Cap. 35 | Charlotte - Revisado

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O ar estava pesado com o cheiro da dor e do luto, um perfume doce que eu mal podia resistir. A cerimônia de Savannah se desenrolava à minha frente, uma cena de tristeza que me fazia sentir um prazer oculto, como uma criança em um parque de diversões. Todos estavam lá, com os rostos manchados de lágrimas e expressões de desespero, e eu, no centro do caos, observava com um sorriso interno.

Nunca foi meu objetivo manter Savannah como refém. O que eu queria era o luto deles, o desespero que resultaria na tragédia da sua morte. E, mais importante, eu queria que esse luto servisse como uma cortina de fumaça, um momento em que a família Derkian estaria vulnerável. O verdadeiro alvo era Henrique, o homem que destruiu a minha família. Ele era o culpado pela morte do meu pai, e eu estava determinada a fazer justiça, ou o que eu considerava justiça.

A cerimônia seguia em frente, e eu me permiti um momento para observar Felipe, o namorado da defunta, meu irmão. Ele estava ali, desolado, como um cachorro ferido. O coração partido dele era um bônus que eu nunca tinha previsto. Eu queria que ele sentisse a dor que eu sentira, mas queria ainda mais que Henrique a sentisse. Queria que ele visse a destruição que causou, não só em sua própria vida, mas na de todos ao seu redor.

(...)

Sentada em minha mesa, com os dedos entrelaçados e a mente fervilhando, observei Collins entrar no quarto. A luz fraca das velas projetava sombras dançantes nas paredes, mas a verdadeira escuridão estava no que planejava. Ele se aproximou, com uma expressão de determinação que eu já conhecia bem.

— Charlotte — começou ele, sua voz baixa, mas cheia de urgência —, tudo está preparado. Nossos homens estão prontos para o ataque aos Derkian. A essa altura, eles ainda estão de luto pela Savannah. — Senti uma onda de satisfação percorrer meu corpo. A fraqueza deles era a nossa maior vantagem. Eles estavam ocupados com suas lágrimas, e isso tornava a tarefa muito mais fácil.

— Precisamos agir ainda hoje — declarei, minha voz firme e resoluta. — A guarda deles está baixa, e isso é o que vamos aproveitar. É o melhor momento para atacar. — Collins assentiu, um brilho de aprovação em seus olhos. Eu sabia que ele entendia a importância do que estávamos prestes a fazer. Não era apenas um ataque; era uma declaração de guerra. Uma vingança em grande escala.

— Você está certa — disse ele, com um leve aceno. — Eles não esperam um movimento agora. A dor deles os deixou vulneráveis, e nós devemos aproveitar isso. — Um sorriso frio se formou nos meus lábios. Era o que eu queria ouvir. Cada um daqueles Derkian iria sofrer pela morte de Savannah, e eu faria questão de garantir que sua dor fosse intensa e prolongada.

— Vamos reunir o exército — ordenei, levantando-me da mesa. O tempo para lamentos e incertezas já havia passado. Eu estava pronta para a ação.

(...)

Tudo ocorreu exatamente como eu havia planejado. O ataque aos Derkian pegou todos de surpresa, a confusão era palpável, e estávamos em vantagem. Gritos e sons de luta ecoavam pelo ar, enquanto eu movia-me com precisão entre os combatentes. O meu coração pulsava com a adrenalina da batalha, mas, no fundo, havia um objetivo ainda mais significativo: Elisa, a noivinha de Henrique.

— Collins, venha! — chamei, e ele não hesitou em me seguir. O olhar determinado de meu ajudante refletia a mesma urgência que eu sentia.

Avançamos até avistar Elisa, eu sabia que precisava agir rápido. Me aproximei sorrateiramente, passando pelas sombras até ficar diretamente atrás dela.

— Calma, não faça barulho! — sussurrei, tampando sua boca com minha mão. Ela ficou tensa por um momento, mas não resistiu. Sabia que estava em uma situação delicada. Em um movimento rápido, retirei um punhal envenenado de meu cinto e pressionei a lâmina fria contra o pescoço dela — Se essa lâmina entrar em contato com seu sangue, você morrerá em menos de meia hora — avisei, olhando nos olhos dela, buscando entender sua reação.

O pânico começou a se formar, mas o silêncio que se seguiu foi uma resposta positiva. Ela sabia que não tinha escolha.

— Vamos para algum quarto — disse, minha voz baixa e firme.

