Capítulo 9

4.7K 278 31
                                    

Alfonso estava sentado no sofá da sala quando Anahí entrou. Segurava um livro na frente do rosto, dando a impressão de ter ficado na mesma posição durante horas. Como não deu o menor sinal de vida, ela ficou na defensiva, esperando por uma explosão que não aconteceu, então fechou a porta e foi para a cozinha.

Rindo consigo mesma ao entrar, pela primeira vez em muito tempo sentiu preocupação por parte dele. Observara o movimento na cortina da sala enquanto pagava o motorista do táxi.

Anahí jogou o casaco em uma cadeira e começou a preparar um café. Alfonso entrou de mansinho, descalço, vestindo calça de abrigo e uma camiseta.

Alfonso: É melhor telefonar para Rachel -disse, ao puxar uma cadeira e deixar-se cair sentado-

Anahí: Por quê?

Alfonso: Porque eu a amolei o dia todo. Pensei que estivesse lá e ela não quisesse me contar.

Anahí: E como sabe que não foi exatamente isto que aconteceu?

Houve uma pausa antes que ele respondesse relutante.

Alfonso: Porque pedi para minha mãe ficar com as crianças e fui até o apartamento dela, para me certificar.

Anahí: E agora as duas sabem que passei o dia fora.

O café ficou pronto e Anahí colocou-o na garrafa térmica.

Alfonso: Não pode me culpar por ter ficado preocupado com esta sua saída maluca. -ele disse, sem graça-

Bom! Isto o ensinaria a não tratá-la mais como criança.

De qualquer modo, era interessante Alfonso ficar sabendo que a esposa previsível havia mudado.

Sentou-se na frente dele, aquecendo as mãos na fumaça que saía da xícara de café. Ele apoiou os braços na mesa e tamborilou os dedos como se quisesse dizer alguma coisa e não tivesse coragem. A expressão estava tensa, o cabelo despenteado. Nunca o vira naquela postura abatida antes.

Alfonso: Seus pais também sabem... -falou de repente- Telefonei para eles quando não imaginei outro lugar onde você pudesse estar. Esperaram por você durante toda a tarde. É melhor ligar e dizer que chegou bem.

Então, depois de procurar em três lugares, ele esgotara a possibilidade de encontrá-la. O que tal atitude lhe dizia sobre si mesma? Decidiu deixar de lado, já fizera muita auto-análise para um dia. Em vez disso, sugeriu:

Anahí: Vou lhe dizer uma coisa, Alfonso. Por que não liga para eles você mesmo, uma vez que foi você quem os deixou preocupados? Ligue para sua mãe e para Rachel também. Eu não estou com a menor vontade de falar com ela.

Alfonso: Com a minha mãe?

Anahí: Não, com Rachel. Você a colocou no rolo depois de ter dito que ela não deveria ter se intrometido, então, se pensa que está preocupada, telefone!

Alfonso: Todos nós ficamos preocupados! -respondeu, irritado-

Anahí: Eu não faço o gênero suicida, você sabe muito bem... -ela disse, tomando um gole do café. Quanto mais tenso Alfonso ficava, mais à vontade Anahí se sentia- Tenho sido uma tola no que se refere a você, mas não pense que vou destruir minha vida.

Alfonso: Jamais a considerei tola.

Anahí: É claro que sim. Quantas vezes pensou em desperdiçar seu precioso tempo comigo?

Alfonso inspirou profundamente para se acalmar.

Alfonso: Afinal, aonde você foi?

Anahí: Até o centro de Londres.

Alfonso: O que foi fazer por lá? Está fora de casa desde as dez horas da manhã. Que diabos achou para fazer num domingo, com todas as lojas fechadas, durante quase doze horas?

Anahí: Talvez eu tenha encontrado um homem! –provocou- Afinal, não é difícil encontrar um. -o rosto de Alfonso ficou pálido. Era a primeira vez que ela o enfrentava- Ou talvez eu tenha decidido procurar conforto fora, porque não estou encontrando muito aqui em casa.

Ele levantou-se com raiva e derrubou a cadeira.

Alfonso: Pare! Pare de tentar me agredir, Anahí! Nem parece você, com esse prazer em magoar os outros!

Não parecia mesmo. Era engraçado como a natureza das pessoas podia mudar de um dia para o outro. Sempre fora gentil e agora sentia um impulso incontrolável de ferir! Nem mesmo se importava com a preocupação dos pais ou de sua sogra.

Anahí: Então vá fazer os telefonemas. -ela falou, olhando para a xícara que tinha nas mãos- Assim não precisa ouvir mais nada.

Alfonso encarou-a, pronto para reagir à provocação, mas sacudiu a cabeça e saiu da cozinha. Ao escutar a porta do escritório ser fechada com violência, ela deu um sorriso.

A Falta que Você me Faz [ADP]Onde histórias criam vida. Descubra agora