Capítulo 26

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Tris

A porta do nosso pequeno corredor de hotel antigo dava num corredor maior e com um aspecto mais moderno, que eu não lembrava da existência. Veronica nos guiou por ele até um elevador onde todos entramos. A partir daí, pude notar que estávamos num prédio, bem alto por sinal já que os botões do elevador iam até o 40° andar. Percy comentou que aquele elevador o lembrava da vez que ele foi ao Olimpo, mas eu não entendi o que ele quis dizer com isso.
O elevador subiu até o último andar e se abriu. Veronica saiu e nos levou até uma sala enorme que se assemelhava a uma sala de reuniões. A primeira visão que tive foi da enorme parede de vidro no fundo da sala. Dava para ver toda a paisagem de fora: uma cidade grande, cheia de prédios e ruas e carros e pessoas, mas nada como Chicago. Minha vista alcançava o horizonte, o céu e a terra.
Dentro da sala havia uma mesa comprida. Em um lado da mesa estavam sentados Rick, numa das duas cadeiras do centro, Suzanne, exatamente à sua esquerda, e Kiera, ao lado de Suzanne. Veronica se sentou exatamente à direita de Rick, na outra cadeira do centro, com James e J.K. Rowling ao seu lado. Também haviam mais seis cadeiras vazias do lado oposto e uma na ponta da mesa, de costas para a grande parede de vidro.
- Crianças, que bom que estão aqui! - nos recebeu Rick. - Sentem-se, por favor!
- Por que eles cismam em nós chamar de crianças? - sussurrou Katniss para mim, mas eu não respondi.
Nós seis nos sentamos nas seis cadeiras vazias de frente para eles. Percy ficou de frente para Kiera, Thomas para Suzanne, eu para Rick, America para Veronica, Katniss para James e Harry para J.K. Rowling. A cadeira da ponta da mesa ainda continuava vazia.
- Vejo que estão devidamente limpos e arrumados agora, o que é realmente muito bom! - disse J.K Rowling.
- Gostariam de comer algo? - perguntou Suzanne.
- A comida será servida depois, Suzanne, não se esqueça disso - avisou-a James.
- Isso não importa agora - disse Rick, pondo um fim na discussão da comida. - É realmente muito bom ver que estão bem, crianças. Vamos começar nossa conversa com uma pergunta: Por que vocês acham que estão aqui?
Ninguém respondeu de primeira, já que realmente não fazíamos ideia, mas aí Katniss disse:
- Vocês que fizeram isso com com a gente, vocês que devem saber.
- É verdade, Srta. Everdeen. Mas não gostaria de saber você também?
- É óbvio que sim!
- Então acho que está na hora de todos vocês entenderem a razão, a verdadeira razão, de estarem aqui. É com você agora, Veronica.
- Não se movam - ela disse, pegando um controle dentro do bolso de seu jaleco. Veronica apertou um botão dele e, na mesma hora, senti um jato de ar gélido, aquele mesmo que senti entrar em meu nariz quando ainda estava em Chicago, sendo sugado para fora das minhas narinas. Naquele momento, foi como se aquele bloqueio que existia em minha mente fosse retirado de lá e aquilo me deu uma tremenda dor de cabeça. Minha mente estava um turbilhão e milhões de coisas circulavam por ela ao mesmo tempo. Era como se uma comporta tivesse sido aberta e litros e litros de respostas estivessem sendo despejadas para fora. Agora eu entendia tudo! Tudo o que demoramos muito tempo para descobrir, ou que nem chegamos a pensar, eu compreendi em poucos segundos. Levei a mão à testa para tentar aliviar a dor. Harry, America e Thomas também tinham colado a mão na testa e Katniss e Percy apertavam o nariz. Acho que todos sentimos a mesma coisa.
- O que foi isso?! - perguntou Katniss, com a voz anasalada.
- Retiramos de vocês o Ar-Mente - disse Veronica.
- O Ar... o quê? - perguntou Percy, também com a voz anasalada.
- Ar-Mente. Quando injetado, o Ar-Mente dificulta o pensamento, como um bloqueio que te impede de entender as coisas, por mais óbvias que pareçam.
- E por que injetaram isso em nós? - perguntou Harry. A dor de cabeça estava passando.
- Você sabe por que colocamos isso em vocês, Harry - disse Rick. - Me diga você.
- Eu... eu não... eu não consigo... - ele acalmou sua respiração e então despejou palavras como se sempre soubesse o que falar. - O Ar-Mente nos dá controle sobre nossos atos e psnsamentos e era disso que precisávamos para realizar o teste. Precisávamos pensar e agir por conta própria, descobrir as coisas por conta própria, e não pela mão de outros, mais precisamente, pela... escrita de outros.
- Somos personagens? De livros? - perguntou Thomas.
- Isso mesmo, Thomas - disse Rick. Ele parecia satisfeito pelo que acontecia, mas eu estava preocupada demais com ou que se passava na minha cabeça para notá-lo.
- Então isso quer dizer que nós não somos reais? - perguntei, sem direcionar a pergunta a alguém específico.
- Nós somos reais - disse America. - No imaginário dos leitores nós somos reais.
- Mas a partir do momento em que entramos aqui no mundo real, nos tornamos realmente reais. Carne e osso autênticos - completou Thomas.
- Nos tornando reais, não precisamos mais do Ar-Mente para tomar as próprias decisões - disse Percy.
- Mas não podemos ficar fora de livros por muito tempo - disse eu. - Se isso acontecer, podemos... desaparecer.
- Nos livros, tudo o que fazemos ou pensamos provém dos autores - disse Thomas. - Eles escrevem nossas histórias.
- Somos marionetes nas mãos dos autores?! - Katniss exclamou.
- Não se exalte, Katniss - reprendeu-a Suzanne. - Não fazemos por mal. É o nosso trabalho.
- Vocês são autores? - America perguntou à eles.
- Somos - respondeu Kiera. - Somos, sim, filha.
- Filha? Foi você quem... me criou, me... escreveu? - os olhos de America se arregalaram e Kiera tinha um sorriso sincero e meigo em seu rosto.
- Foi - Kiera se levantou e foi aonde America estava sentada. Quando ficou de frente para ela, a levantou da cadeira e tocou em seu rosto. - Lembro de quando te fiz. Você foi uma das melhores coisas que eu já criei. Mas eu não sou a única mãe de alguém aqui presente.
- É isso mesmo! - disse Rick. - Essa é uma parte que a saída do Ar-Mente não revela a vocês, então acho que é a hora de realmente nos apresentarmos para vocês nesse aspecto. Somos autores. Os seus autores. Os seus pais.
Primeiramente, Rick se levantou levantou e foi em direção à Percy. Depois, os outros seguiram se movimento e foram cada autor em direção a um de nós.

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