— Venha — Collins respondeu, guiando-me por um corredor vazio até um quarto discreto e afastado. A atmosfera estava tensa, mas a satisfação de ter Elisa sob meu controle era eletrizante.

— Vou trazer o noivo dela para cá — disse Collins, antes de sair, deixando-me sozinha com a celestial. O ar estava pesado com a expectativa e a raiva contida, enquanto eu me voltei para Elisa, que me encarava com os dentes rangendo.

— O que você quer, sua maldita?! — ela exigiu, a voz tremendo de indignação e medo.

Sorrindo para mim mesma, admirei a bravura dela. Celestiais eram criaturas intrigantes, sempre tão cheias de vida e coragem. Mas, na situação em que se encontrava, não havia espaço para bravatas.

— O que eu quero — comecei, dando um passo à frente e aumentando a pressão do punhal contra sua pele — é muito simples. Você é a chave para atingir seu noivo. E, acredite, ele não vai ficar muito feliz quando perceber que você é a próxima na lista. — O olhar de terror se instalou no rosto de Elisa, e a adrenalina em minhas veias pulsava com força. Agora, finalmente, estava no controle — Então, vamos conversar, Elisa. Você vai me ajudar a garantir que Henrique sinta a dor que eu sinto. E, caso contrário... — deixei a frase no ar, permitindo que a ameaça pairasse entre nós.

Collins entra no quarto trazendo Henrique, e a tensão no ar fica quase insuportável. O vampiro entra apressado, e seu olhar vai diretamente para Elisa, o pânico estampado em seus olhos.

— Elisa... — a voz dele treme de maneira quase imperceptível, mas o suficiente para me fazer aumentar meu sorriso de satisfação.

Eu sempre soube que esse seria o momento em que ele perderia o controle. A visão da noiva dele em minhas mãos, à mercê do meu punhal envenenado, era o que eu mais ansiava desde o início.

— Tudo poderia ser diferente, Henrique, se você não tivesse matado o meu pai — disse, minha voz carregada de ódio e vingança. A lâmina fria em minha mão pressionou ainda mais contra o pescoço de Elisa, o que fez com que ela engolisse seco, paralisada de medo. Sua respiração tornou-se rápida e superficial, mas o olhar dela me implorava para não seguir adiante. Eu, no entanto, só sentia prazer em ver seu pavor.

Henrique deu um passo à frente, os músculos tensos, pronto para agir, mas Collins se posicionou entre nós, segurando-o no lugar com uma mão firme no ombro dele.

Collins se move rápido, e antes que Henrique possa reagir, uma estaca de madeira perfura o estômago dele com um som nauseante. O grito de dor de Henrique ecoa pelo quarto, fazendo meus olhos brilharem com a satisfação de ver o início da sua agonia. Ele cai de joelhos, sangue escorrendo por sua boca enquanto tenta desesperadamente se manter de pé.

— Você vai aprender o que é perder tudo — murmuro, com um sorriso cruel nos lábios.

Enquanto Henrique tenta inutilmente alcançar Elisa, eu deslizo a lâmina envenenada pelo braço dela, o corte superficial suficiente para liberar a toxina mortal que reveste o punhal. O veneno de Saarin, uma substância letal que destrói as células do corpo lentamente, já começa a agir.

Elisa arqueja, surpresa com a dor repentina. Em segundos, ela começa a vomitar violentamente, o líquido escuro manchando o chão. Solto o corpo dela, deixando-a cair desamparada no chão, se contorcendo de dor.

— Se tivesse apenas ficado longe, se não tivesse matado meu pai, nada disso teria acontecido.

Henrique, mesmo com a estaca no estômago, se esforça para se aproximar de Elisa, suas mãos tremendo ao tentar alcançá-la. Ele mal consegue respirar, mas o desespero de ver sua noiva agonizando o empurra para frente, centímetro por centímetro.

— E o que você faz? — continuo, agora me divertindo com o espetáculo. — Você tenta salvar uma mulher que já está morta. Esse veneno... Não há cura. Ela está perdida, assim como você estará em breve.

Collins observa tudo em silêncio, seus olhos frios e sem emoção enquanto Henrique finalmente alcança Elisa, segurando sua mão enquanto ela vomita sangue, o rosto pálido e os olhos começando a perder o foco.

— Elisa... — Henrique sussurra, sua voz falhando. — Eu... sinto muito...

Adotada por VampirosOnde histórias criam vida. Descubra agora