Já se passaram exatos quatro dias desde que descobri que eu e Henrique estamos noivos. Mesmo após ele me explicar os motivos por trás disso, eu continuo evitando-o. No entanto, há algo que não sai da minha cabeça: aquele sonho perturbador em que Henrique destrói a porta do meu quarto. Curiosamente, a porta já foi consertada, mas algo dentro de mim insiste que aquilo não foi apenas um sonho. Além disso, não consigo me lembrar dos eventos da noite anterior, o que só aumenta meu desconforto e desconfiança em relação à minha nova realidade.
— Sua vez... — Tina me tira dos meus devaneios, e eu volto a focar no jogo de xadrez à nossa frente.
— Claro. — Movimento um dos meus peões para frente, tentando manter a concentração no tabuleiro, apesar das dúvidas que rondam minha mente.
— No que você estava pensando? — Tina pergunta enquanto mexe seu cavalo habilmente pelo tabuleiro.
— Não foi um sonho, né? — A pergunta que me atormenta escapa dos meus lábios antes que eu possa pensar melhor.
Tina parece momentaneamente assustada com minha indagação, como se eu tivesse tocado em um segredo profundo e oculto.
— Do que você está falando? — Ela responde, um tanto reticente.
— Meu sonho... ele foi real, não foi? — Insisto, minha curiosidade cada vez mais aflorada enquanto movo minha torre quatro casas para frente.
Tina assente com a cabeça, e o suspense no ar parece se intensificar.
— Se foi real, o que vocês realmente são? — Minha voz está carregada de expectativa enquanto movo minha rainha, fazendo xeque em seu rei.
— Me desculpe, Elisa. Eu não posso falar. Minha mãe e meu pai não me deram permissão. — Tina abaixa a cabeça, parecendo enfrentar uma séria dilema pessoal.
— Não pode me dar pelo menos uma dica? — Insisto, observando-a mover sua torre sem perceber que eu posso capturar seu rei na próxima jogada.
Tina parece considerar a ideia por um momento antes de responder:
— Pode ser. Minha mãe disse que ia contar aos poucos. — Ela sorri, mas logo percebe sua situação no jogo quando eu movo minha rainha, dando xeque-mate em seu rei.
— Xeque-mate. — Digo após pegar o rei dela. — Então, me dê uma dica, por favor. — Sorrio, sentindo-me animada pela possibilidade de finalmente desvendar o mistério que envolve a família Derkian.
— Nós não somos humanos. — Tina murmura enquanto se levanta com a caixa do jogo de xadrez.
— Bem, eu já desconfiava, mas é um começo. — Respondo com um sorriso sincero, sentindo-me um passo mais perto de entender a verdade.
— Que bom. — Tina retribui o sorriso antes de caminhar em direção à porta do meu quarto. — Preciso ir. — Ela se despede e sai, deixando-me com mais perguntas do que respostas, mas pelo menos agora sei que estou mais próxima de desvendar o enigma que cerca a família Derkian.
Me deito na cama, repassando mentalmente tudo o que aconteceu na minha vida nos últimos dias. Levanto-me e vou até o guarda-roupa, onde minha câmera estava guardada em uma gaveta. Sentada na cama, olho para o equipamento fotográfico. Já faz um tempo desde que não fotografo algo.
A porta se abre, e Henrique entra no quarto, fechando-a com um clique da chave que coloca no bolso de sua calça. Ele se aproxima de mim, um pouco tímido.
— Oi. Tudo bem? — Ele pergunta, buscando iniciar uma conversa.
— Sim, mas agora eu gostaria de descansar. — Minto descaradamente, segurando a câmera com firmeza em minhas mãos.
Ele parece hesitar, mas logo se aproxima mais.
— Eu vi a minha irmã aqui. — Henrique murmura, ainda inseguro.
— Ela estava aqui, mas saiu porque eu queria descansar. — Eu falo, apertando mais a câmera em minha mão, como se isso me desse coragem para encarar a situação.
Henrique se senta ao meu lado na cama, parecendo mais à vontade.
