Vanessa
Dependente. Cheguei a um ponto extremo onde não consigo encarar a vida sem a esquecer, ou pelo menos, navegar por ela sem me aperceber que estou a navegar num barco meio afundado.
E é por isso que vou acabar com esta vida que tenho aqui. Não aguento as memórias negativas de cada lugar que passo, cada objecto que vejo e me fazer pensar nestas sombras…
Ser quem sou é doloroso e torna-se difícil viver comigo a cada dia que passa. Ser quem sou é algo que não me orgulho. Não consigo ser fria ao ponto de esconder os meus sentimentos e pensamentos, não sou forte ao ponto de aguentar esta tormenta…
O barulho da chuva a bater na ponte de pedra, de certa forma é relaxante, mas não o suficiente para me restabelecer do negro passado. Este local também me traz memórias… Irá ser um dos sítios que sentirei falta.
-Posso?
Olho para a pessoa ao meu lado que se encontra em pé. Mas aquela voz não me engana, a sua doce voz…
Não respondo.
Ele limita-se a sentar ao meu lado. Nos momentos seguintes a chuva foi a maior faladora.
Desejei que ele se fosse embora, mas que ficasse perto de mim. No entanto, eu não posso ter desejos que se excluem mutuamente…
-Desculpa.- pronuncia. A singular palavra que saiu da sua boca…
Desculpar o quê? A única pessoa que devia de se desculpar era eu… O meu comportamento nunca foi o melhor com ele.
-O mais correto que temos a fazer é não nos vermos…- digo por fim.
-Desculpa por não te ter protegido. Eu não devia ter desistido de ti… Em parte a culpa é minha. Agora afastaste-me e por muito que esteja magoado, penso em ti todos os dias. Preocupo-me pelo estado em que foste deixada. Sinto-me inútil porque não sei o que fazer…
A minha expressão poderia ser de indiferença, mas tudo o que ele disse foi captado com toda a atenção que merece.
Todas as minhas inseguranças negaram a passagem do sentimento que, provavelmente, sempre senti pelo Zayn. Confundi amizade com amor e nunca fui capaz de corrigir esse erro.
-Nunca devia ter permitido que entrasses na minha vida.- Zayn exprime tristeza e eu pude notar ao olhar directamente para ele pela primeira vez.- Porque não merecias sofrer… Não quero que isso aconteça no futuro.
-Mas tudo vai melhorar. Eu quero apoiar-te. Não precisas da porcarias da droga! Deixa-me salvar-te pela primeira vez…- Zayn coloca a sua mão na minha face.
-O Harry contou-te.- suspiro.- Já é tarde demais…
-Não. Desta vez, eu vou estar aqui. Não te vou deixar…
-Dizer que te amo seria estar a dizer a verdade, mas não posso. É impossível amar-te.
As palavras que proferi não deviam ter sido ditas porque eu não quero que ele se aproxime de mim. Isto é o fim da linha e eu não poderei levá-lo comigo.
-Porquê?
-Porque vou embora.- respondo.
-Vanessa, não cometas nenhuma loucura, por favor.
-Vou para Portugal.
Tomei esta decisão porque penso ser a mais acertada. Nada me resta aqui a não ser memórias amargas. Eu quero afastar-me delas, mesmo que isso implique afastar-me daqueles que amo.
-Quando? Por quanto tempo?- pergunta.
-Daqui a uns dias e vai ser definitivo. Vou ter de repetir o ano, mas já estava mais que visto… Os meus pais aceitaram a minha decisão e vou viver com os meus tios. Desculpa, Zayn… Eu não aguento estar mais aqui.
Abraço as minhas pernas como forma de protecção. Dentro da minha mente afundada nestes pensamentos negativos que resultaram em consequências obscuras, eu consegui possuir um pouco de consciência para tomar esta decisão e será essa mesma que eu irei seguir.
A verdade é que já estar aqui tornou-se muito sufocante para mim. Ao reviver todos os momentos da minha adolescência apercebo-me que fui inocente demais, iludi-me muito e na maior parte das vezes tomei diversas escolhas que levaram ao desabamento do meu ser. Consegui encontrar pessoas verdadeiras, que me apoiaram e não as vou esquecer facilmente, mas chegou a altura de partir…
-Eu… Claro que aceito a tua decisão, mas…- suspira.
