LVII. Ligação

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Harry

-Estou a falar a verdade, meu! Foi mesmo grande adrenalina!

Este gajo vem para aqui falar-me da vida de merda que ele tem como se eu quisesse saber. Mal me viu sozinho fez questão de vir ele e o seu gangue para aqui chatear-me a cabeça. Este Bandom é cá uma peça... Nunca tive paciência para as tretas dele, apenas o usava para aquilo que queria, agora não vejo a finalidade para continuar a ouvir baboseiras pela aquela boca fora.

-Então e como é que o outro reagiu?- perguntei de forma a não desconversar.

Os meus olhos estavam fixos na entrada da escola. Encontro-me longe desse local mas está perfeitamente no meu campo de visão. O único motivo pelo qual estou aqui é por ela... Há uma semana que não a vejo, nem uma mensagem me mandou, nada! As aulas começaram hoje por isso espero vê-la...

Não a percebo! Naquele dia Joana disse que me amava mas logo de seguida insinua que sou um problema para ela e depois de ir embora nem sequer tenta contactar-me! Ela não percebe o quanto me distancia, no entanto, o que eu faço?! Continuo a ir atrás dela como um cachorrinho!

Joana continua a ser um pouco misteriosa comigo. Toda ela é um nicho de opostos: decidida para certas ocasiões, indecisa quanto aos seus sentimentos; extrovertida quando realmente tem confiança com as pessoas, introvertida quando se sente desconfortável; mandona porque gosta de fazer tudo à sua maneira, muito teimosa, mas cede facilmente nas amizades e culpa-se sempre que existe alguma confusão em que ela está envolvida; tão esperta mas tão tapada quando se trata da nossa relação e naquilo que eu realmente sinto por ela.

Aquela rapariga nem imagina aquilo que me faz... Penso nela o tempo inteiro e o pior é o facto de nem se aperceber disso! Com as atitudes que teve ultimamente, aquilo que realmente me dá vontade é desapegar-me dela e voltar a ser como sempre fui antes de a conhecer. Sei que Joana protegeu-se muito dos seus sentimentos, mas eu também sempre tentei preservar-me disso! Nem sequer foi muito difícil... Conheci muitas raparigas, envolvi-me com elas mas nenhuma me chamou tanto a atenção como ela continua a fazer.

Avisto Joana a passar os portões da escola com a mochila às costas e julgo que o meu casaco se encontra numa das suas mãos. Mesmo amarrado, o seu cabelo teimosamente esvoaça até à sua cara e, devido a essa condição, quase que cai quando encontra o primeiro grau da escada de pedra da entrada. Apesar de tudo, não consigo impedir-me de sorrir devido ao quanto trapalhona ela consegue ser. Quando caminha, Joana nunca olha directamente para a cara das outras pessoas, aliás, alguém conhecido pode passar ao seu lado e ela nem se aperceber. Mesmo quando fala directamente para uma pessoa, o seu olhar nunca fixa na cara dessa mesma durante muito tempo. No entanto, quando alguém está a falar com ela, Joana é capaz de observar as expressões dessa mesma pessoa. Nunca percebi essa paranóia... Talvez porque consegue raciocinar melhor ou algo do género...

Eu penso que ainda não conheço o passado de Joana tanto quanto gostaria.

-Por isso se ele esticasse a corda, já sabia o que lhe aconteceria!- Ah, Brandom ainda está a ladrar tretas.

-Tenho de ir! Vemo-nos por aí.

Nestes últimos dias não tenho paciência para falar com ninguém. Detesto a maneira de como ela me faz sentir com estas incertezas! Eu sei que fiz mal ao ter feito aquela aposta mas isto foi antes de perceber o que sentia.

O que sentia... É no mínimo patético os sentimentos que aparecem quando a vejo e mesmo quando não está perto de mim. Ainda mais estúpido é o facto de entrar na sala, olhar para ela e, por alguma razão, sentar-me à sua beira. Se Joana tivesse a noção do quanto a anseio... Não a quero tão afastada de mim como está agora, preciso que fechemos esta distância! Gostaria de tocar nela, beijá-la, sentir os meus braços na sua estrutura delgada, quero senti-la!

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