Com todo o cuidado do mundo, depositei Elisa na cama. Logo em seguida, Lucy irrompeu no quarto, com um ar de pânico estampado em seu rosto. Ela agiu instantaneamente, materializando um homem no aposento. O recém-chegado observou seu entorno com uma expressão confusa antes de voltar sua atenção para minha noiva deitada na cama, dirigindo-se a ela com urgência.
— Lucy, me conte o que aconteceu? — Indagou o homem, retirando algo de dentro de sua bolsa. Meu coração palpitava de ansiedade enquanto eu observava atentamente a cena, percebendo então que a bolsa do homem parecia ser infinita, revelando-se um indício de que ele era, de fato, um habilidoso curandeiro.
— Eu não sei, — murmurei com apreensão, mantendo meus olhos fixos no homem. — Quando cheguei lá, meu irmão estava a atacando — expliquei. O curandeiro continuou a retirar vários objetos de sua bolsa aparentemente inesgotável, enquanto eu tentava compreender a gravidade da situação.
— Pulsação fraca, perda significativa de sangue — observou ele, visivelmente perturbado. Com destreza, ele injetou uma seringa no braço de Elisa, começando um processo de urgente cuidado médico para salvar sua vida.
— Como ela está? — Minha mãe perguntou, entrando no quarto, com um olhar aflito enquanto observava Elisa deitada na cama.
— Mal — Murmurei, sentindo uma dor profunda apenas ao ver a mulher que amo sofrendo. As lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos. — Olha o que ele fez com ela — Disse, deixando as lágrimas caírem ainda mais intensamente.
— Ela vai ficar bem — Minha mãe tentou me confortar, envolvendo-me em um abraço solidário.
— Droga — Ouvi o curandeiro murmurar e, mais uma vez, direcionei meu olhar para eles.
Elisa estava conectada a uma bolsa de sangue, mas sua aparência era terrível. Seus lábios estavam roxos, sua pele extremamente pálida, marcada por várias evidências de agressões em seu corpo. Seu maxilar estava da mesma cor que sua boca, e havia vestígios de sangue em sua cabeça e pescoço, indicando ferimentos graves. Onde diabos estava aquele idiota do Felipe?
Você deve estar se perguntando por que eu não dei o meu sangue a ela, não é mesmo? A resposta é simples. Quando um vampiro morde alguém e compartilha seu sangue com essa pessoa, ela se cura. Entretanto, se um vampiro morde alguém e outro vampiro oferece seu sangue à vítima, ela se transforma em um vampiro. No momento, não tenho a menor ideia se Elisa deseja se tornar uma vampira ou não. Além disso, há a incerteza sobre se ela teria que renunciar aos seus poderes sobrenaturais ou se se tornaria uma híbrida. Estamos lidando com um território desconhecido.
— O que está acontecendo aqui? — Ouvi meu pai perguntar, seus olhos se fixando na minha noiva deitada na cama.
— Felipe a atacou — Respondi com a voz embargada, meus olhos ainda grudados em Elisa, que parecia extremamente fraca e à beira da morte. Eu estava determinado a não permitir que isso acontecesse com a mulher que amo.
— Eu localizei o Felipe — Olhei para Lucy, percebendo agora que ela estava realizando um feitiço de rastreamento.
— Onde ele está, Lucy? — Perguntei, me aproximando dela com urgência. Lucy me encarou e, em seguida, abriu um portal diante de nós.
— Ele está no mundo humano, vá para o norte — Ela instruiu, e sem hesitar, comecei a correr o mais rápido que minhas pernas permitiam. Eu tinha que alcançá-lo e fazer com que ele curasse minha amada.
Por que eu permiti que Elisa fosse falar com ele? Ela poderia estar comigo agora, poderia estar bem. Ela me confessou seu amor, e eu não posso permitir que ela morra, simplesmente não posso.
Avistei Felipe olhando apreensivamente para os lados, sua expressão denunciando medo, mas minha raiva era muito maior. Sem pensar duas vezes, desferi um soco nele, fazendo-o voar e colidir com força em uma árvore próxima. Não dei a ele tempo para se recuperar, corri em sua direção e acertei seu estômago com firmeza, arrancando um urro de dor dele, mas ele não ofereceu resistência.
— COMO VOCÊ TEVE CORAGEM, FELIPE? — Gritei, encarando meu irmão mais velho nos olhos, minha fúria ardendo intensamente.