-Talvez quando… Não sei… Quando estiver completamente sã psicologicamente, eu volte.
Será que esse momento irá acontecer? Cada vez o vejo mais longínquo. Existem dias que estou ciente daquilo que me falta e dos problemas que tenho e tento criar uma pequena solução, mas há outros dias que me foco mais no meu poço sem saída e isso obriga-me a recorrer a métodos menos apropriados…
-Mas não quero que cries expectativas. Hoje eu posso admitir que estou instável, amanhã poderei apenas estar a afundar-me ainda mais nos mais negros pensamentos e acções.
Quando for para Portugal, o laço de amizade que estabeleci com algumas pessoas daqui irá desaparecer de uma forma progressiva. Não considero a distância um obstáculo porque eu já estou a afastá-los de mim, mas os nossos estilos de vida serão diferentes. Talvez não seja a única que sentirei os nossos laços de amizade a corromper porque a realidade é que cada um irá seguir um caminho diferente. Eu irei para Portugal, Danielle vai para uma escola de dança, a Joana vai querer ir para a faculdade e talvez os rapazes consigam ser bem sucedidos no ramo da música… Tudo se vai desmoronar e talvez eu não queira assistir a mais um desgosto de uma vida.
-Apenas promete-me que deixas aquilo.- diz Zayn.
Por momentos fico confusa.
-O quê?
O rapaz levanta-se e afasta-se do local onde outrora estava sentado, ficando a olhar para o lado oposto onde me encontro.
-Não te faças de desentendida… Não te vou dar sermão das consequências dessas porcarias, mas esperava que tomasses consciência disso. Pelo menos, isso… Não penses que é duro apenas para ti porque assistir ao teu sofrimento também é angustiante. Já conseguiste parar e pensar na forma como eu me sinto? Por muito que penses que tens noção dos meus sentimentos ou das minhas emoções quando te vejo a passar por situações difíceis, não tens. Eu quero curar a ferida da tua queda, ajudar-te, falar contigo, agarrar a tua mão e garantir que vai ficar tudo bem. Mas não posso… Porque é que não posso? Explica-me o porquê de não ser capaz de te apoiar?
O que ele disse e a entoação que utilizou chegou para que conseguisse sentir gotas de lágrimas na minha face e quando ele se virou para me encarar, reparei que estava no mesmo estado que eu. Espontaneamente, levantei-me sem saber o que fazer.
-Eu quero que tenhas a noção do que eu sinto ao ver-te assim. Não quero que uses essa noção como uma energia negativa. Eu preciso que guardes na tua memória os meus sentimentos, utiliza-os para ganhares alguma força para seguir em frente.
Não consegui impedir aquilo que o meu corpo e a minha mente já pedia há muito tempo desde a primeira vez: sentir os seus lábios perto dos meus. E por momentos recebo uma golfada de ar fresco. Pela primeira vez em semanas sinto-me protegida e feliz.
-Deixa-me ser egoísta e ama-me uma última vez.- pede-me exasperado.
-Eu amo-te.- declaro firmemente porque nunca tive tanta certeza em algo tão intenso nestes últimos dias.
-Eu também te amo, Vanessa.
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Peço desculpa pelos séculos que demorei a publicar um novo capítulo. Tenho estado a tratar dos assuntos da faculdade... :/
Eu reparei que cheguei às 30 mil leituras e estou bastante contente! Muito obrigada! :D
Espero que não se tenham esquecido de mim xd
E também espero que este capítulo não vos tenha desiludido. Quero saber a vossa opinião :p
Beijinhos e até breve xx
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Confias em Mim para Amar?
Fanfiction"-Um livro de inglês?! Deves necessitar muito...-ironiza Harry com um sorriso. -Okay... A desculpa até foi boa, mas porquê mentir à minha mãe?- pergunta Louis. -Tu não pensas?! Se dissesse à tua mãe que vinha aqui só para conhecer os rapazes, quando...