10 - Reviravolta

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Acordei esticando minhas pernas e sentindo meu corpo mais leve, sem todas aquelas dores e cansaço. Havia dormido a noite toda, em uma cama bem macia e sem precisar ter medo. Meu braço continuava dolorido e a ferida estava bem, ainda doida, mas eu conseguia suportar. Por alguns segundos me lembrei de minha mãe, eu senti um profundo vazio ao me lembrar dela, porém repeti a mim mesma que ela estava bem, sem dores ou sofrimento.

Eu havia vivido dias que ninguém nunca acreditaria, caso eu contasse. Era como se tudo fosse simplesmente uma história de livro. Uma trágica história de livro. Que enfim havia acabado. Me sentia leve em saber que nada de ruim poderia acontecer, e voltar a morar com meu pai não era mais algo horrível para mim, eu havia passado por coisas piores.

Depois de ficar na cama pensativa, decidi descer e comer alguma coisa. Eu estava receosa em voltar para casa... não sabia o que iria ver. Eu não sabia como iria me explicar para o meu pai e o que ele havia feito durante o tempo que eu fiquei fora, quem sabe ele havia ido a polícia. Não sabia como explicar na escola os dias que eu faltei. E,  não sabia o que eu iria viver daqui para frente, como seria a minha vida agora. Ciente de muitas coisas, sozinha com meu pai.

— Bom dia. —  cumprimentei Josh, vendo que ele estava na cozinha.

Me sentia quente envolta a sua blusa.

— Olá. — respondeu concentrado. — Estou fazendo panquecas, você quer com mel? — indagou do mesmo modo.

Assenti com a barriga roncando.

— Mas que merda! — afirmou jogando a frigideira dentro da pia. – É a terceira panqueca que eu estrago... eu não consigo virar.

Fitei sua reação assustada e não consegui controlar o riso, era demasiado fácil para mim virar uma panqueca.

— Deixa eu te ajudar. — me ofereci indo em sua direção. —  Eu aprendi a fazer panquecas quando era pequena. — sorri em tom de ironia,  vendo as duas panquecas que ele havia estragado. — O segredo é você saber virar...  — eu peguei um pouco da massa e despejei sobre a frigideira, formando uma fina camada. 

— Resumindo, fazer panquecas é um segredo. — ele riu mostrando suas covinhas. Prestava atenção em todas as minhas ações, e eu fazia tudo lentamente para que ele pudesse acompanhar.

— Bora, agora é hora da prática! — sorri, vendo que a massa já estava quase totalmente cozida.

— Oi? mas você nem explicou nada. — indagou descrente, vendo que eu havia lhe dado o domino da frigideira novamente.

— Gosto de ensinar as coisas na prática... — admiti. Nunca havia sido muito boa em ensinar.

 Ele segurou a frigideira, ainda receoso, e eu passei meu braço em todo do seu corpo alto,  segurando a frigideira sobre a sua mão. Forcei sua mão a girar a frigideira para que a massa se espalhasse por completo, porém sem deixar que a frigideira ficasse muito longe do fogo. Seu braço se deixou guiar com uma certa dificuldade. Quando vi que a massa já estava cozida o suficiente, ainda segurando sua mão, levei a massa até a ponta da frigideira e impulsionei a mesma para cima, vendo a panqueca se virar no ar e cair dentro da frigideira. Sentia a sua tensão ao ver a panqueca no ar, e  pisquei para ele, soltando sua mão e vendo o resultado satisfatório.

— Tem todo um segredo. — admitiu. — Eu percebi isso.

— Eu aprendi tudo vendo minha mãe fazer. — respondi rindo. — Não sei técnicas.

Josh terminou de fazer as panquecas e nos serviu na mesa. Havia mel e geleia de frutas vermelhas para acompanhar.  E durante todo o momento em que ele cozinhava, fitava o modo como ele trabalhava na cozinha. Ele sentia prazer em cozinhar, mesmo que fosse um pouco atrapalhado.

Noites SombriasOnde histórias criam vida. Descubra agora