Capítulo 1

9.1K 332 13
                                    

O telefone começou a tocar. Anahí, que descia a escada, resmungou em voz baixa e, segurando firme o pequeno Michael de apenas seis meses, desceu rápido os últimos degraus. Quando viu seu reflexo no espelho atrás da mesa do telefone, assustou-se.

O cabelo loiro claro estivera preso num coque, agora, mechas caíam pela testa e pescoço.

A camisa azul respingada da água do banho das três crianças não melhorava sua aparência. Michael colaborava, puxando os botões da camisa para expor-lhe o seio. Apesar de ser uma criança dócil, no momento estava cansado e impaciente.

Anahí: Não. -ela disse firme, afastando a mãozinha dos botões- Logo vai jantar. -falou, atendendo ao telefone- Alô?

Anahí não percebeu a pequena pausa tensa, antes que a pessoa do outro lado da linha falasse com cuidado.

- Anahí? É Rachel.
Anahí: Oi, como vai Rachel? -pelo espelho, reparou que seu rosto suavizou a expressão ao escutar a voz da melhor amiga- Michael, por favor, espere mais um pouco! -disse ao garotinho que insistia em puxar-lhe os botões-

Ele olhou-a bravo, e Anahí sorriu divertida. Michael era o mais genioso e exigente dos filhos, mas ela o adorava. Ele era a cara de Alfonso, seu marido.

Rachel: As crianças ainda não estão dormindo? -perguntou-

Não era segredo que crianças a irritavam. Rachel, executiva sofisticada, não tinha tempo a perder. Anahí levava uma vida diferente.

Além de ser sua melhor amiga, Rachel era a única quem ainda mantinha contato depois de deixar o colégio.

Anahí: Dois já dormiram, só falta o caçula. Michael está fome, mas pode esperar.
Rachel: Alfonso já chegou para o jantar?

Anahí percebeu a desaprovação no tom de voz da amiga e sorriu. Rachel e Alfonso não se entendiam bem.

Anahí: Ainda não, por isso pode xingar à vontade que ele não vai ouvir.

Não se importava que a amiga criticasse Alfonso quando ele não estava presente.

Desta vez, um silêncio estranho pesou entre as duas.

Anahí: Alguma coisa errada, Rachel?
Rachel: Escute Anahí, vou me sentir péssima, mas você tem o direito de saber.

Naquele momento, um dos gêmeos desceu a escada, fingindo atirar com um revólver. Michael mexeu-se inquieto os olhos brilhando ao ver o irmão que se aproximava.

- Quero tomar água -o atirador respondeu à pergunta muda da mãe e foi para a cozinha-

Rachel: Escute... -ela parecia impaciente- Sei que está ocupada. Ligo mais tarde, talvez amanhã. Eu...
Anahí: Não ouse desligar. Espere um momento que já volto.

Anahí percebeu que o que Rachel tinha para dizer era importante. Colocou o fone na mesa e foi atrás do filho mais velho, as pernas bem torneadas eram realçadas pela calça fuseau branca, que usava com meia soquete e tênis. Mesmo não sendo alta, sua figura era atraente devido ao tipo longilíneo e o corpo bem-feito apesar das gravidezes. Quando tinha tempo, Anahí sempre se exercitava fazendo ginástica, nadando ou jogando badminton, um jogo parecido com tênis, só que, em vez de bola, jogado com uma peteca sobre uma rede alta.

Anahí: Peguei você, pequeno bandido! -disse para Sammy, o filho de seis anos, que estava com a mão no pote de biscoitos. O garoto corou e ela continuou- Tudo bem, leve um para Kate e nada de migalhas na cama!

A cozinha era grande e confortável. Anahí colocou o bebê no carrinho encostado no canto e deu-lhe um biscoito para se distrair, enquanto voltava ao telefone.

Anahí: Ainda está aí Rachel?
Rachel: Por que você não arruma alguém para ajudar com as crianças? As vezes elas são insuportáveis!
Anahí: Eu tenho uma ajudante mas, à noite, gosto de ter a casa só para mim. Fico mais à vontade.
Rachel: Mais à vontade e sonolenta. Pelo amor de Deus, Anahí! Pare de bancar a Gata Borralheira e trate de acordar.
Anahí: Acordar para quê?
Rachel: Anahí, onde está Alfonso?
Anahí: Trabalhando até mais tarde.
Rachel: Ultimamente, ele tem trabalhado muitas vezes além do expediente, não é?
Anahí: Sim. Está muito ocupado com o caso Dornan. Você sabe, ouvi vocês discutindo o caso na última vez que veio jantar aqui.
Rachel: O caso Dornan terminou há séculos!

Será que Rachel viera jantar havia tanto tempo? Sim, Michael estava com três meses. Puxa, isto fora havia noventa dias!

Anahí: Rachel, você precisa aparecer logo para jantar. Não nos vemos há tanto tempo! Vou perguntar a Alfonso quando ele terá uma noite livre...
Rachel: Anahí! Por favor, não liguei com o intuito de me convidar para um jantar, apesar de sempre valer a pena. Não sei como encontra tempo para cozinhar tão bem, com o trabalho de casa e essas três crianças levadas, sem mencionar que egoísta...

Rachel reprovava o modo como a amiga se dedicava à casa, fazendo quase todo serviço. Achava que Alfonso não ajudava em nada. Não tinha idéia de como ele era ocupado e como fora difícil subir na carreira e sustentar a família ao mesmo tempo. Ele trabalhava muito pela família, para lhes garantir segurança no futuro.

Rachel: Não posso mais me conter, Anahí. Você é minha amiga, não ele. Já é hora de alguém alertá-la para o que está acontecendo bem debaixo do seu nariz!
Anahí: Um momento, o que quer dizer com isso?
Rachel: Que está fazendo papel de tola, amiga. Alfonso não fica trabalhando até tarde. Ele está com outra mulher!

As palavras soaram tão fortes, que Anahí pensou que fosse cair.

A Falta que Você me Faz [ADP]Onde histórias criam vida. Descubra agora