XXXII. Emoções confusas

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Joana

Meras memórias... felizes, por sinal. Os acontecimentos do passado têm um tempo psicológico relativo. Para muitas pessoas parecem bastante recentes, como se tivesse acontecido no dia anterior. Para mim os acontecimentos do passado estão tão distantes que parecem a vida de uma outra pessoa que não a minha.

Carrego no botão "pausa" do comando para analisar a foto reproduzida no ecrã da televisão. Nessa fotografia estava eu com um sorriso rasgado num baloiço, devia ter uns 7 anos. Atrás desse baloiço estavam os meus pais apanhados desprevenidos, encontravam-se sentados num banco de madeira.

Quando os meus pais se separaram escolhi viver com o meu pai, porque estar com a minha mãe na mesma casa depois de tudo o que se passou era impossível... Não posso negar que eu e ela tínhamos uma relação próxima, mas isso foi modificando ao longo do tempo... Depois de todos os erros cometidos é complicado voltar a ser como tudo era antes, simplesmente não dá para esquecer. E assim me afastei da minha própria mãe... A razão desse afastamento poderá ser revolta? De certa maneira sim. Só eu sei o quanto eu sofri e o quanto me arrependo de não ter conseguido impedir que esta separação acontecesse... Mas o meu pai merece ser feliz...

Volto a carregar no botão para reproduzir e a música que acompanhava o andamento das fotos começa a dar novamente.

Imagens tiradas antes dos meus 13 anos relembram-me de pequenos momentos marcantes que nunca esquecerei e, apesar de serem lembranças felizes, é com alguma tristeza que as revejo, pois sei que nunca mais poderei revivê-las novamente senão em simples e genuínas fotografias.

Ouço a porta do meu quarto abrir-se. Com certeza é Liliana visto que só estamos as duas em casa, o meu pai e a Marlene estão a trabalhar. Olho para a entrada do meu quarto e para meu espanto não é Liliana.

-Que estás aqui a fazer?

Pego no comando e paro a reprodução.

-Esqueceste-te de me entregar o meu cartão de memória e eu preciso, urgentemente, dele. A Lily deixou-me entrar.

A Lily?! Harry faz sinal com os seus olhos verdes de forma a avisar-me para mentir. Desvio o olhar para Liliana que estava atrás de Harry.

-Ah, isso... E não sabes bater à porta?- o rapaz ia começar a falar, mas eu interrompi-o- Esquece, não respondas.

Levanto-me e fecho a porta do quarto lentamente, não quero ser grosseira para Liliana, mas quando um rapaz vem de propósito cá a casa só por causa de um cartão de memória isso é de desconfiar. É muito provável que ela já esteja a imaginar o que não deve.

-Um cartão de memória? A sério?!- protesto de forma a que a minha voz seja inaudível fora do quarto.

-Podes aproveitar e dares-me os vídeos que gravaste... E querias que fizesse o quê? Não me respondeste às mensagens que eu mandei nos últimos dois dias depois daquilo que se passou.- Harry revira os olhos e eu arqueio uma sobrancelha.

Procuro o meu telemóvel. Quando olho para o ecrã, verifico que tenho três mensagens de Harry, uma de Zayn, cinco da minha mãe e duas chamadas de Vanessa. Ultimamente não tenho utilizado o telemóvel...

-Harry, só mandaste três mensagens!

-E não chega? Além disso iria sentir a minha consciência pesada se mandasse mais, normalmente as pessoas respondem-me logo! Elas não são anti-sociais como tu...- Harry senta-se na cadeira da minha secretária.

-E foi preciso vires até aqui? Eu não me vou suicidar, estou intacta.- sento-me na beira da cama.

-Ah, peço desculpa se te incomodei com o trabalho que tive de vir até aqui!- suspira- Nós estamos a discutir só pelo facto de eu estar preocupado contigo, isso é ridículo...

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