. - Você é minha amiga e America é sério demais.
- Tudo bem, Ames.
- Nossa! Fazia tempo que eu não tomava um banho tão bom! - exclamou Katniss, saindo de seu quarto provisório, que era ao lado do de America. Ela também estava vestida como da primeira vez que a vi: a trança, a roupa de tributo, o arco atravessado em seu tronco.
- É maravilhoso, não é? - disse eu.
- Agora vai poder beijar o Percy sem estar suja e fedendo! - disse America.
- America, não comente isso, por favor!
- Você beijou o Percy?! - exclamei, chocada.
- Viu?! Por isso que eu não queria mais falar nisso!
- Você beijou o Percy?! - exclamei novamente.
- Sim! Quer dizer, não! Foi ele que... Ah! - ela encostou a testa na parede, tentando esquecer a cena, como se tivesse cometido o pior erro de sua vida.
- É chocante, não é?! - exclamou America.
- E se é! Quer dizer, você e o Percy e... vocês dois e...
- Eu vi com meus próprios olhos! - America estava quase oulando de alegria, o que deixava Katniss mais incomodada. - Foi fantástico!
- Não comentem mais nada sobre isso, por favor - disse Katniss. - É humilhante...
- O que é humilhante? - nós três levamos um susto quando ouvimos a voz de Thomas vindo de trás e tentamos agir como se nada tivesse acontecido. Ao me virar para a direção da voz, vi os três garotos olhando para nós. Para a minha surpresa, todos estávamos vestidos iguais a quando nossa aventura havia começado: Thomas e sua roupa de corredor, Percy e sua camiseta do Acampamento Meio-Sangue e Harry com sua blusa azul, sua jaqueta e seus óculos (desde que o encontramos, nunca o vi usar uma daquelas capas que os outros alunos de Hogwarts estavam usando sobre a roupa). Porém agora ninguém parecia sujo ou acabado ou machucado. O que parecia era que nenhum de nós havia passado tudo o que passamos de tão boa aparência que estávamos.
Corri para abraçar Thomas e ele me acolheu em seus braços. Era muito bom ter aquela sensação de novo, agora que nenhuma parte do meu corpo doía mais. Eu estava realmente feliz por estarmos vivos e por tê-lo aqui comigo.
- Obrigado por não morrer - ele me disse.
- Digo o mesmo.
Fiquei abraçada em Thomas, mas olhando todos para todos. Após um tempo nos encarando e percebendo que todos estavam com as "mesmas" roupas, Harry soltou:
- Continuamos iguais a antes. A gente não mudou, não é?
- Mudamos, sim - eu disse. - Mas algumas coisas sempre continuam iguais, eu acho.
- Sabe uma coisa que mudou? - America perguntou com uma expressão maliciosa no rosto.
- America, não! - Katniss exclamou e eu já entendi o que America queria dizer. Comecei a rir e os meninos não estavam entendendo do que acontecia.
- É uma coisa muito chocante! O que mudou foi que... - Katniss colocou sua mão na boca de America, abafando sua voz. As duas se debatiam e eu ria cada vez mais alto. Os meninos ficavam cada vez mais confusos.
Num momento, America lambeu a mão de Katniss, que ficou com nojo e tirou a mão de cima de sua boca, o que a permitiu dizer bem alto:
- Katniss e Percy se beijaram!
- America! - Katniss exclamou, já irritada. Eu agora ria igual uma louca e Harry e America me acompanhavam, só que menos loucos. Fazia muito tempo que não gargalhava desse jeito.
- É sério isso?! - Thomas perguntou para Percy, contendo o riso, mas tão chocado quanto eu fiquei quando soube.
- Sem comentários - disse Percy.
Quando já estava mais calma e os risos diminuiram, Katniss disse:
- Acabaram? Já pararam de rir da minha desgraça?
- Desgraça?! Como isso aqui pode ter sido uma desgraça na sua vida? - disse Percy, apontando para ele próprio.
- Apenas sendo! - ela revirou os olhos, mas tive a sensação de que ela queria sorrir. E ele também.
Thomas se aproximou do meu ouvido e sussurrou:
- Esses dois formam um casal perfeito.
Assenti, dando uma pequena risada.
- Tudo bem, agora que todos já pararam, vamos falar do que é importante - disse Katniss, querendo mudar de assunto o mais rápido possível. - O que acham que vai acontecer agora?
- Bem, acho que vamos entender tudo o que aconteceu - eu disse. - Se eles fizeram isso conosco e disseram que iam explicar, devem explicar mesmo, não é?
- Vocês confiam neles? - perguntou Percy. - Eles quase nos mataram. Muitas vezes.
- Acho que a única coisa que podemos fazer no momento é esperar que nos dêem uma explicação para tudo - disse Harry.
- Se não nos matarem antes - disse Katniss.
- Gente, eles podem ter feito tudo aquilo conosco, mas eles também nos tiraram daquilo - eu disse. - Eu quase morri e agora estou intacta. Confio neles.
- Eles quase nos mataram! - disse Katniss, mais uma vez.
- Mas não morremos, morremos?! - retruquei.
- Tris tem razão - disse Thomas. - Eu também confio neles.
- Eu só quero ouvir o que eles tem a dizer - disse Percy. - Merecemos respostas.
Nesse momento, a porta automática que existia no começo do corredor (por onde tinhamos entrado) se abriu e Veronica Roth apareceu.
- Vejo que já estão todos prontos. Vamos lá?

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