Eu fitava as ruas passando diante de meus olhos ferozmente, assim como as pessoas com as suas rotinas matutinas. Reconheci o centro da cidade, afinal havia passado por aqueles mesmos lugares de prédios altos e pessoas apressas anteriormente. Josh dirigia em silêncio, mantendo seu olhar firme nas ruas movimentadas e estreitas.
Me sentia suja, o sangue seco em meu braço juntamente com a ferida avermelhada, meus ossos doíam devido tudo que acontecerá. Eu respirava lentamente, sem conseguir me encarar no reflexo do vidro.
Josh me levou para sua casa, segundo ele por precaução. Era estranho ter essa quantidade de atenção e tudo que eu mais queria era voltar a minha vida normal. Mas... será que isso seria possível? Depois de saber tantas coisas, eu duvidava que poderia ter uma vida normal. Que poderia esquecer tudo que aconteceu e seguir em frente. Tudo ficaria realmente bem. E eu me esforçava para acreditar nisso.
— Welcome. — disse, enquanto abria a porta do apartamento forçando um sorriso. Ele enfim havia dito uma palavra, depois de adentrarmos seu carro.
Era uma enorme sala, com móveis novos e neutros. Caminhava com passos leves, ainda receosa, ali não era o meu lugar. Avistei sua cozinha, que se destacava pela organização e uma longa escada que dava acesso ao segundo andar.
— No andar te cima tem alguns quartos... pode escolher um para você usar... vou tentar providenciar algumas roupas para você... — disse sem me encarar.
— Ai. – grunhi ao virar minha cabeça repentinamente. — Eu vou embora amanhã cedo. — respondi rapidamente. — Não precisa de muita coisa...
Eu não queria que ele gastasse dinheiro comigo. Nunca gostei que isso acontecesse. Nem mesmo quando eram meus pais que me davam. Gostava de ter a sensação de não precisar de ninguém.
Ele riu.
— Você é teimosa.
Soltei um sorriso forçado e ao mesmo tempo envergonhada. Não queria causar problemas ou alguma dor de cabeça. Josh saiu, e quando enfim escutei a porta se fechar encarei os degraus. Cada degrau que subia minhas pernas rejeitavam a dor e eu sentia que poderia perder o controle das mesmas a qualquer momento. Minha respiração estava fraca e eu estava exausta.
Entrei em um quarto, que parecia estar intacto então deduzi que não era o dele. Tinha toalhas no guarda roupa, então peguei uma para tomar um banho. A cama era de casal e estava forrada com uma colcha branca. Meu corpo pedia cama, minha cabeça pedia descanso. Caminhei até o banheiro me arrastando.
Sentir a água quente deslizar sobre minha pele era reconfortante e ao mesmo tempo dolorido. Onde havia algum corte em processo de cicatrização, ardia. Meus músculos relaxavam, e eu me sentei no chão deixando a água quente cair sobre mim, molhando-me por completa. Por um momento me senti bem, como se o receio de que algo pudesse acontecer tivesse passado. Não acreditava que Mika fosse voltar. Porém, me lembrei de minha mãe e meus olhos se encheram de lágrimas. A falta que eu sentia por ela, era maior do que eu imaginava que teria. Procurei esvaziar minha mente e aproveitar a água quente, ignorando tudo.
Quando sai do quarto, tinha umas calças jeans em cima da cama e algumas blusas. Só de olhar percebi que ficariam justas em mim, — eu odiava roupas justas. – Vesti uma calça jeans azul que ficou colada no meu corpo, e uma blusa branca, que também ficou justa em excesso, deixando a mostra as minhas curvas. Penteei meus cabelos e os deixei secar naturalmente. Fitei minha aparência no espelho do guarda roupa: meus cabelos molhados e longos, minhas olheiras escuras e profundas, assim como os machucados destacados em minha pele.

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Noites Sombrias
FantastikE se o mundo onde vivemos fosse totalmente maior do que somos capazes de ver? E se a vida fosse muito mais além do que podemos saber? A jovem Sara descobriu da maneira mais trágica como é crescer aos olhos de um demônio, e o quão grande pode ser o...