XII. As palavras que não deveriam ter sido ditas

910 40 15
                                    

Joana

Acordo com uma pequena dor nas costas. Sinto um peso em cima do meu corpo e calor…calor humano. Harry tinha o seu braço envolvido em mim, a sua respiração quente e profunda vinha contra o meu pescoço simultaneamente.

Quando adormeci ele estava deitado numa árvore, afastado de mim e agora está aqui… Pareço uma pequena cria indefesa refugiada na sua grande estatura. Que comparação mais ridícula!

Retiro lentamente o braço e vou buscar o telemóvel dele para ver as horas. Sete e meia da manhã, os outros devem estar neste momento a acordar e é provável que alguns guardas florestais estejam à nossa procura. Volto a colocar o telemóvel no seu bolso e observo-o. O seu cabelo encaracolado estava mais despenteado que o normal, chegando ao ponto de cobrir um pouco a sua cara. Coloco a minha mão no seu rosto e afasto os fios de cabelo.

-Harry…- sussurro próxima dele para poder ouvir. Nenhuma reacção foi feita por parte dele. Continuei a chamá-lo com a voz baixa, não acordava. Então fiquei farta e decidi falar alto- ACORDA, IDIOTA!

Harry abre as suas pálpebras, o que me permite ver os seus olhos verdes. Mudou de posição, ficando sentado à minha beira.

-Não podias ter continuado com as caricias e a chamar pelo meu nome docemente?!- normalmente a sua voz era grave e rouca, neste momento está ainda mais rouca devido a ter acordado.

-Palhaço…- fiquei um tanto revoltada- Quando adormeci julguei que te tinhas deitado junto àquela árvore velha. Estás aqui porquê? És sonâmbulo por acaso?!

-Ah, isso foi porque a meio da noite tinha acordado e quando olhei para ti estavas bastante encolhida e a tremer. Então decidi encostar-me a ti para estabilizar a temperatura.

-Ah…

-Agora não é o momento de me agradeceres em vez de estares sempre a insultar-me?

-Obrigada- agradeço bastante depressa com um tom atrapalhado.

Harry pareceu aperceber-se, mas limita-se a sorrir. Depois levantou-se e caminhou até à sua mochila. Abriu-a, tirando de lá duas sandes e água. Deu-me uma delas e sentou-se ao meu lado. Comi de bom grado. Ainda estava com o casaco dele, mas sentia-me tão quente e confortável que não o tirei para entregar.

Assim que terminámos, decidimos caminhar pela floresta com o objectivo de encontrar o acampamento ou alguém que nos pudesse ajudar.

-Espero que não andemos, mais uma vez, às voltas…- digo de relance enquanto caminhávamos.

-Ontem estava um bocado escuro e não deu para visualizar o caminho direito, daí andarmos às voltas.- responde Harry olhando de seguida para mim, descendo depois o olhar para o que eu tinha vestido- Ainda precisas do meu casaco? É que já não está frio.

-Oh, estava tão confortável que não me apeteceu tirar. Mas se quiseres posso devolver.

-Ah, deixa estar. Se quiseres podes ficar com ele para recordação, lembrar-te-ás sempre de mim com um sorriso nos lábios.

-Acho que um dia vou ter de me habituar ao facto de seres tão atiradiço- reviro os olhos, mas depois rio-me.

Caminhamos mais algum tempo até que ouvimos uma voz… Não era familiar mas pude perceber que era de um homem, gritava pelos nossos nomes. Eu e Harry entreolhamo-nos e seguimos a voz, respondendo também logo de seguida. Até que avistamos um adulto com aspecto de guarda-florestal e atrás de si vinha a nossa professora de filosofia. Analisando pela sua cara… Não estava nada contente…

-Finalmente! Ficamos todos preocupados com o que vos poderia ter acontecido, seus inconscientes! Só vocês os dois para arranjarem este tipo de problemas. Mais umas horas e íamos ligar para os vossos encarregados de educação para os meter a par do ocorrido. Vocês estão bem? Estão feridos?- a professora falava severamente, notando logo de seguida um tom de preocupação.

Confias em Mim para Amar?Onde histórias criam vida. Descubra agora