— Então, eu serei breve. — Ele diz, e eu volto minha atenção para ele. — Eu sei que você está me evitando desde o dia em que soube que é minha noiva, mas nós dois não somos noivos ainda. Eu vou te pedir em noivado na reunião de família que terá daqui a alguns dias, e lá vai ter muitas pessoas que você não conhece. Eu gostaria de pedir que, pelo menos, você finja que gosta de mim.
Henrique se levanta da cama e começa a se afastar em direção à porta do meu quarto, mas eu não posso deixar as coisas assim.
— Henrique... — Eu o chamo, fazendo-o parar e virar-se para mim. — ...Quem disse que eu não gosto de você?
Soltando um suspiro ao terminar de falar, olho para ele. Ele estava com um sorriso radiante no rosto, o que desperta uma sensação estranha em mim. Ele abre a porta do quarto e sai, me deixando com a cabeça cheia de perguntas. "Será que eu menti para ele? Ou não?" "Será que eu realmente gosto dele?"
A porta do meu quarto se abre novamente, e Henrique entra, parando na minha frente. Sem dizer uma palavra, ele me levanta da cama e encosta seus lábios nos meus. No começo, é apenas um toque suave, mas logo sinto seus lábios se movendo contra os meus. Como eu nunca havia beijado ninguém, permito que Henrique tome a iniciativa. Suas mãos apertam minha cintura, fazendo-me arfar. Henrique aproveita a oportunidade para aprofundar o beijo, deslizando sua língua suavemente em minha boca. A câmera fotográfica cai na cama, e eu coloco minhas mãos em seus ombros, ficando na ponta dos pés. Eu permito que Henrique domine meus lábios, e sinto todo o meu corpo entrar em êxtase.
(...)
Passou-se uma hora desde que Henrique veio até o meu quarto e me beijou, e ainda posso sentir o calor de seus lábios contra os meus. Resolvo levantar-me da cama ao perceber que está na hora do jantar. Olho para a roupa que estou usando: uma calça saruel, uma regata branca e confortáveis sapatilhas pretas nos pés. Não me preocupo em trocar de roupa e sigo para a sala de jantar.
Ao chegar lá, percebo que apenas Tina e dona Márcia estão sentadas à mesa. Sento-me de frente para Tina, e logo depois Henrique e Felipe juntam-se a nós. Henrique senta-se ao meu lado, e Felipe ao lado de Tina, ocupando o lugar no meio dela e de dona Márcia. Não demora muito para que o senhor Donald também chegue e se sente ao lado de Henrique, em frente a dona Márcia.
O jantar é servido, macarrão ao molho persa, acompanhado de suco natural de laranja para mim, enquanto os outros preferem suco de morango silvestre. Enquanto estamos no meio da refeição, ouço a campainha tocar. Dona Márcia faz um sinal para a serviçal mais próxima, que se dirige à porta. Quando ela volta, sussurra algo no ouvido de dona Márcia, que se levanta rapidamente da cadeira, parecendo um tanto assustada.
— Será que todos poderiam terminar o jantar em seus quartos? Eu e Donald temos assuntos a resolver. — Dona Márcia murmura, olhando aflita para o senhor Donald.
Termino minha refeição em meu quarto, e em seguida, um serviçal vem buscar o prato e o copo para lavar. Deito-me na cama, com a mente cheia de pensamentos. "Será que o beijo significou algo para Henrique?" "Eu gosto de Henrique?" "Quais assuntos dona Márcia e o senhor Donald foram resolver?" "Quem tocou a campainha?" "Quando será a tal reunião em família que Henrique falou?".
Sinto algo tentando tomar conta de mim novamente quando ouço um grito vindo do andar de baixo. Deve ser coisa da minha cabeça. Estou tão cansada que logo caio no sono e me entrego aos sonhos.
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Adotada por Vampiros
VampiriElisa passou a vida inteira esperando por uma família, mas agora que a oportunidade chegou, ela se pergunta: e se eu não for quem eles esperam? E se eles não forem quem eu imagino? Plágio é crime História iniciada em: 11/06/2016 História finalizada...