Capítulo 2

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Anahí: O quê? Ele saiu com uma mulher esta noite?
Rachel: Não, não hoje em particular. Algumas noites. Não sei quando exatamente. Só sei que ele está tendo um caso, e parece que todos em Londres já sabem, menos você!

Silêncio. Anahí não conseguia coordenar o pensamento.

Rachel: Sinto muito Anahí –falou percebendo o choque da amiga- Não pense que fico contente. Só estou contando porque me certifiquei antes de que é tudo verdade. Eles foram vistos em lugares públicos, em atitudes íntimas. Eu mesma os vi. Meu namorado tem um apartamento no mesmo prédio que Sara Canning, e cruzei com os dois saindo de lá.

Anahí se recusava a ouvir mais. Começava a se conscientizar de pequenas coisas que deveria ter notado há mais tempo, e às quais não dera atenção, envolvida pela rotina do dia-a-dia. Confiara demais no homem cujo amor por ela e pelas crianças jamais questionara.

Mas enxergava agora. A sutil mudança no humor, a maneira de tratar a família, e as muitas vezes em que ele ficara embaixo, no escritório, em vez de subir para o quarto com ela, para fazerem amor.

Um suor frio percorreu-lhe o corpo e Anahí ficou nauseada. Lembrou-se de outras vezes, quando Alfonso quis fazer amor e ela sentia-se cansada ou sem vontade. Semanas, meses de amarga frustração e desencontros, quando ela o procurou, e então, ele é que não estava disposto.

Acreditou que fosse apenas uma fase. Há duas ou três semanas, quando Michael começou a dormir a noite toda, sentiu-se mais descansada e pensou que tudo entraria nos eixos.

E havia apenas algumas noites, fizeram amor de forma tão intensa como antigamente.

Anahí: Deus...
Rachel: Anahí!

Não, ela não queria ouvir mais nada.

Anahí: Preciso desligar Rachel, Michael está chorando.

Lembrou-se de outro fato ainda mais dolorido como as fracas performances sexuais. Um perfume que sentiu um dia de manhã, ao lavar uma camisa de Alfonso. O mesmo perfume que sentia quando ele chegava tarde do trabalho.

Tola! Só conseguia enxergar Alfonso com outra mulher.

Tendo um caso, fazendo amor...

O telefone começou a tocar outra vez. Um choro cansado veio da cozinha. Com inesperada calma para quem sofrera um choque, Anahí tirou o fone do gancho, desligou e em seguida tirou novamente e colocou sobre a mesa. Depois foi para a cozinha.

Alimentou Michael e colocou-o para dormir, ficando um longo tempo parada na porta do quarto, com o olhar perdido. Sentia a cabeça vazia. Devagar, andou na direção dos quartos dos gêmeos, Sammy, como sempre, dormia com as cobertas atiradas para fora da cama. Beijou o rosto querido e o cobriu. Sam era o filho mais parecido com o pai, possuía o mesmo cabelo escuro e o queixo determinado. Era alto e robusto. Pelas fotografias que vira no álbum da sogra, Alfonso e Sam eram muito parecidos quando tinham a mesma idade. Aos seis anos, o garoto já mostrava obstinação, como o pai.

Depois, entrou no quarto de Kate. Ela era o oposto do irmão. Quando ia acordá-la de manhã, quase sempre estava na mesma posição que dormira. Seu cabelo brilhava como os raios do sol. Era a paixão do pai e conseguia mais dele que todos na casa, e ele adorava sua princesa de olhos azuis. Kate sabia disso e o explorava ao máximo.

Como Alfonso tivera coragem de fazer algo que pudesse magoar seus filhos queridos? Como ousara destruir tudo por sexo?

Sexo? Talvez fosse mais. E se fosse amor? Paixão? Uma paixão enlouquecida pela qual um homem trairia tudo?

Talvez fosse apenas uma mentira suja. Mas lembrou-se do perfume e das noites que ele passara fora, culpando o caso Dornan.

Saiu do quarto de Kate e foi para o deles, onde, na semana anterior, se encontraram novamente e fizeram amor pela primeira vez em meses.

O que acontecera para que ele a procurasse outra vez? Ela havia se esforçado. Preocupada com o rumo que o relacionamento estava tomando, resolvera mandar as crianças para dormir na casa de sua mãe. Fizera o jantar predileto de Alfonso e servira na sala de jantar, à luz de velas, com a prataria e os cristais, e o recebera na porta com um vestido sedutor e um beijo cheio de promessas.

Naquela noite, não notara a veia que pulsava em seu pescoço e que sempre era um indício de que ele estava sob tensão. Agora conseguia lembrar. Fechou os olhos e viu o rosto contraído, a pele pálida e a veia pulsando quando ela o abraçara de modo provocante.

Nauseada, saiu do quarto e desceu para a sala de estar, enxergando os fatos com clareza e percebendo que fora uma tola, sem consciência do que fazia.

Lembrou a tensão com que ele segurara seus ombros, tentando manter certa distância. O brilho sofrido dos olhos esverdeados, e como ele ficara imóvel diante dos lábios convidativos. O tremor que passara por ele quando ela disse:

"Eu te amo, Alfonso. Desculpe por ter estado tão difícil de conviver."

Ele fechara os olhos, engolindo em seco e apertara as mãos em seus ombros até quase machucar. Depois, puxara-a para junto do corpo, mergulhara o rosto em seu pescoço e não disse uma única palavra. Nem que a desculpava nem que a amava. Nada.

Mas fizeram amor com intensidade e paixão, sem fingimento. Ou não?

O que entendia da sexualidade dos homens?

Conhecera Alfonso quando tinha dezessete anos e ele fora seu primeiro e único namorado. Não sabia absolutamente nada sobre os homens e, pelo jeito, nem sobre seu próprio marido.

Olhou-se no espelho sobre a lareira. Apesar da palidez e da tensão em torno da boca, era a mesma Anahí Portilla. Apenas vinte quatro anos. Mãe e esposa, nesta ordem. Sorriu com amargura, enfrentando a verdade como nunca se permitira antes.

A Falta que Você me Faz [ADP]Onde histórias criam vida. Descubra agora