08 - Confusa

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— Padre? — indaguei engolindo em seco. Ele havia morrido, e eu tinha certeza disso até vê-lo se levantar. 

Ao mesmo tempo em que me perguntava vendo John respirar ofegante, vi Josh correr na sua direção. Ele se jogou sobre o corpo do padre fixando suas pernas na cintura do mesmo , e com o pulso fechado apontando para seu rosto. Ele tinha a mesma faca em mãos, que naquele momento tinha muitos mais detalhas que eu podia ver do que antes. Pedras vermelhas e verdes. 

Pelo modo como Josh agia eu havia chegado a conclusão que talvez John havia sido possuído. Mas eu não tinha certeza, afinal, eu não sabia como funcionava a possessão.

— Nem mais uma palavra. — sibilou Josh. — Você vai voltar para onde não deveria ter saído. — ameaçou entre dentes.

— Sou eu... — queixou-se John com a voz rouca.

— O que? — Indaguei com a voz ainda falha. — Mas como?

Me aproximei do seu corpo, ainda imobilizado o fitando por completo. Estava receosa, como se esperasse que a qualquer momento algo pudesse acontecer.  As marcas da faca no tecido, assim como o sangue estavam em suas vestes marcavam a sua morte. Não podia ser ele. 

— Eu não consigo me desligar desse mundo. — respondeu com um pesar nítido. — Saia de cima de mim, Josh. 

— Como assim? — Indaguei, vendo Josh se levantar o fitando com um sorriso irônico nos lábios.

— Sangue de demônio, Sara. Eu tomo as vezes... temia que fosse atacado por um. Desejava voltar a vida. E essa é a única maneira...

Josh ria com um sorriso de orelha a orelha e ao mesmo tempo com um prazer imenso em participar daquele momento. Em ver a dor nítida em John. 

— Por que não me chamou de imundo e qualquer outra coisa, John? — disse entre risos.

Padre John se levantou rapidamente, como os demônios faziam, e eu só consegui acompanhar seu vulto negro. Ele me fitava com tristeza no olhar, um pouco atrapalhado e levemente confuso.

— Que porra é essa que está acontecendo? — exclamei alterando minha voz sem a intenção. Eles agiam como se eu não estivesse ali. Eu sabia o que poderia ter acontecido... sangue de demônio, voltar a vida e ser rápido demais... porém, eu me negava a acreditar.— Padre John? — engasguei com o ar. —Você é um íncubo. — sussurrei para mim mesma.

— Somente John, Sara.— disse abaixando a cabeça e fitando o chão.

Meus olhos se encheram de lágrimas mais uma vez. Eu sabia que apesar de tudo que ele havia passado, que ele nasceu para ser padre. E que isso era algo que ele realmente gostava. E naquele momento, ele havia se tornando um deles, ele havia se tornado em algo que ele mais odiava.

Ele se virou em direção ao altar caminhando como um humano normal. O altar era pequeno e feito detalhadamente. Cada imagem tinha seus traços semelhantes a humanos e tudo lá estava intacto. Ele colocou o pé direito no degrau do altar e soltou um grito que resultava a dor e culpa. Comecei a ir em sua direção devido ao impulso, sem ao menos saber o que fazer,  ele precisava de minha ajuda, porém Josh agarrou meu braço com firmeza. 

— ME SOLTA. — soletrei entre dentes imediatamente. — Ele é meu amigo!

— Ele precisa passar por essa fase... — respondeu, sem rir. Ele estava sério novamente.

— Que fase?! Ele está sentindo dor! — protestei sem paciência alterando a entonação da minha voz.

— A fase de aceitação, Sara. — explicou, calmamente. — Ele nos odiava, e agora, se tornou um de nós.

Noites SombriasOnde histórias criam vida. Descubra agora