— Perdoe-me, irmão — Felipe disse, permanecendo caído no chão. Seus olhos azuis pareciam poços de arrependimento, prestes a se encher de lágrimas. — Eu não queria, estava com medo... medo de ela não me querer — Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ele lutava para não chorar. — Me mostre o caminho de volta para casa.
Estendi minha mão para ajudá-lo a se levantar da base da árvore onde estava caído. Apesar da fúria que ainda fervilhava em mim, não podia deixar meu irmão mais velho sozinho no mundo humano.
— Me acompanhe — Disse, levando-o consigo enquanto corríamos. — Não me decepcione novamente, Felipe.
Assim que atravessamos o portal que Lucy havia deixado aberto para nós, um copo foi estendido para Felipe. Sem hesitar, ele mordeu seu próprio pulso e deixou o sangue escorrer dentro do copo, antes que a mordida se fechasse.
(...)
— A menina está estável agora, mas vai permanecer inconsciente por um bom tempo. Demorou muito para receber o sangue, e o estrago foi significativo — O curandeiro explicou enquanto arrumava suas coisas em sua bolsa sem fundo.
Meu olhar voltou para minha noiva deitada na cama, e o peso do arrependimento se abateu sobre mim. Não deveria tê-la deixado falar com Felipe. Elisa continuava com uma palidez extrema, embora o grande ferimento em seu pescoço estivesse lentamente cicatrizando, fechando-se aos poucos. Como o curandeiro havia dito, as chances de deixar uma cicatriz eram enormes. Felipe tinha sido extremamente agressivo quando a mordeu. Suspirei, ainda sentindo a vontade de confrontá-lo, mas eu sabia que ele estava lutando com a culpa por ter perdido o controle.
— Agradecemos imensamente pelos seus serviços — meu pai disse, apertando a mão do curandeiro. O homem sorriu e dirigiu seu olhar para Lucy, que também sorriu e estalou os dedos. Em um piscar de olhos, os dois desapareceram. Alguns segundos depois, Lucy voltou.
— Ela ficará bem, Henrique. Vai demorar, mas precisamos ter paciência — Ela disse, aproximando-se e me abraçando. Não recusei o conforto de seu abraço.
(...)
Cada dia que passava, a vontade de bater em Felipe crescia dentro de mim. Os dias pareciam se arrastar, e eu me sentava ao lado de Elisa diariamente, segurando sua mão e contando a ela um resumo de tudo o que acontecia. Lucy me disse que não havia como ter certeza de que ela estava ouvindo, mas eu continuava, imaginando que, quando ela acordasse, estaria atualizada sobre tudo.
No entanto, mesmo com meu empenho, eu me sentia inútil. Imaginar não a faria acordar e me olhar com aqueles olhos castanhos brilhantes. Seu organismo estava trabalhando lentamente. O ferimento em seu pescoço havia se curado completamente, mas ela ainda carregava uma cicatriz esbranquiçada. Não conseguia olhar para a cicatriz de Elisa sem sentir uma vontade intensa de fazer o mesmo com meu irmão, mas me mantinha controlado.
Um dia, enquanto estava ao lado dela, Elisa começou a convulsionar bem diante dos meus olhos. Minha primeira reação foi colocá-la de lado, para evitar que se engasgasse. Senti seu pulso diminuindo, e o desespero tomou conta de mim.
— FELIPE! — Gritei o mais alto que consegui, mas ele não apareceu de imediato. — FELIPE! — Minha garganta ardeu com o esforço do grito, e finalmente ele estava parado diante de mim, com os olhos arregalados.
— Sangue, ela precisa do seu sangue — Falei com urgência, arrumando Elisa na cama assim que ela parou de convulsionar e limpando sua boca. Seus lábios começavam a ficar arroxeados, e sua pele estava ainda mais pálida.
Felipe não perdeu tempo e mordeu seu próprio pulso, aproximando-o dos lábios de minha noiva. Ele olhou para mim, e pude ver a culpa em seu olhar.
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Adotada por Vampiros
VampireElisa passou a vida inteira esperando por uma família, mas agora que a oportunidade chegou, ela se pergunta: e se eu não for quem eles esperam? E se eles não forem quem eu imagino? Plágio é crime História iniciada em: 11/06/2016 História finalizada...