Capítulo 20

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Percy

Fui até a banheira.
Se fosse uma mensagem de Íris, teria uma dracma de ouro no fundo da banheira para eu usar. Mas não havia nada, apenas a água jorrando. Aquilo era muito esquisito.
- Está tudo bem, Percy? - perguntou Tris.
Eu não respondi, mas sentia que a situação não estava nada bem. A água não saía pela torneira se não houvesse uma mensagem. Por que ela estaria jorrando assim?
A água jorrava mais do que o normal. Ela não parava de sair da torneira e já estava transbordando da banheira.
- Percy, isso não é normal, é? - perguntou America.
- Não é - eu disse. Até eu estava ficando assustado com aquilo. A água já estava inundando o quarto inteiro e batia nos meus tornozelos.
- Feche a torneira! - disse Tris.
- Ela não fecha assim!
- Você não consegue parar isso com seus poderes?! - exclamou Harry.
- Vou tentar!
Usei toda a minha concentração e ordenei à água que parasse, mas não funcionou. Ela continuou saindo e já batia nos meus joelhos.
- Acho que não é tão poderoso quanto pensava.
- Cala a boca, Katniss! - eu a repreendi.
A água subia e subia e meus poderes não funcionavam. Quando a água já batia em nossa cintura, senti meus músculos enrigecerem e não conseguia mais me mexer. Acho que o mesmo aconteceu com os outros.
- O que está acontecendo? - gritou America, quando a água já batia em seu queixo, quase em sua boca. Como ela era mais baixa que eu, a água ainda estava em meu pescoço. - Alguém faça alguma coisa!
- Não temos o que fazer, America. Dessa vez, estamos ferrados - disse Tris.
A água cobriu America e Tris por completo. Depois cobriu Katniss e Harry e, por último, eu e Thomas. Em poucos segundos, o chalé inteiro estava submerso. Mesmo com meus poderes, nada podia fazer. Eles não estavam funcionando. Nem respirar debaixo d'água eu conseguia. Se eu não estava bem com isso, os outros estavam perdidos. Por que eu não conseguia fazer nada? Meu pai estava braço comigo? Eu não sei.
Só sei que a última coisa que vi foi o mundo aquático ao meu redor escurecer e eu perder a consciência.

Tris

A última coisa que me lembro é de sentir muito frio graças à água que inundou o chalé de Percy. Agora o que eu sentia era um calor extremo e uma dor terrível, igual a como me senti no meu pesadelo. Por todas as vezes que dormi, esse sonho horrível vinha com o sono.
Só que dessa vez não era um sonho. Era real.
Minhas mãos e meus pés estavam presas numa espécie de tábua, em X. Minhas costas e minhas extremidades doíam como nunca e eu tinha vontade de gritar, mas não conseguia. O suor escorria por todo meu corpo. Na vida real, era muito pior do que no sonho.
Abaixo de mim, haviam inúmeras laberedas de fogo me cercando, um círculo enorme ao meu redor, e as chamas aumentavam sem cessar. Minha respiração estava falhada e o ar ficava cada vez mais escasso. O calor era absurdo. Era muito pior que em sonho!
Olhei para frente e vi correntes que desciam do teto até o chão. As mãos de alguém estavam presas a essas correntes. Em meus sonhos, eu não consegui identificar quem era. Mas agora eu posso ver. Quem estava preso àquelas correntes era Thomas.
- Thomas! - consegui gritar, reunindo toda a minha força. Ele olhou para frente e me viu.
- Tris!
Olhei para o meu lado direito e no chão havia um enorme buraco com um líquido borbulhante. Aquilo era óleo fervente. Não sabia como sabia, mas sabia que era óleo fervente. E acima da piscina de óleo fervente pendia outra corrente onde estavam enrolada mais duas pessoas presas juntas pelo tronco. Eram America e Harry. America gritou muito alto quando abriu os olhos e viu onde estava e se debateu muito. Harry a repreendeu dizendo que não adiantaria nada gritar e se debater assim. Ele estava certo, isso não iria ajudar ela a sair dali, no máximo ela se soltaria da corrente e cairia no poço, o que não seria nada bom.
Olhei para o meu lado esquerdo. Nele havia uma gaiola cheia de serpentes venenosas e duas pessoas no centro que tentavam escapar das presas delas. Eram Percy e Katniss.
- Socorro! - Katniss gritou.
Eram cenas terríveis que me davam arrepio na espinha. Eu não acreditava que aquilo era real. Mas era. Dessa vez, era.
Antes eu só tinha a sensação de que eu precisava salvar aquelas pessoas. Agora, eu sabia que precisava salvá-las. Eu não as podia deixar sofrer. Mas estava presa também e não havia como salvá-las.
- Thomas... lembra daquela conversa no trem... em que eu te disse que tinha tido um... sonho ruim? - eu me esforçava para falar com ele. A dor era tremenda, mas eu precisava falar isso antes de qualquer coisa.
- Sim - ele gritou em resposta. Parecia sentir muita dor apesar de apenas suas mãos estarem presas.
- O sonho era esse momento. Mas eu não conseguia ver quem eram as pessoas presas além de mim.
- Jura?! Eu... ah! - ele gemeu de dor mais uma vez. - Eu também sonhei com isso!
- Sério?!
- Eu também! - gritou Harry.
- Eu também! - gritou America em seguida.
- E eu! - disse Katniss.
Fiquei impressionada com a facilidade com que os outros podiam nos ouvir apesar de o lugar parecer bem grande. E fiquei ainda mais impressionada com o fato de todos já terem sonhado com esse moment, não apenas eu.
- Tris - Thomas me chamou, tentando puxar o ar para os seus pulmões. - Quando eu sonhei isso... eu também não podia ver... as outras pessoas, mas... eu sabia quem era uma delas. Você.
- Eu?
- Você. Eu te vi claramente aí... onde você está. E eu precisava te... dizer uma coisa. Pode não parecer o melhor momento... ah! - ele gritou de dor. - mas parece que a gente não vai ter mais nenhum outro momento - a dor me consumia por inteiro, mas eu tentava me manter concentrada no que Thomas dizia. - Tris, eu te amo. Não como amo os outros ou... como uma amiga, mas... eu te amo mesmo, Tris. Desde o momento que... você invadiu a sala lá na Sede... sem se importar com o que iria acontecer. Lá eu pude ver sua... coragem e determinação e desde então... eu não consegui parar de pensar em você. Eu só queria que soubesse disso antes de tudo acabar...
- Thomas, eu nem sei o que dizer... eu... eu também... te amo.
Ela olhou para mim, chocado.
- Jura?!
- Juro. De verdade. Eu te amo. Lembra lá no trem... que você me perguntou se eu... tinha uma âncora?
- Lembro.
- Naquele momento, eu disse que não sabia. Mas agora eu sei. Eu tenho uma âncora. E ela é você.
Nesse momento, a tábua que me prendia começara a descer e meu corpo estava ficando cada vez mais perto das chamas. Meus amigos iriam morrer também. Thomas iria morrer. E depois de tudo o que passamos, era assim que eu iria morrer também?

Sem Roteiro Nessa Guerra Onde histórias criam vida. Descubra agora