Cap. 22 | Bônus Hugo - Revisado

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Sei, de maneira inequívoca, que nunca desfrutei do amor ou da adoração de meu irmão. No entanto, não posso ser responsabilizado por isso, afinal, não tive escolha no meu próprio nascimento. Não é como se alguém pudesse optar por nascer com as circunstâncias que me foram impostas. Simplesmente, vim ao mundo.

Mas o ponto de virada ocorreu quando Sadigam, meu próprio irmão, tomou a decisão de me enviar para o abismo do inferno. Ele possuía inúmeras alternativas, muitos caminhos diferentes a seguir, mas optou por condenar seu próprio sangue a esse destino sombrio. Foi um golpe avassalador para mim, uma traição indelével que marcou minha alma.

Agora, movido por uma sede incontrolável de vingança, estou disposto a trilhar um novo caminho. Minha busca por retribuição começa com Lucy Siegfried e os Derkian's. Eles pagarão por suas ações e cumplicidades, pois não deixarei pedra sobre pedra até que minha vingança seja completa. O fogo ardente da ira arde em meu peito, impulsionando-me a buscar justiça, custe o que custar.

Embora minha sede de vingança seja inegável, sou obrigado a enfrentar uma dura realidade: minha impotência atual. Mesmo que esteja consumido pelo desejo de acertar contas, não possuo os poderes necessários para confrontar qualquer pessoa. A simples ideia de aparecer diante do meu exército sem meus dons é aterradora, não apenas porque me tornaria alvo de zombaria, mas também porque seria sentenciado à morte imediatamente. Eles anseiam por minha cabeça em uma bandeja de prata, tudo em busca de assumir o meu posto de liderança.

Compreendo plenamente que minha visita à casa de Lucy, em busca da menina celestial, foi uma escolha precipitada e perigosa. A questão que paira sobre mim agora é como eu teria conduzido essa tarefa mesmo que tivesse a encontrada. Sem meus poderes, eles certamente me alcançariam rapidamente, e a perspectiva de uma morte iminente não é algo que eu desejo. Em retrospecto, foi indubitavelmente uma ideia desastrosa.

Agora, finalmente, lembrei-me do que é mais precioso para mim: o local do meu esconderijo do passado. Deixei alguns celestiais lá, e a esperança é que estejam seguros e bem. Não consigo recordar com exatidão quantos restaram, talvez dois ou três, mas tenho certeza de que entre eles está uma celestial poderosa: Jannie Scott.

Havia algo estranho que me impedia de recordar a localização desse refúgio. Talvez o esforço de usar todos os meus poderes para escapar do inferno tenha deixado um pequeno vazio em minha mente. No entanto, recentemente, tive a sorte de encontrar um antigo pedaço de papel em que detalhei o local. Agora, meu único objetivo é chegar lá o mais rapidamente possível, na esperança de recuperar o que perdi e, talvez, encontrar a chave para a minha redenção.

Tenho plena consciência de que meus celestiais devem estar sofrendo com sede e fome após tantos anos sem se alimentar. A natureza dessas criaturas é notável, pois conseguem sobreviver por um período de até 20 anos sem a necessidade de comida ou água. Claro que, com o passar do tempo, a condição deles vai piorando, mas, em última instância, qual é o real problema nisso?

Sorrio satisfeito ao avistar os cinco corpos deitados no chão da cela, consciente de que essa cena jamais seria mostrada a alguém. Ela é "forte" demais para os padrões convencionais de exposição. Decido agir, batendo com determinação nas grades que nos separam, fazendo com que os prisioneiros levantem suas cabeças e me olhem.

— Olá, meus queridos, sentiram saudades? — Pergunto, provocando-os com um sorriso debochado que abrange a todos. No entanto, minha tentativa de resgatar um senso de controle sobre a situação é interrompida quando percebo que um dos corpos não se move. Algo não está certo. — Acordem-no agora — Ordeno, apontando com firmeza para o corpo inerte no canto da cela. Mas então, a voz de Jannie soa, fraca e carregada de sombras.

— Ele está morto. — Suas palavras penetram no ar, anunciando a verdade sombria.

— Que pena — Deixo um sorriso escarnecedor adornar meu rosto enquanto mantenho meu olhar fixo neles — Imagino que seja uma experiência triste permanecer ao lado de um amigo já falecido — Deixo um toque de deboche transparecer em minhas palavras, consciente de que estou mexendo com seus ânimos.

Sem demora, decido agir. Abro a cela e, com um gesto brusco, puxo o corpo mais próximo que encontro, uma mulher de beleza notável. Seu corpo treme sob o meu toque, seus lábios apresentam um tom roxo sinistro, e sua pele está incrivelmente pálida. Observo com satisfação que ela não tem forças para resistir. As coisas parecem estar se tornando mais simples do que eu havia previsto, e um sorriso sutil se forma em meus lábios enquanto a encaro.

(...)

Com uma indiferença fria, lanço um prato cheio de arroz e uma enorme tigela de água dentro da cela, agora vazia após a remoção do corpo do celestial falecido. Meus olhos fixam-se nas duas únicas figuras que permanecem, as últimas testemunhas de minha presença.

— Isso é apenas para mantê-las vivas — Minha voz ressoa enquanto encaro as sobreviventes com frieza — Vocês ainda têm utilidade para mim. — Deixo as palavras pairarem no ar enquanto minha expressão revela um indício de sorriso, obscurecido por minha indiferença.

Antes de partir do meu esconderijo, uma voz rouca corta o silêncio, emanando determinação.

— Eu preferiria morrer de fome a ser útil para você — Jannie pronuncia com firmeza, suas palavras ecoando pelo ambiente.

Permaneço imperturbável, respondendo com uma calma calculada.

— Não me importo com suas preferências. Além disso, sua filha deve possuir um grande poder, não é mesmo? — Solto um comentário enigmático antes de me afastar do local, deixando para trás a cela e suas ocupantes.

Caminho pelas ruas, sentindo a magia fluir livremente através das minhas veias. Não há pressa em meu passo, pois sei que em breve alcançarei todos os meus objetivos. Nada poderá me deter. Eu estou determinado a me tornar, de uma vez por todas, a força mais poderosa a caminhar sobre a face da Terra.

Adotada por VampirosOnde histórias criam vida. Descubra agora